De O Globo

Dois ataques em massa que deixaram 29 mortos no Texas e em Ohio em menos de 13 horas ressoaram na arena política americana, com exigências dos democratas por leis de armas mais rigorosas e acusações contra o presidente Donald Trump de alimentar tensões raciais.

O suspeito do ataque em um Wallmart na cidade fronteiriça de El Paso, identificado como Patrick Crusius, 21 anos, escreveu um manifesto de ódio contra imigrantes, compartilhado em um fórum on-line apenas 20 minutos antes do primeiro ataque, a poucos quilômetros da fronteira dos EUA com o México. Ele foi indiciado por homicídio qualificado, o que pode ser punido com pena de morte.

O FBI está investigando o caso como um possível crime de ódio e ato de terrorismo doméstico. Dos 20 mortos em El Paso, sete eram mexicanos.

O ataque a tiros em Ohio foi o 32º somente neste ano nos EUA e surpreendeu uma população ainda chocada com o crime do dia anterior. Ele ocorreu em Dayton, Ohio, onde nove pessoas morreram e outras 27 ficaram feridas depois que um homem armado começou a atirar, por volta das 2h de ontem, numa área que concentra bares e restaurantes. De acordo com a prefeitura, o autor dos disparos, Connor Betts, de 24 anos, foi morto pela polícia “em um minuto” após o alarme. Sua irmã, Megan Betts, de 22, está entre os mortos, e a polícia investiga se ela seria a motivação do crime.

Se o caso de Ohio ajudou a reacender o debate sobre o controle de armas, o do Texas, o mais letal do ano, com 20 mortes, entrou mais fundo no debate político. No fim de semana, vários pré-candidatos democratas estabeleceram conexões entre o tiroteio e o ressurgimento do nacionalismo branco e da política xenofóbica nos Estados Unidos. Nas últimas semanas, Trump vem sendo acusado de racismo após ataques a membros do Congresso que são de minorias raciais ou étnicas.

— Os Estados Unidos estão sob ataque do terrorismo nacionalista branco — disse o prefeito Pete Buttigieg, de South Bend, Indiana em evento em Las Vegas.

‘Terrorismo branco’

Rod Rosenstein, ex-vice-procurador-geral, escreveu no Twitter que “matar civis aleatórios para espalhar uma mensagem política é terrorismo”: “O FBI classifica como terrorismo doméstico, mas ‘terrorismo branco’ é mais preciso”.

Trump, por sua vez, não rebateu as críticas e ordenou que as bandeiras no país ficassem a meio mastro por cinco dias. Em declarações à imprensa, o presidente disse que “não há lugar para o ódio no país”, mas atribuiu os crimes a problemas mentais. No Twitter, mais cedo, o presidente afirmou que as autoridades estaduais e locais estavam trabalhando para investigar os dois ataques.

— Temos que fazer com que isso pare. Isso está acontecendo há anos em nosso país — disse Trump em Nova Jersey.

Mas, nas redes sociais, começou a circular um discurso do presidente de maio deste ano, em que ele chama os imigrantes que chegam ao país em caravanas da América Central de invasores. Alguém na multidão grita: “atire neles”. O presidente e a plateia riem.

atirador de El Paso vivia em Allen, a cerca de 1.046 quilômetros do local do crime, e dirigiu por dez horas para chegar ao centro comercial. Com quatro páginas e 2.300 palavras, o manifesto publicado no 8chan — um fórum de mensagens repleto de conteúdos preconceituosos — apresenta visões nacionalistas e racistas, alegando que existe uma “invasão hispânica no Texas”. O texto acusa imigrantes e americanos de primeira geração de tirar empregos e misturar culturas nos EUA.

México estuda extradição

Uma das marcas da Presidência de Trump foi sua determinação em conter a imigração ilegal. Por isso, o ataque em El Paso também aumenta as tensões em uma cidade predominantemente latina que já enfrentava as frequentes batidas do governo. Após a confirmação da nacionalidade de sete vítimas mexicanas, o presidente Andrés Manuel López Obrador disse que os problemas sociais não devem ser enfrentados com “uso da força e incitamento ao ódio”.

— Temos que procurar resolver nossos problemas com fraternidade — afirmou em um evento público no estado de Michoacán.

Seu chanceler, Marcelo Ebrard, foi mais enfático e disse que o Méxicotomará medidas judiciais “imediatas, rápidas e contundentes” para “exigir a proteção de seus cidadãos nos EUA”. O país estuda indiciar o atirador por terrorismo e pedir sua extradição.