Por Roberto Assunção Junqueira, faroleiro antenado na saúde

Publicado às 05h18 desta sexta-feira (31)

As opiniões expressas nesse texto são de responsabilidade exclusivas do autor.

Olá Farol,

Não é de hoje que acompanho o seu belíssimo trabalho jornalistico em Serra Talhada e região. Assim, primeiramente, quero lhe agradecer pelos serviços prestados ao povo serra-talhadense, não é fácil encontrar portais sérios que sempre levam ao leitor as melhores pautas do momento.

Segundo, quero contar com a veia cidadã do Farol de Notícias e, principalmente, com a sua (Giovanni Sá), para que possam através do Farol de Notícias, divulgar um texto de minha autoria sobre a saúde pública em Serra Talhada.

O artigo 196 da nossa Constituição Federal é claro, como a luz do sol, no que tange à universalidade do direito à saúde, bem como à obrigação do Estado em concedê-lo, vejamos: “a saúde é direito de todos e dever do Estado, garantindo mediante políticas sociais (…)”.

Voltando ao início deste texto, só assim (de “circo”) é que podemos denominar a situação atual da saúde brasileira e, no nosso cantinho, aqui na nossa Serra Talhada, não é diferente. Infelizmente, não temos o privilégio de nos abster de sermos palhaços diante da plateia do poder público.

O problema da saúde pública no Brasil é conhecido por todos e não é recente, porém, talvez muitos não conheçam a face podre da saúde que tentarei apresentar aqui. Algo que venho observando há tempos e que só agora venho escancarar através desse portal.

Clínica Privada

Na última semana, estive em uma clínica privada para uma consulta médica. Chegando ao local, deparei-me com uma quantidade infindável de pacientes a serem atendidos por um único médico; e esse não foi o maior dos problemas, antes fosse.

A grande quantidade de pacientes era, em sua maioria, formada por usuários do nosso Sistema Único de Saúde (SUS), o que, à primeira vista, parecia algo digno de aplausos. Quero dizer, que bom, que louvável, uma clínica particular fazendo atendimento de tantas pessoas pelo SUS, isso é digno de aplausos ao governo local e suas parcerias. Entretanto, observem o que se segue.

Muitos reclamam da demora para serem atendidos em algum consultório médico, outros, da falta de médicos para atender (isso é, no setor público); todas essas são reclamações legítimas. Todavia, o que mais me chamou atenção foi a velocidade com a qual o médico atendia os pacientes. Isso parece bom, não é mesmo? Mas calma. Um por um, os pacientes iam entrando e saindo da sala do médico em um tempo tão curto que chegou a ser assombroso, contei 3 minutos em um atendimento. Nos meus cálculos, a média de tempo de atendimento não ultrapassou os 5 minutos por consulta. Não é um absurdo? Para mim, sim.

Como leigo, penso que em tão pouco tempo de atendimento (cinco minutos), eleva-se a chance de um diagnóstico errado, mesmo ante um médico de competência acentuada, principalmente quando o profissional médico sequer faz um exame físico (palpação).

De acordo com o portal Drauzio Varella, em artigo publicado no dia 30 de janeiro deste ano, o médico interage com o paciente de três modos: na inspeção, na palpação e na percussão (ou no ver, no sentir e no escutar). É salutar, meus leitores, que, em cinco minutos, ou o médico deixa de fazer algum dessas condutas ou as faz de qualquer maneira, aumentando o risco de um falso diagnóstico.

Essa realidade vivenciada por mim há alguns dias não é exclusiva daquela clínica em que fui atendido, pelo contrário, é uma prática conhecida em várias clínicas, não só em Serra Talhada, mas no país inteiro.

Depois de exposto o problema, vamos às possíveis causas: péssima remuneração paga pelos entes públicos aos médicos para que possam atender em suas clínicas pacientes do SUS; falta de ética, compromisso com a sociedade e senso humanitário por parte de alguns médicos; falta de controle e supervisão por parte da administração pública e por último a sensação por parte da administração pública e/ou dos médicos de estarem fazendo o melhor para sociedade por estar atendendo a um maior número de pessoas, mesmo com uma qualidade questionável.

Independentemente do motivo que gera esse atendimento medíocre por parte de muitos médicos, penso que o principal responsável por mais essa mazela da saúde pública, não bastassem todas aquelas que já conhecemos, é o poder público, que mais uma vez falha ao tentar proporcionar aos cidadãos uma saúde de qualidade tal qual à pregada pela constituição como dever do Estado.

Estamos de Olho

Assim, relato esse cenário não para expor ou denegrir alguém ou alguma instituição, mas para alertá-los de que estamos de olho. Não há mais espaço para médicos tentarem fazer “mágica” em atendimentos tão rápidos e ineficazes e nós não ficarmos indignados, pois nesse picadeiro do “Circo Saúde Para Todos”, nós, os contribuintes, já nos cansamos de ser os “palhaços” da vez.

Por isso, peço uma reflexão a todos, principalmente aos médicos e as autoridades competentes para modificar essa realidade, aos quais também peço ação e senso de responsabilidade para tratar desse problema na nossa cidade. Acredito que é possível. Acredito na sensibilidade das pessoas que possam fazer algo quanto a isso.

Deixo meu apelo aqui, pois como disse John F. Kennedy, “se você agir sempre com dignidade, talvez não consiga mudar o mundo, mas será um canalha a menos”.
Para saber mais sobre como deve ser uma consulta médica, leiam o artigo de Drauzio Varella através do link abaixo:

https://drauziovarella.uol.com.br/clinica-geral/como-deve-ser-uma –

consulta-medica/.