Publicado às 1040 desta sexta-feira (31)
Serra Talhada registrou, só nas últimas semanas, dois suicídios ocorridos nos bairros Caxixola e, o mais recente, nesta quinta (30), no bairro Bom Jesus.
Diante os casos, o Farol buscou, junto ao setor de estatísticas da Polícia Civil, saber um pouco mais dos números destas ocorrências na cidade e encontrou um quadro preocupante.
Apenas nestes cinco primeiros meses do ano, o município já registrou três casos de suicídios por enforcamento e um por ingestão de veneno, somando quatro no total. Ainda em 2019, a delegacia registrou uma tentativa contra a própria vida, com a pessoa tentando cortar os pulsos.
Além da Caxixola e Bom Jesus, as ocorrências foram no São Cristóvão e no trecho do km 411, próximo às obras do Atacadão. Os dados de 2019 chamam a atenção no comparativo com o ano passado.
Em 2018, Serra Talhada havia contabilizado somente uma ocorrência de suicídio e uma tentativa. Para compreendermos mais sobre este fenômeno, entrevistamos a psicóloga clínica Clélia Carvalho.
A profissional lembra que as ligações de prevenção ao suicídio são feitas através do número 188, que passaram a ser gratuitas para todo o Brasil, após assinatura de um convênio com o Ministério da Saúde. Clélia Carvalho possui larga experiência na área e atende no Villa Saúde, no bairro AABB.
Contato: 3831-2483.
ENTREVISTA PSICÓLOGA CLÍNICA, CLÉLIA CARVALHO
FAROL – Como a senhora, enquanto profissional da psicologia analisa esse cenário? O que pode ter levado a esse aumento de casos de suicídio na cidade?
Psicóloga Clélia Carvalho – De acordo com a organização mundial de saúde o suicídio é um grave problema de saúde pública. É um fenômeno que ocorre no mundo todo. Sendo a segunda causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos. Nos últimos anos houve um aumento na taxa de suicídio, principalmente entre os jovens.
Os modos de vida contemporâneos centrados nas distrações digitais, no individualismo e na competitividade estão produzindo sujeitos cada dia mais solitários, o que provoca adoecimento. O suicídio está diretamente ligado ao sofrimento psicológico e a transtornos mentais.
Existe ainda muito preconceito associado aos transtornos psiquiátricos fazendo com que a demonstração de sofrimento psicológico seja considerada um sinal de fraqueza. Com medo de sofrerem estigma muitos mantem em segredo seus pensamentos suicidas. O que prejudica a identificação de pacientes em risco e o estabelecimento de intervenções adequadas.
FAROL – Quais as razões ou sintomas mais frequentes entre pessoas que pensam/cometem suicídio?
Psicóloga Clélia Carvalho – Não há uma única causa para o suicídio. O suicídio é a consequência final de um sofrimento extremo, é um ato de desespero de uma pessoa que não conseguiu dar vazão a esse sofrimento. Existem aspectos psicológicos, biológicos e sociais que conferem vulnerabilidade a um determinado indivíduo. Esta vulnerabilidade se tornaria ativa a partir da ação de estressores como:
Desemprego, baixo nível socioeconômico, término de relacionamentos amorosos (incluindo divórcio); perda de emprego e outras mudanças financeiras bruscas; problemas legais; conflitos familiares agudos; rejeição afetiva/social; experimentar sentimentos como vergonha e medo por atos socialmente reprováveis; morte de um ente querido/de uma pessoa próxima; ter ideação suicida ou se engajado em comportamentos de automutilação (mesmo sem intencionalidade); ter algum transtorno mental (principalmente transtornos de humor e transtorno por abuso de substância, etc); ter histórico de suicídios na família; ter doenças crônicas; altos níveis de desesperança, impulsividade, agressividade, irritabilidade, hostilidade, ansiedade e, baixa extroversão.
FAROL – Como pais, responsáveis e/ou familiares podem detectar e como procurar ajuda para pessoas com indicativos de tendência ao suicídio?
Psicóloga Clélia Carvalho – Entre os sinais de alerta, podem estar: falar sobre querer morrer ou se matar; procurar por formas de se matar; falar sobre falta de propósitos ou motivos para viver; falar sobre dores emocionais insuportáveis; aumentar o uso de álcool e outras drogas; agir de forma diferente com ansiedade, agitação ou negligência; mudar o padrão de sono para mais ou para menos; isolar-se ou sentir-se só; achar que é um fardo para outras pessoas; apresentar mudanças bruscas de humor; mostrar-se com raiva ou falar que busca vingança contra alguém.
Ao perceber esses sinais é importante encaminhar para uma avaliação mais detalhada com profissionais especializados como psiquiatras e psicólogos. Grupos de ajuda e assistência como o Centro de Valorização da Vida, que atende pessoas com depressão e tendência suicida podem ajudar. As ligações de prevenção ao suicídio são feitas através do número 188, que passaram a ser gratuitas para todo o Brasil desde 1º de julho, após assinatura de um convênio com o Ministério da Saúde.
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