O drama dos agricultores serratalhadenses está cada vez pior. Em conversa com o FAROL DE NOTÍCIAS, muitos relataram que a situação agravou-se no campo por conta da falta não só da água, mas de comida. O rebanho de boa parte dos pequenos produtores já morreu de fome e sede. E as “cabeças de gado” que restaram acabaram sendo vendidas, como eles próprios citam: “a preço de nada” ou “praticamente de graça”. O FAROL visitou a assembleia geral dos agricultores, ocorrida na manhã dessa segunda-feira (5), na sede do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Serra Talhada, e colheu depoimentos emocionantes. Se falta de tudo, mas ainda existe voz, dizem eles, então a hora é de gritar. Confiram o Fala Povo desta semana:
“Água nem pra bicho eu tenho mais na minha terra. Estamos pegando um pouquinho que mina de um poço para botar pra eles (os bichos) em um coxo. Eu vejo o desespero do meu gado quando cai um pouco de água no chão, e eles brigam pra ver quem vai lamber a terra que ficou molhada. Já perdi seis cabeças de gado. O problema é que nem água para beber estamos tendo mais. Graças a uns carros-pipas que chegam uma vez por mês dá pra evitar o pior. Mas o problema maior é que estamos tentando cavar algums cacimbas por lá e esperando a água minar, aí quando ela mina coamos e bebemos. Isso mesmo, bebemos ela com lama. O ruim também é que ficamos esperando esses governos fazerem algo e é só conversa”.
ODAIR JOSÉ, 40 ANOS, AGRICULTOR EM SÃO JOÃO DOS GAIAS
“Minha situação é essa: tenho que andar, todos os dias, 6 km da minha casa até um pequeno barreiro que ainda existe por lá. Eu ando esse tanto acompanhado do meu gado, alguns bois, e levo eles pra esse lugar só para eles beberem água. Aí, os animais tomam alguma coisa que ainda existe e eu volto tangendo eles de volta para casa. O meu gado só bebe água uma vez por dia, depois que a situação piorou. Aí, eles chegam em casa e se deitam. Passam o dia assim. Pois não têm mais força de trabalhar. Minha esperança agora é esperar a chuva chegar pra vê se eles engordam. O meu plantio já se foi e só estamos vivendo com a ajuda do governo”.
“Essa história de que o milho vai chegar já não adianta mais pra mim, porque o meu gado boa parte já morreu sem ter o que comer. Eu vendi o restou a preço de nada, e o milho não chegou. Pra quê eu vou querer isso agora? Sabe quando você chega em um hotel e ‘diz eu quero um almoço’, aí respondem: ‘só amanhã’… Pois bem, é essa história do milho. O tempo que estávamos precisando disso era em junho, quando a seca começou braba mesmo. Já estamos em novembro. O gado já morreu, minha gente. Está havendo é muita conversa e pouca ação. Outra coisa são essas caixas d’águas que eles dizem que vão dar (governo do Estado). Pra quê agora? Se não temos água… É uma boa ação? É! Mais que deveria ser pra mais pra frente… no período das chuvas. Do mesmo jeito é querer vir fazer cacimba de última hora como o IPA anda fazendo…”
“A situação está precária e estou com a ideia para levar para o sindicato de fazermos um protesto colocando os ossos de todo o nosso gado que morreu de fome na estrada pra exigir uma solução pra isso. Eu já perdi mais de 10 rês e o prejuízo é grande. Talvez mostrando os ossos dos animais que nos dão força, esse milho chegue logo pros nossos bichos, ou eles vejam outra solução, como a distribuição do bagaço da cana. Queremos urgente esse alimento para o nosso gado”.
13 comentários em DRAMA: “Bebemos água com lama e o gado morreu faz tempo”, avisam agricultores