DSC_0087A diretora Karla Milena presta esclarecimentos dando a versão do hospital sobre o caso

O FAROL conversou com a diretora do Hospam, Karla Milena, nesta sexta-feira (26), sobre uma denúncia e queixa na Delegacia de Polícia Civil de Serra Talhada responsabilizando profissionais e o hospital por negligência médica. Fato que teria contribuído para ocasionar a morte de um bebê (veja matéria).

No boletim de ocorrência, a mãe que perdeu o filho após o parto, Dayane Oliveira, 18 anos, cita o nome do médico plantonista, dr. Lourival, como um dos envolvidos na questão. No entanto, de acordo com Karla Milena, o médico deixou claro que não queria ser entrevistado pelo FAROL, ficando a cargo da diretora da unidade médica falar por ele e pela instituição.

Dayane prestou queixa na Delegacia de Serra Talhada na tarde dessa quinta-feira (25). Em conversa com o FAROL, a Polícia Civil revelou que um inquérito investigativo foi aberto para apurar a responsabilidade do caso em que um parto teria ocorrido sem nenhum acompanhamento médico. Confira a versão do Hospam.

FAROL: Karla Milena, o Farol gostaria de saber o que o Hospam tem a dizer sobre o caso de suposta negligência no parto de Dayane Oliveira?

 Dr. Karla Milena: Nós tomamos conhecimento do caso, na quarta-feira à noite, por volta das 19h, que amigos da família entraram em contato para saber o que estava sendo feito aqui no hospital com a Dayane. E aí entramos em contato com a equipe de enfermagem de plantão e soubemos que ela seguia internada, sendo medicada pelo obstetra do plantão. Para a nossa surpresa, ontem pela manhã, no decorrer do dia fomos informados que estava circulando nas redes sociais o falecimento do bebê. Então, entramos em contato com a equipe do plantão e orientamos os procedimentos cabíveis, que foi encaminhar o corpo do RN (recém-nascido) para o IML, através do delegado, da Delegacia de Polícia Civil. A gente solicitou que o corpo fosse encaminhado, porque com uma perícia do IML a gente vai ter a conclusão do que de fato aconteceu.

Em relação à Dayane, hoje, a gente tomou conhecimento que há três dias ela vinha para cá (Hospam). Ela esteve aqui na segunda-feira, Dr. Vital a atendeu e orientou que ela procurasse o pré-natal, a unidade onde ela vinha fazendo o pré-natal. Na terça-feira, ela retornou, a médica Paulinéia encaminhou para a São Francisco e chegando lá nós soubemos que ela fez uma ultrassonografia com Dr. João Cosme e na quarta-feira ela retorna para cá. Daí, a médica clínica que a atendeu encaminhou novamente para a São Francisco, que é a nossa referência quando nós estamos sem obstetra.

No momento que ela chegou o obstetra não tinha chegado ainda no plantão. Era 7h10min. Ela foi encaminhada para o Hospital São Francisco, foi atendida pela Dr. Natália, que a transferiu de volta para cá, sugerindo a avaliação do obstetra e possível transferência. E aí, quando ela retornou, o obstetra já se encontrava no plantão, a atendeu e a conduta que ele tomou foi a de internação hospitalar. Ela foi internada, seguiu medicada. Não eram medicamentos para induzir o parto, medicamentos para conter infecção.

Porque, existia a história de infecção urinária, de perda de líquido amniótico. A própria paciente não referiu direito, todas as vezes que ela chegou aqui, como ela estava. No segundo dia, que ela foi atendida pela Dr. Paulinéia, ela referiu perda de líquido amniótica há três dias e para o médico da quarta-feira ela referiu três horas. E aí, a conduta médica tomada pelo plantonista da quarta-feira, Dr. Lourival, foi o internamento e seguir medicada, não foi feita indução departo, foi feita medicação antibiótico-terapia e medicação para amadurecer o pulmão da criança.

Ela seguiu internada na unidade, foi reavaliada às 18 horas, pelo mesmo obstetra. Infelizmente, ela pariu a meia noite, o bebê nasceu com vida e infelizmente não resistiu. A gente se solidariza com a família, com a Dayane. E é muito triste você estar grávida de um filhinho, parir e descobrir horas depois que o filho não resistiu, não sobreviveu.

Agora, só nos resta esperar o resultado que vai vir do IML sobre, o que realmente, de fato aconteceu com o RN de Dayane e estamos à disposição dos órgãos para o que se fizer necessário. A equipe do Mãe Coruja já esteve aqui no hospital. Como foi um óbito de neonato será instaurada a investigação, o Comitê de óbito infantil da Secretaria Estadual de Saúde irá proceder à investigação a respeito desse óbito, e se tiver uma conclusão, será divulgado e se tomarão as medidas cabíveis ao fato.

Conversamos com o médico que estava de plantão na quarta, ele está hoje também. E ele está tranquilo, que a conduta dele foi médica. Realmente, é um ato médico e ele tomou a decisão que ele achou mais acertada no momento.

