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Farol de Notícias/Alejandro García

A série “Profissões Esquecidas” trás uma reportagem sobre a difícil tarefa de abrir fechar a última morada dos seres humanos nessa passagem pelo planeta Terra. Com imagens do nosso parceiro de aventuras Alejandro García, repórter fotográfico do FAROL, e com relatos de Edivaldo Barros de Oliveira, os amigos faroleiros irão conhecer um pouco da profissão de coveiro.

COVEIRO: PROFISSÃO QUE VIROU TRADIÇÃO FAMILIAR HÁ MAIS DE TRÊS GERAÇÕES

Cerca de quatro cemitérios fazem parte da história da zona urbana de Serra Talhada. O mais novo foi construído em 1957, na gestão do ex-prefeito Luiz Lorena, resolveu erguer a atual cemitério em uma área de 10.000 m2, no bairro Bom Jesus. Esse campo santo, que durante anos foi apelidado de “o curral de Lorena”, já foi ampliado mais de três vezes. Apesar disso, não existe mais espaço para novas covas.

É no cemitério novo que encontramos a história de uma família que mantém viva a tradição dos “coveiros”, pelo menos por enquanto. Edivaldo Barros de Oliveira, 40 anos, casado, pai de cinco filhos (quatro moças e um rapaz), é coveiro há mais de 20 anos. A profissão que herdou do pai, Francisco Barros de Oliveira, conhecido como Seu Dodô Coveiro, que é sobrinho de Nenen Coveiro. Outros irmãos de Edivaldo também estão na profissão, mas um deles, o cantor Ivo Barros, começou mas, no entanto, logo preferiu seguir a carreira musical.

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A esposa Thaísa, de 27 anos; também ajuda Edivaldo no cemitério

“NUNCA TIVE MEDO E NEM PESADELO E JÁ DORMI NO CEMITÉRIO ESPERANDO UM ENTERRO”

Para sustentar a família Edivaldo tem que fazer outras atividades, uma vez que conta com a colaboração das pessoas que precisam enterrar um parente. “A gente sempre viveu disso (abrindo covas e enterrando caixões). O salário é pouco e tem gente que ajuda e dá de R$ 10 ou R$ 20, têm outras que sai é reclamando. Por isso temos que fazer outras coisas para completar o salário. Meu pai e eu também trabalhamos construindo os canteiros, túmulos e letreiros. Não temos férias e estamos de plantão de domingo a domingo”, descreve Oliveira.

Segundo Edivaldo Oliveira, as condições de trabalho não são as melhores, faltam equipamentos de segurança, como botas, luvas, capacetes e máscaras. A exposição aos gases liberados no processo de decomposição dos corpos – que são sepultados nas chamadas “gavetas” dos jazigos – com uso da cal pode trazer consequências graves à saúde dos coveiros. “Meu tio (Nenen Coveiro) ficou cego após abrir uma gaveta. O gás que saiu de dentro foi parar no olho dele”, explica Edivaldo, que apesar dos riscos, afirma não ter medo de um contágio ou qualquer outra doença. O trabalho duro de coveiro muitas vezes esbarra na estrutura dos terrenos.

Muitas áreas possuem pedregulhos e pedras, o que impede que algumas covas cheguem ao popular “sete palmos” de fundura. “Eu e meu irmão começamos abrir uma cova de 7 da manhã e quando deu 1 hora da tarde ela ainda não estava com cinco palmos”.  Ainda segundo Oliveira, o tamanho da cova não interfere na decomposição dos corpos.

“Um corpo leva até dois anos para ficar só no osso. Se for uma cova aguada leva até mais. Só que o tamanho não interfere. Uma cova de pouco mais de um metro de fundura já resolve”. O coveiro que mora nas proximidades do cemitério afirma não ter medo e nem pesadelos com os defuntos. “Nunca tive medo, nem pesadelo. Já dormi dentro do cemitério esperando a chegada de um enterro. A coisa mais estranha que vi foi uma vez quando abri uma cova com meu pai. Já fazia oito meses do sepultamento e corpo ainda estava perfeito!”.

TENHO ORGULHO DA MINHA PROFISSÃO, MAS NÃO DESEJO ISSO PARA OS MEUS FILHOS”

Edivaldo é um cidadão que encara as coisas com naturalidade. Fala da profissão com muito respeito e aceita as brincadeiras com bom humor. “Tenho orgulho da minha profissão. O preconceito eu levo na esportiva. Às vezes as pessoas brincam por que tenho um irmão que é policial militar. Eles dizem que preferem ser preso pelo meu irmão porque é mais fácil de se soltar, já que seu eu prender ninguém se solta!”. Apesar da descontração o coveiro é contundente ao falar sobre a possibilidade dos filhos seguirem a tradição familiar. “Meus filhos estão estudando e eu não quero que nenhum passe por o que eu já passei aqui!”

Um forte abraço e até a próxima “Profissões Esquecidas”!

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O irmão, Zé Barros, recém-chegado de São Paulo, veio buscar experiência na profissão

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