Polícia Federal Argentina – Foto: Luis Robayo/AFP

Por Folha de Pernambuco

Em meio a uma crise de segurança protagonizada por facções criminosas, Rosário, que ostenta as maiores taxas de homicídios da Argentina, ficou paralisada nesta segunda-feira (11), em protesto por ações mais contundentes das autoridades. Desde a semana passada, foram registrados ao menos quatro assassinatos ligados à violência das gangues, e o governo federal prometeu reforços para evitar que a cidade vire uma “terra de narcoterroristas”.

Escolas não abriram, táxis e ônibus não circularam, a coleta de lixo não foi realizada e poucos comerciantes se arriscaram a abrir as portas para os ainda mais raros clientes que saíram às ruas.

— Nós abrimos com medo e preocupação, a questão era sentir-se livre e não dar a essa gente o gosto de ver tudo fechado — disse à AFP Alejandro, um comerciante de 48 anos que tem uma loja na região central de Rosário. — Também pesa a parte econômica, fechar o comércio significa ter muitos gastos em meio a essa crise econômica.

Rosário é a terceira maior cidade da Argentina, e tem um dos principais portos do país, que se transformou nos últimos anos em uma rota de exportação de drogas vindas da Bolívia, Brasil e Paraguai para mercados na Ásia e Europa.

Com a presença de organizações criminosas, a violência também cresceu, e não poupou nem um dos filhos mais conhecidos de Rosário, Lionel Messi: em março do ano passado, o mercado da família da mulher dele, Antonella Rocuzo, foi atingido por tiros, e uma mensagem ameaçadora ao craque campeão do mundo em 2022 foi deixada no local:

Messi, estamos esperando por você. [Pablo] Javkin [prefeito de Rosário] é um narcotraficante, ele não vai te proteger”, disse o texto. Outro atleta da seleção argentina natural de Rosário, Ángel Di María, fez uma publicação no Instagram nesta segunda-feira pedindo paz à cidade.

Na última semana, a violência aparentemente saiu de controle, com quatro homicídios atribuídos às gangues, além de ataques a uma delegacia e a uma penitenciária — as vítimas fatais foram dois taxistas, um motorista de ônibus e um frentista baleado no posto onde trabalhava, no sábado. As ações são similares, e os criminosos deixam claro que qualquer um pode ser o próximo alvo.

“[Maximiliano] Pullaro [governador de Santa Fé] e [Pablo] Coccocioni [secretário de Segurança de Santa Fé] se meteram com nossos familiares. Vão continuar as mortes de inocentes, taxistas, motoristas, lixeiros e comerciantes”, dizia uma faixa colocada em uma ponte da cidade. Ao contrário de outras crises de segurança, a população evitou participar de atos públicos, e preferiu um panelaço, de dentro de suas casas, no domingo.

A segurança pública foi um dos temas prioritários da campanha de Javier Milei, que não esconde a simpatia pelos métodos de Nayib Bukele em El Salvador, e nas primeiras hora de segunda-feira a ministra da Segurança, Patricia Bullrich, anunciou um plano de “saturação policial” em Rosário, com o envio de ao menos 450 policiais para evitar que a cidade vire uma “terra de narcotraficantes”.

— Vamos priorizar os horários críticos, entre as 17h e as 7h do dia seguinte. Essas equipes vão trabalhar com força contra a lavagem de dinheiro, que é o delito mais oculto — disse Bullrich, que ainda defendeu o envio para o Congresso de leis mais duras contra organizações criminosas, que estabelece penas mais duras e aplicáveis a todas as pessoas que tenham qualquer tipo de ligação com as gangues.

Em outra frente, Bullrich determinou a mudança da cúpula do Serviço Penitenciário Federal. Suspeita-se que a origem da onda de violência esteja ligada ao endurecimento dos regimes impostos aos detentos ligados às organizações criminosas.

— Essa é a típica vingança pelo que aconteceu nas carceragens federais e provinciais. Ontem [domingo] recebemos 20 pedidos de habeas corpus de presos de alto risco pedindo que levantassem o regime. Fazem qualquer coisa para que levantemos o regime porque estão separados e não podem continuar a delinquir — disse Bullrich.

Segundo fontes do governo ouvidas pelo La Nación, a ministra tem o pleno respaldo da Casa Rosada para as ações em Rosário, e Milei estaria pronto para ir à cidade “se ela pedir que o faça”.

— Javier banca completamente Patricia. Trabalham lado a lada, nunca ninguém a bancou como ele o faz — disse o integrante do governo ao La Nación.