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Por Ronnie Edson, consumidor consciente dos seus direitos

“Olá, FAROL

Esse é um relato de uma experiência com o descaso de uma empresa de ônibus que detém o monopólio da maioria das viagens realizadas do Recife para as cidades do sertão. Ontem (21/04) um ônibus da empresa Progresso que faz a linha Triunfo-Recife (passando por Flores, Carnaíba, Afogados, Sertânia, Arcoverde e Caruaru) deveria ter saído de Triunfo ás 21 horas (horário oficial de partida diariamente) e logo em seguida deveriam sair mais dois veículos extras (21:10 e 21:20h) por conta da demanda de passageiros do feriado.

Ao chegar no ponto de partida, o ônibus que faria a linha diária oficial apareceu em péssimas e visíveis condições de higiene e manutenção, enquanto os dois ônibus extras eram veículos aparentemente mais cuidados. O ônibus das 21 horas, mesmo com sérias e visíveis condições saiu 40 minutos atrasado e alguns minutos após a partida, na conhecida e perigosa “Estrada do Brocotó”, o pneu deste ônibus estourou. Isso mesmo, não furou, estourou! E confirmou o que foi visualizado pelos passageiros no momento em que o ônibus estacionou no ponto.

Ao fim da descida, os motoristas dos três ônibus se reuniram e deram aos passageiros duas alternativas:

a) Iríamos todos os passageiros do ônibus das 21 horas, distribuídos em pé nos outros dois ônibus até a cidade de Arcoverde, inclusive crianças, idosos e gestantes, enquanto o veículo com o pneu estourado iria com velocidade reduzida até a cidade para realizar os consertos, ou;

b) Ficaríamos no meio da estrada esperando reboque, que segundo o motorista só chegaria por volta das 5 da manhã.

Houve um pequeno tumulto entre os passageiros e os motoristas, na qual uma passageira chegou a ser chamada de “palhaça” por um motorista dos ônibus extras. Nenhuma das opções dadas pelos motoristas foi considerada. Todos os passageiros voltaram a embarcar no ônibus com o pneu estourado, todos sentados na parte da frente para diminuir o peso na parte de trás do veículo e seguiram até Flores, a próxima cidade do percurso.

Chegando em Flores, o motorista entrou em contato com o ponto de apoio da empresa mais próximo da região, que fica em Arcoverde (130 km do local) para pedir que um outro veículo substituísse o danificado. Porém a resposta que o motorista recebeu do responsável pela empresa Progresso no ponto de apoio foi: “Troque você mesmo o pneu”.

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O motorista não tinha ordem de chamar um mecânico para que a empresa pagasse o conserto posteriormente e tentou ele mesmo realizar a troca, no entanto nenhum dos três ônibus estava equipado com as ferramentas necessárias para a realização da tarefa.

Depois de mais um pequeno tumulto e de muitos apelos para que um novo ônibus viesse ou de Arcoverde ou de Serra Talhada para socorrer os passageiros, o dono do ponto de venda de passagens em Flores conseguiu contato com outro responsável pelo ponto de apoio em Arcoverde e este deu a ordem para que o motorista seguisse em frente para Carnaíba (próxima cidade do percurso), aonde haveria um mecânico esperando. Este trajeto foi realizado mais uma vez colocando os passageiros em risco (somados agora mais 10 pessoas que embarcaram em Flores).

Em Carnaíba com o percurso do ônibus já atrasado em duas horas, o responsável pelo ponto de apoio da empresa Progresso em Arcoverde (chamado pelo motorista de coordenador) e o responsável pelo ponto de venda de passagens de Carnaíba procuraram pela cidade por um mecânico que pudesse realizar a troca. Enquanto isso os passageiros esperavam dentro do ônibus ou no meio da rua por uma resposta para o problema, pois nesse momento, soubemos que caso um mecânico não fosse encontrado a viagem seria simplesmente cancelada naquele ponto.

É importante ressaltar que naquele momento, já após a meia noite, alguns passageiros estavam a mais de 50 km de casa e com diversos compromissos agendados no Recife, para terem a viagem cancelada por falta de um ônibus de apoio que viesse substituir o quebrado. Por muita sorte, o tal coordenador encontrou alguém que realizasse a troca do pneu, segundo alguns relatos, não um mecânico, mas um caminhoneiro que estava passando a noite na cidade de Carnaíba.

Já após quatro horas de atraso, o ônibus conseguiu seguir para Afogados da Ingazeira, aonde embarcaram os últimos passageiros que lotaram o veículo. Aproximadamente as 4 da manhã, quando deveria estar chegando na Praça do Derby no Recife, o ônibus chegou em Arcoverde. Ou seja, metade do caminho ainda teria de ser percorrido e passageiros que tinham viagens marcadas para as sete da manhã, aula ou trabalho no mesmo horário neste dia 22 já tinham perdido a esperança de chegar na Capital a tempo.

APÓS ESTOURO DE PNEU, QUEBRA O AR-CONDICIONADO

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Alguns quilômetros adiante, mais um equipamento do ônibus deixou de funcionar, o ar-condicionado, mostrando mais ainda a precariedade do veículo disponibilizado pela empresa para o transporte de passageiros. A situação da viagem foi agravada ao se deparar com um congestionamento de mais de 5 quilômetros na BR 232, na entrada do Recife.

Todos os passageiros foram obrigados a permanecer dentro do ônibus por mais de duas horas sem janelas, ar-condicionado ou qualquer sistema de ventilação, pois segundo o motorista, pelas normas da empresa, mesmo estando parado não é permitido abrir a porta do veículo. Com o ônibus totalmente parado, sem nenhum sinal de que a viagem seguiria em frente e com algumas pessoas começando a passar mal, os passageiros ameaçaram abrir as saídas de emergência do ônibus e somente assim o motorista liberou a porta para que as pessoas saíssem para respirar e comprar água e comida em um posto de gasolina próximo.

Por volta de meio dia (15 horas depois de terem iniciado a viagem) é que o ônibus que deveria ter chegado no Terminal Integrado de Passageiros do Recife ás 5 da manhã, chegou com os 40 passageiros em um estado lastimável de cansado e descaso. Alguns passageiros seguiram para fazer reclamações aos responsáveis pelo guichê da Viação Progresso na rodoviária. Entretanto, os funcionários não deram nenhum tipo de informação sobre a compensação das perdas materiais e a própria situação a que esses passageiros foram expostos durante esta viagem, restando apenas a opção de buscar por meios legais os seus direitos de consumidores do serviço prestado pela empresa.

Por fim, em meio a uma situação como essa, cabe um questionamento: Até quando os governantes das cidades do sertão irão permitir que a sua população seja exposta a esse tipo de situação, uma vez que as cidades não possuem rodoviárias que possam abrigar outras empresas que forneçam melhores serviços e horários para realizar as viagens? E, além disso, até quando a empresa Viação Progresso ficará impune desses e outros tipos de abusos cometidos contra a população do sertão que utiliza esse serviço?”