DSC_0090

FAROL: Segundo relatos da família, o quadro do hospital estava incompleto e o parto de Dayane aconteceu sem assistência do médico obstetra e sem pediatra ou enfermeiras… Não houve negligência nesse atendimento?

 K.M.: Dayane estava internada na enfermaria. A enfermaria não é o local de acontecer parto, mas aconteceu. E na enfermaria não é lugar de médico e equipe de enfermagem ficar de plantão. A equipe de enfermagem fica no posto de enfermagem e o médico fica dentro da unidade. Infelizmente, a coisa evoluiu de forma muito rápida e ela acabou parindo na cama.

Mas, não se pode dizer que houve uma negligência da equipe de enfermagem, do hospital e do médico, porque ela estava dentro do hospital, dentro da enfermaria, sendo acompanhada pela equipe da enfermaria, sendo medicada conforme a prescrição do médico. Ela tinha sido avaliada às 18 horas, infelizmente, aconteceu um desfecho que a gente não gostaria que tivesse acontecido, nem a direção, nem a equipe de funcionários, nem a família.

A gente é bastante solidário e sensível a dor dessa mãe, dessa família, mas a gente não pode ainda afirmar o que aconteceu, tanto sem o laudo do IML à respeito da causa morte da criança, quanto da investigação que será feita pelo Comitê de óbito infantil.

FAROL: Então a senhora não confirma que houve negligência?

K.M.: Ela foi atendida, ela foi internada, ela realizou exames, ficou sendo medicada, acompanhada pela equipe de enfermagem e pelo médico. Já tivemos contato e acesso ao prontuário e nós não podemos dizer que foi negligência do hospital e nem do profissional, porque ela estava internada. Ela foi internada por ele, ela realizou exames, ela foi medicada por ele, ficou sendo acompanhada pela equipe. Então, negligência é quando não tem o devido cuidado, não se toma a conduta correta e segundo ele seguiu a medica adequada para o caso dela.

FAROL: O Hospam vai abrir algum tipo de investigação interna para apurar detalhes do caso? E o médico pode ser punido ou mesmo demitido diante disso?

K.M.: O médico tem que ser julgado pelo Conselho de ética do órgão que ele é inscrito, o Conselho Regional de Medicina. E internamente, a gente vai aguardar a vinda do Comitê de óbito infantil apurar o caso e proceder à investigação. Após a conclusão é que se tomarão as providências cabíveis, porque, enquanto direção, funcionário e equipe não somos nós que julgamos a conduta de um médico. Eu sei que a população fica revoltada, fica chateada, fica querendo uma punição, mas quem pune é a justiça, é órgão de classe, entendeu? A unidade vai aguardar a conclusão da investigação do óbito, vai aguardar o laudo do IML para tomar as devidas providências.

DSC_0085

FAROL: Dr. Karla, como diretora e mãe, como a senhora percebe o fato relatado nas redes sociais e pela família, que a criança foi mostrada à família dentro de uma caixa de papelão?

 K.M.: Quem colocou numa caixa de papelão, eu acredito que tenham sido familiares. Relatos que nós já escutamos, até porque, quando acontece o óbito, todo ele vai para o necrotério. No necrotério, ele fica na bancada de granito aguardando a remoção, ou para a residência ou para ser velado, ou para uma casa de homenagens póstumas. Nesse caso, foi para o IML, e aí foi uma opção da família colocar na caixa, porque, habitualmente nós fazemos o envelopamento com lençóis, ou colocamos realmente em uma caixa, mas no caso de bebês, ela fica lacrada. É um procedimento padrão, lacrar ou envelopar esses corpos. Nós não sabemos quem violou a caixa, mas a família tirou fotos e colocou nas redes sociais, o que não é permitido segundo o Estatuto da Criança, essa exposição.

FAROL: Nós tivemos informações que o médico conhecia o quadro de Dayane, a senhora confirma que o caso dela era de risco, de encaminhamento urgente para uma UTI, até para o Recife? Será que não ouve irresponsabilidade em não ter dado crédito a essa informação?

 K.M.: A gente não pode dizer que a atitude do médico foi irresponsável, a gente pode dizer que a conduta do médico foi de optar pelo internamento da gestante. Nós já conversamos com o médico e ele nos fala que a recomendação, a conduta poderia ser essa, mas ele poderia optar pelo internamento e foi o que ele fez. Conduta médica não se critica, não se contesta. A conduta médica é uma conduta do médico, então, outro profissional que não seja médico não pode contestar a sua decisão, a sua conduta.

FAROL: O Dr. Lourival comentou se já tinha conhecimento do caso da gestante e da conduta de encaminhá-la para Recife?

 K.M.: Não, ele não comentou já ter conhecimento do caso dela e disse que a conduta que ele tomou é correta. Foi a correta, foi a mais acertada no momento.

FAROL: Nós gostaríamos de conversar com o médico, Dr Lourival, será que ele gostaria de dar alguma declaração?

K.M.: Ele me disse que está tranquilo, que tomou a conduta adequada e que está tranquilo, mas não quer gravar entrevista. Eu falei que vocês estariam aqui ele disse que prefere não dar nenhuma declaração.

DSC_0071