selo-farolNOTA DO COLETIVO FUÁH

O dia 8 de março poderia ser apenas mais um dia comum no calendário, o 68º dia em um ano bissexto, na contagem geral faltariam ainda 298 dias para o fim de um ciclo. Contudo, em 1857 esta data virou um dos marcos históricos da desumanidade quando 130 tecelãs de uma fábrica nova iorquina foram carbonizadas após realizarem uma grande greve reivindicando a redução da carga diária de trabalho de 16h para 10h, tratamento digno e equiparação dos salários ao dos homens, reivindicação que inclusive é bastante atual. Passados 159 anos não vencemos a batalha, ainda estamos na luta por direitos iguais, principalmente por dignidade.

Nas últimas semanas, dezenas de mulheres serra-talhadenses foram alvo de crime cibernético através da criação de vídeos difamatórios. O conteúdo dos vídeos amadoramente produzidos continham fotos e músicas que relacionavam mulheres solteiras ou casadas à prostituição, homossexualidade ou comportamentos socialmente inconcebíveis para mulheres ‘de respeito’. O Coletivo FUÁH prega a liberdade da mulher, inclusive a liberdade sexual. Esse e todos os outros aspectos de nossas vidas competem a nós mulheres decidir. O choro, o corpo, o sexo, a mente, o cabelo, o comportamento, a roupa que usamos, a pessoa que nos relacionamos… tudo é livre.

Compreendemos que em Serra Talhada, muitas mulheres foram ‘apagadas’ pela cultura do patriarcado BN_negrase do coronelismo. Essa herança pode ser a origem do machismo atual que permanece ávido e afiado, ao ponto que vídeos desse tipo surjam. O Coletivo FUÁH lamenta a veiculação desse conteúdo difamatório, embalado por músicas direcionadas as vítimas, mas que ofendem a imagem da mulher expondo o feminino a padrões machistas que já deveriam ter sido superados. Entendemos que o compartilhamento dos vídeos corresponde a incentivo a esse tipo de crimes. Na era do Whatsapp a informação chega rápido e o preconceito pode vir junto.

Somos vítimas e atores de uma cultura machista, onde mulheres também reproduzem o machismo mais do que imaginamos. Mesmo com uma atitude que parece banal, compartilhar um desses vídeos fortalece os motivos que os criaram. O Coletivo FUÁH se solidariza com todas as vítimas dos vídeos e se revolta ao ouvir os relatos das consequências que essa ‘piada estúpida’ gerou. Mulheres sendo agredidas pelos companheiros, pressão psicológica da sociedade, constrangimento, receio da família, medo da denúncia. Não se pode abaixar a cabeça. Se acreditam que as mulheres só conseguem a revolução através da luta, então que lutemos juntas ao invés de competir umas com as outras.

O Coletivo FUÁH estimula que todas as vítimas dos vídeos, assim como todos os meninos que também apareceram em outros vídeos sendo chamados de homossexuais, combatam o machismo e a homofobia. Não é difamatório ser chamada de ‘prostituta’ ou de gay. É difamatório usar da sexualidade e da liberdade das pessoas para tentar ofendê-las, expondo-as publicamente, tentando ridicularizá-las. Entendemos que os crimes cibernéticos são difíceis de investigar, mas isso não quer dizer que deve ficar impune e se tornar reincidente. Em um país que crimes grandes só os pobres respondem e crime pequenos só vítimas famosas veem a solução, a luta deve ser incansável.

Logo, a Polícia Civil deve atender adequadamente essas mulheres ao invés de desencorajar a denúncia. O Ministério Público deve ser acionado para que as investigações e a punição do culpado ou culpados efetivamente aconteça. Serra Talhada já deu provas mais que suficientes que o machismo tem sido mote de diversas agressões físicas e psicológicas, além de feminicídios. Precisamos o quanto antes de uma Delegacia da Mulher. Com esse equipamento teríamos a esperança de um atendimento digno, ao invés da descrença machista que tomam as instituições.

Achamos por bem tomar o 8 de março do ideal  mercadológico e restituir sua origem militante. O FUÁH se coloca a disposição para fortalecer essa luta.

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