Do Diario de PE

“As ações na comunidade de Paraisópolis e em outras comunidades de São Paulo, seja por obediência da lei do silêncio, por busca e apreensão de drogas ou fruto de roubos, vão continuar. A existência de um fato não inibirá as ações de segurança. Não inibe a ação, mas exige apuração”, afirmou Doria em entrevista à imprensa nesta segunda (2).

Doria diz que pretende criar “opções de lazer saudáveis para jovens” nas periferias e que o episódio não pode ser classificado como letalidade policial.

O tumulto na favela da zona sul da capital no domingo (1º) aconteceu em evento com mais de 5.000 pessoas. Imagens e relatos indicam que a multidão acabou encurralada pela polícia em vielas estreitas –alguns tropeçaram e acabaram mortos. As vítimas tinham entre 14 e 23 anos.

Já a Polícia Militar afirma que três soldados faziam patrulhamento perto do baile quando foram alvo de disparos de suspeitos em uma moto, que, seguidos pelos agentes, fugiram, atirando, em direção ao evento. Esse teria sido o gatilho para o início da correria, segundo a corporação.

Ao contrário de Doria, o comandante da PM, coronel Marcelo Vieira Salles, admite que procedimentos podem ser revistos. “Vamos reavaliar? Lógico que vamos. Quando há um problema grave como esse, temos que rever algumas coisas.”

Já o secretário da Segurança Pública, general João Camilo Campos, defende a atuação da PM e fala em achar outros possíveis culpados, como os organizadores do evento. “Os policiais foram profissionais. Se um deles tivesse disparado contra a população, teria sido um fato muito mais trágico”, afirmou. “Vamos buscar quem eram os motociclistas, quem eram os organizadores do evento, quem é que está pagando este evento.”

Segundo o governo, entre sexta e domingo, cerca de 25% das ocorrências recebidas pela polícia são de perturbação do sossego. Só da região de Paraisópolis foram 40 chamadas naquela madrugada.

Desde o começo da gestão do tucano, a polícia tem fechado o cerco a bailes na periferia e a Operação Pancadão tem sido realizada periodicamente. Segundo o Coronel Vanderlei Ramos, que comanda a PM na capital, são mapeados 250 pontos na cidade nos finais de semana.

“Onde é possível nós ocupamos antes e damos sossego à comunidade. É uma demanda daqueles que não aguentam mais a perturbação. Mas jamais fazer uma dispersão dessa natureza”, disse Ramos.

O governador afirmou que apresentará um projeto da secretaria de Cultura para oferecer opções de lazer saudáveis a jovens de Paraisópolis e outras favelas. “Para que não tenham dependência da promoção de bailes funk, promovidos não se sabe por quem, e que muitas vezes geram circunstâncias como essas”, disse Doria.

Deputados de oposição se movimentam para criar uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar as mortes em Paraisópolis.

A Bancada Ativista, do PSOL, fez requerimento da CPI para apurar o assunto. Para os membros do mandato coletivo, as ações policiais contra pancadões são criminalização do funk e da pobreza.

“O que aconteceu foi uma tragédia, mostra o despreparo da polícia para lidar com o assunto”, diz Erika Hilton. Ela afirma que o programa de Doria contra os pancadões não se trata de combater o barulho, mas sim um ataque à cultura de jovens negros da periferia.

O pedido de CPI será assinado pela deputada Mônica Seixas, que, oficialmente, responde pela Bancada Ativista na Assembleia. No total, a bancada tem oito membros. Para que o pedido seja aprovado, são necessários 32 votos.

Parlamentares do PSOL e do PT tinham reunião com o procurador-geral de Justiça, Gianpaolo Poggio Smanio marcada para tratar do assunto. O PT também enviou ofício a integrantes do governo Doria, cobrando que as investigações sejam acompanhadas por entidades da sociedade civil.