Da Folha de PE

O lobby do Trump Hotel foi o cenário da festa que encerrou a mais recente viagem de Eduardo Bolsonaro aos Estados Unidos. Perto das 21h do dia 27 de setembro, o filho do presidente brasileiro entrou apressado no luxuoso prédio em Washington e se recusou a atender as jornalistas que o esperavam antes da recepção.

Com pretensões frustradas de se reunir mais uma vez com Donald Trump, o deputado federal não explicou por que havia estendido em pelo menos três dias a viagem com destino inicial a Nova York.

Para evitar a imprensa naquela noite, misturou-se às cerca de 40 pessoas que conversavam entre taças de espumante e mini-hambúrgueres. Depois de acompanhar o pai na abertura da Assembleia Geral da ONU, Eduardo emendou participação em reuniões do chanceler Ernesto Araújo com autoridades estrangeiras e foi à capital americana tutelado pelo lobista Jerry Pierce Santos que, em 2009, firmou acordo de delação premiada após ser acusado de violação da lei eleitoral nos Estados Unidos.

Em 2003, quando trabalhava para o governo de George W. Bush, o hoje fundador da empresa de lobby InterAmerica Group fez contribuições ilegais para uma campanha política usando nome de terceiros.

Foi condenado a três anos em liberdade condicional, com aplicação de multa e 300 horas de trabalho comunitário. A reportagem tentou entrar em contato com Santos pelo email da empresa, mas não obteve resposta.

Com interesses no Brasil e sede em Washington, a empresa de Santos hoje ajuda a vender a imagem entre americanos de que a Amazônia tem espaço para atividades econômicas. O discurso corrobora a tese do governo Jair Bolsonaro e é um prato cheio para a retórica de Eduardo em busca de espaço nos EUA.

Desde que seu pai afirmou que o indicaria ao cargo de embaixador em Washington, há três meses, o deputado já viajou duas vezes à capital americana na tentativa de mostrar acesso ao governo Trump.

Em agosto, foi recebido pelo presidente americano, mas saiu sem anúncios concretos da reunião. O que valeu ali foi o simbolismo, disse Eduardo à época.
No final de setembro, acompanhado de Santos, voltou à Casa Branca. Desta vez, participou de um evento com hispânicos, mas não conseguiu o encontro reservado com Trump.

Em nenhuma das vezes foi ao Departamento de Estado, refletindo, na avaliação de integrantes do governo dos EUA, a centralização dos assuntos de política externa na figura do presidente americano.

A sequência de movimentos é o cálculo de Eduardo para angariar apoio no Senado à sua indicação como embaixador –hoje o Planalto não tem garantias de que seu nome seria chancelado pela maioria dos parlamentares.

Presidente da comissão de Relações Exteriores da Câmara, o deputado aposta na imagem de que tem livre acesso à Casa Branca e de que cumpre agendas com autoridades estrangeiras na companhia do chanceler brasileiro.

Para a viagem de agosto, Eduardo voou de avião da FAB e ficou hospedado na residência da embaixada do Brasil em Washington. Não perdeu sessões deliberativas na Câmara durante a sexta e o sábado nos EUA.

Ernesto e dois assessores do Itamaraty que o acompanharam na visita receberam, cada um, US$ 909,98 (de R$ 3.692) para os dois dias na capital dos EUA, mas os gastos do deputado não foram divulgados.

Eduardo compôs a comitiva oficial do Brasil na ONU e, depois que o pai retornou a Brasília, acompanhou Ernesto em conversas com ministros de Espanha, República Tcheca, Índia e Arábia Saudita. Junto ao chanceler, sentou-se à mesa principal dos debates nos encontros do G4 e dos ministros do grupo dos Brics.

Reuniu-se também com o ex-estrategista de Trump Steve Bannon e com integrantes da comunidade brasileira em um restaurante na Times Square, ponto turístico de Nova York.

Registrava quase tudo nas redes sociais. Publicou uma montagem usando imagem falsa da ativista ambiental Greta Thunberg e, na sequência, uma foto dele mesmo fazendo sua habitual pose de arma com as mãos em frente a um monumento contra a violência.

Não se preocupou com as polêmicas nem em dar detalhes de seus compromissos. Ao lado de Filipe Martins, assessor especial da Presidência para assuntos internacionais, voou para Washington na última sexta de setembro.

Conduzido por Jerry Pierce Santos na entrada do Trump Hotel, Eduardo foi recepcionado por Kellen Felix, brasileira e vice-presidente da empresa fundada pelo lobista.

Segundo funcionários, ela pediu que as duas jornalistas que questionavam o deputado sobre o motivo de sua visita à cidade fossem retiradas do local. Blindado, o deputado tenta permanecer em ambiente controlado.

Aliados dizem que ele sabe que não pode derrapar enquanto os senadores não aprovarem seu carimbo para ser o chefe da embaixada brasileira nos Estados Unidos.