Publicado às 05h desta quinta-feira (29)

Por Flaviano Roque, cronista serra-talhadense

“Eu prometo pra cá, eu prometo pra lá…” Como é belo esse animal político (Zoon politikon)! Diferente dos outros? Sem dúvida! Detém a capacidade de fazer conjecturas como pressuposições do real; de algo a ser realizado sempre no futuro, com as quais é preciso contar com a confiança ou com a fé da maioria. Nada mais natural, as religiões são uma forma secular de prometer bem-aventuranças, assim a política tem algo de sublime, de elevado e de propulsor; embora extremamente intramundana, é a forma do homem asseverar o céu na terra, ainda inalcançável. Pois bem, temos muito a aprender com esse bicho social e civilizado.

Porém, é insuficiente a criação de esperanças no eleitorado, é preciso bem mais: além de jogar cartas de tarô, é imprescindível que o eleitor se convença da veracidade dos prognósticos. Os coaches, os facilitadores do direito, os advogados marqueteiros e os vendedores de pirâmides… Ah, pobres iludidos, para aprender o básico do mindset real (com o que, inclusive, não pagariam um centavo), bastaria que enxergassem a lábia do vereador de quatro em quatro anos, a paixão com a qual o cabo eleitoral sustenta a busca de um apadrinhamento político; ou, por que não, a atual desfaçatez com que se compram vacinas para eleições e não para pessoas. Nada é de graça! Já dizem que “não existe almoço grátis”, e a engenhosidade para arrebanhar pessoas não fora inventada por esses dias, por mais metodismo e esforço visual, trata-se da mesma arte de induzir ao óbvio.

Não me interpretem mal, eu não desejo resumir a política a um jogo sujo de poder, ou a mera retórica. A sujeira na política é intrinsecamente outra, como posso explicar? É assim: é como a uma granja de suínos, a sujeira é o preço que se paga para ter uma criação de porcos; não pressupor a “caca” do processo é uma atitude infantil. Ora, nada mais natural, se as pessoas comem um belo pernil na brasa, não pensam no trato da carne e em como fede o seu nascedouro, apenas comem a carne; então por que pensariam em política? Com todos os inconvenientes, ainda gostamos de uma boa bisteca, uma bisteca é uma bisteca! E não há nada mais político que a ferocidade que enchemos nossos estômagos com carne animal.

Assim, a argumentação é o carro-chefe das coisas públicas, das eleições e dos debates sobre a construção da cidadania, mas, em que nível está esse debate? Aparentemente, um orador precisa ser cada vez mais rasteiro, mais comum, para ser compreendido. A fim de ludibriar, não mais carece de grandes conjuntos mentais ou de esforço racional, basta uma “lacração”, basta uma “fake news”. A burrificação é o método para se fazer coisas profundas e grandes, quanto mais chão, melhor será deglutido pelo público. Inconscientemente, todos estamos participando, mesmo que de forma velada: alguns por entreguismo da sua capacidade de pensar; já outros, pela incapacidade de se encaixar como ser pensante de algum acontecimento. Nada mais Kafkiano… Pois, veremos o processo eleitoral passar pelos nossos olhos, embora esteja cheio de absurdos.

A política mesmo não passa de uma grande promessa, para o bem ou para o mal. E esse não é o deslize, quem julga um homem público pelos componentes do parlamento ou da câmara municipal ainda engatinha no entendimento, tendo em conta que homem não é um animal político na essência (não nasceu para o governo) — caso fosse, seria correto afirmar que a solução para a política seria a própria política, e bem sabemos não ser isso — o homem é um animal gerente do poder, porque inventou para si a capacidade de fazer grandes promessas, e trouxe ao meio social um paliativo para a vida na cidade, por acordos, conchavos, pactos… É a forma da vida se tornar suportável, é a forma de, para sermos mais claros, podermos degustar um lombo suíno sem mais neuroses.

O problema nunca foi a política, e sim o hoje: nunca foi tão fácil convencer e fazer promessas antigas com roupagens cintilantes, nunca foi tão “fácil” fazer política. Deixemos estar! E por que não? “Ao vencedor as batatas!”. E você, leitor, o que andam lhe anunciando para o futuro?