Do Diario de PE

Correligionários do presidente Jair Bolsonaro no Congresso admitem que o cisma dentro do Partido Social Liberal (PSL) é irreversível. Lideranças da sigla na Câmara já articulam a desfiliação de alguns deputados que fizeram coro às reclamações de Bolsonaro contra o partido, ameaçando-os de expulsão se a saída não for amigável. O desgaste se agravou desde que o do chefe do Executivo recomendou, há uma semana, que um apoiador “esquecesse” a legenda, indicando que ele próprio pode tomar a decisão de sair da agremiação.

Nesta segunda-feira (14), o porta-voz da Presidência, Otávio Rêgo Barros, disse que, no entender do presidente, “qualquer casamento é passível de divórcio”. “Eventualmente, chega-se à situação de que é preciso que haja divórcio. Mas ele não qualificou que este momento, ou que este casamento, vai gerar divórcio. Ao menos neste momento”, afirmou.

Bolsonaro completa, nesta terça-feira (15), 19 meses e sete dias de filiação ao partido que abriu as portas para ele e os filhos nas eleições de 2018— e permitiu até que o clã comandasse a legenda. Nos bastidores, o presidente busca uma saída jurídica para justificar o desligamento do PSL. Na semana passada, ao lado de 21 parlamentares — entre eles o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) e o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) — assinou documento cobrando prestação de contas e auditoria externa das finanças do partido. Dessa forma, tanto o presidente quanto parlamentares poderiam usar eventuais irregularidades para solicitar desfiliação da sigla por justa causa, sem que haja perda de mandato.

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Nos últimos dias, enfraquecido pelas declarações do chefe do Executivo, o deputado Luciano Bivar (PSL-PE), presidente do partido, recorreu a congressistas para defender a sigla. Estão ao seu lado, por exemplo, os deputados Júnior Bozzella (PSL-SP) e Felipe Francischini (PSL-PR), além do vice-presidente do partido, Antônio Rueda.

Equívoco

Bozzella, que surgiu como um “porta-voz informal” da legenda na Câmara, afirmou ao Correio que a crise não foi criada pelo grupo que se mantém fiel ao PSL. “Foi uma minoria, talvez um grupo de advogados que influenciaram parlamentares e induziram o presidente ao equívoco que tomou essas proporções. Nós entendemos que o Bivar foi honesto, abriu as portas e entregou para o grupo Bolsonaro o controle político, jurídico e financeiro do partido. O problema de mau uso do dinheiro não está dentro do PSL. Se houve algum erro, foi pontual, como o dos laranjas. Não houve conluio para usar recursos”, defendeu.
O parlamentar disse, ainda, que quer saber por que os deputados que ameaçam deixar o partido com o presidente não questionam a situação do ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, presidente do diretório mineiro do PSL, suspeito de desviar fundos com o uso de candidaturas laranjas. “Eles poderiam iniciar o debate pedindo transparência, solicitando investigação nas contas do ministro. Não vejo essa coerência. Querem criar uma narrativa? Ok. Vamos ser objetivos. Saiam do partido e deixem o fundo partidário”, desafiou.

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Em meio às discussões sobre o futuro do PSL, Bolsonaro voltou a receber, nesta segunda-feira (14), a advogada Karina Kufa e o ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Admar Gonzaga, que também é consultor informal do presidente. Segundo fontes, na conversa, Bolsonaro declarou que vai esperar ter acesso à prestação de contas para dar um ultimato ao partido. A princípio, ele fica no PSL.

O presidente também recebeu interlocutores do governo na Câmara. Os encontros serão cada vez mais constantes durante a semana. Líder do partido na Casa, o deputado Major Vitor Hugo (PSL-GO) disse que “o PSL teria muito provavelmente acabado se não tivesse dado a legenda para o presidente”. Ele defendeu que a sigla se una para encontrar uma solução e não vire as costas a Bolsonaro. “O mais importante para quem está desse lado é a manutenção do vínculo e da lealdade com o presidente. Vamos ter que fazer nosso cálculo político para saber a melhor maneira de sair sem colocar os mandatos individuais em risco”, analisou.

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O também pesselista Bibo Nunes (RS) desafia o partido. “Disseram que vão me expulsar. Pra mim, é uma grande honra. O PSL é o contrário do que imaginávamos. Não tem transparência. Estou há três meses brigando com o partido. Já me tiraram de comissões e dos grupos de Whatsapp. Não tem mais volta. Eu lamento a separação”, disparou.