
Uma enfermeira de Serra Talhada superou a vergonha e o medo da exposição para relatar casos de transfobia que sofreu durante o período que trabalhou no Hospital Eduardo Campos em Serra Talhada.
A profissional de saúde Valentina Bezerra Santos, 42 anos, moradora do bairro São Cristóvão, procurou a redação do Farol de Notícias para detalhar a situação.
Segundo ela, a situação perpassa o preconceito e durante um mês e 11 dias que permaneceu no HEC foi submetida a perseguições, difamações, maus tratos vindos de colegas de trabalho, desrespeito, transfobia e assédio moral.
Valentina busca seus direitos e realizou denuncias no Ministério Público, Ministério dos Direitos Humanos e na Delegacia de Polícia Civil de Serra Talhada.
No Brasil, desde 2019, o Supremo Tribunal Federal (STF) reconheceu que os crimes de homofobia e transfobia devem ser enquadrados como crime de racismo.
Ano passado, o Supremo ampliou a proteção para a população LGBTQIAPN+ que podem recorrer a justiça para punir ofenças diretas contra eles e prescritas na lei como injúria racial.
Segundo a lei Nº 14.532, de 11 de janeiro de 2023, os crimes de racismo e injúria racial são inafiançáveis e imprescritíveis.
A pena é de dois a cinco anos de prisão. Entretanto, com a decisão do STF, uma ofensa contra pessoas LGBTQIAPN+ pode ser punida de forma mais severa.
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“Eu fui contratada através de um processo seletivo para o Hospital Eduardo Campos no dia 12 de agosto de 2024 e comecei a passar por perseguições e assédios morais porque eu sou uma mulher transsexual. Por parte da supervisão, da coordenação, e da própria equipe de enfermagem que não me aceitava. As pessoas desdenhavam, riam quando eu passava, eu chamava algum técnico muitas vezes eles não me atendiam. Em relação a transfobia, eu sempre percebia os olhares, eu tentava realizar o meu trabalho e era atrapalhada, ou observada como se fosse vigiada”, relembrou Valentina, continuando:
“Quando eu entrei na instituição e a gente passou pelo processo de integração para acolhimento logo depois eles também foram negligentes comigo. Todos os enfermeiros e técnicos convocados foram chamados pelos seus supervisores para serem levados para conhecer [o hospital] e eu fiquei sozinha, eu fui excluída. A pessoa que me recebeu me olhou de cima à baixo como se dissesse ‘quem é essa pessoa?’. A gente já percebe o olhar de exclusão. Ao invés de me chamar de Valentina ou senhora, me chamava de ele, de senhor. É toda uma forma de não aceitação da pessoa que eu sou, e do meu gênero”.

DEMISSÃO SEM JUSTIFICATIVA?
“Eu fui a primeira e única enfermeira, mulher trans, de nível superior, a ingressar naquele hospital. Eles me demitiram antes de completar os 90 dias de prazo de experiência, eu fui demitida dia 23 de setembro, antes do tempo do encerramento do meu contrato. Eu também não passei por processo médico e exames demissionais, eu não pensei que uma instituição fosse tão ditadora. Se eu passei na seleção que é tão longa e difícil, porque eu estava sendo questionada por meu trabalho? Só poque eu sou uma mulhe trans? Eu procurei o Farol para que haja respeito”, desabafou a profissional, finalizando:
“Eu quero Justiça, eu fiz denuncias em vários órgãos que atuam em prol de pessoas em siatuação de vulnerabilidade. Nós sabemos que a cada vez mais matam pessoas trans no nosso país. Então, eu denunciei no Ministério Público, fiz uma denuncia no Ministério dos Direitos Humanos, fiz um B.O. e também estou entrando com uma ação civil trabalhista para que eles me paguem todos os meus direitos, como não foi colocado no contrato”.
O QUE DIZ O HOSPITAL
A reportagem do Farol de Notícias entrou em contato com a Assessoria de Comunicação do Hospital Eduardo Campos para ouvir sua versão dos fatos. Até o momento, o hospital informou que irá apurar o caso.
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