Às vésperas do protesto que será realizado pelos prefeitos nordestinos, o FAROL conversou com o bispo da diocese de Afogados da Ingazeira, Dom Egidio Bisol, que comentou criticamente sobre o tema e também outros assuntos, como a visão da Igreja frente à PEC 37, que põe em xeque o poder do Ministério Público. Nesta conversa, ele comenta também sobre as expectativas dos fiéis sertanejos após a visita da presidente Dilma a Serra Talhada.

FAROL – O que mudou para os sertanejos após a visita da presidente Dilma Roussef a Serra Talhada, no último dia 25 de março? Há ações eficazes de convivência com o semi-árido?

DOM EGÍDIO – Não tenho muitos elementos para dizer o que a visita da Presidenta Dilma deixou concretamente como ação positiva para o Pajeú. Espero que, tendo visto pessoalmente alguns aspectos da situação tenha ficado mais sensível aos problemas do semiárido. Nas minhas andanças pelas comunidades vejo que estão sendo construídas muitas cisternas com recursos federais. Vejo também que o serviço da adutora do Pajeú está caminhando, embora não com a rapidez que a gente gostaria, para chegar um dia até Afogados da Ingazeira. Aliás a visita da Presidenta me pareceu mais um ato político em função eleitoral: muitos sorrisos , aplausos, até presentes para as prefeituras….

O que me faz pensar assim são alguns fatos que aconteceram. Por exemplo, soube que as faixas “críticas” foram barradas nos portões de acesso ao evento. Os representantes de um movimento chamado “Pela água e pela vida”, que me procuraram depois do evento, me confirmaram esse fato. Também não houve muito espaço para que as lideranças políticas da região apresentassem suas reivindicações.

Eu não entendo das “liturgias” da política, mas penso que ao receber os presentes para as prefeituras, ônibus escolar, retro-escavadeira, caçamba, etc. alguém poderia ter lembrado à Presidenta, sem faltar à boa educação, as palavras do nosso Luiz Gonzaga: “Mas, doutor(a) uma esmola…” . Bom dar um presente, muito mais importante dar às prefeituras condições delas mesmas adquirirem suas máquinas e poder honrar com seus compromissos!

 FAROL- Os prefeitos do Sertão do Pajeú irão participar de um protesto em Recife, no próximo dia 13 de maio, onde pretendem cobrar atitudes do Governo Federal. O senhor concorda com esta estratégia?

DOM EGÍDIO – Acho muito oportuno que os prefeitos façam toda a pressão possível, de forma organizada, cobrando ações mais eficazes para a convivência com o semiárido e mudanças nos critérios de repasse de recursos à prefeitura.

Li, também, que na 2ª feira próxima as prefeituras iriam manter só os serviços essenciais. É oportuno ou não? Não sei dizer, mas acredito que quem está na luta e conhece o “adversário” é que deve saber escolher as estratégias mais eficazes para alcançar seus objetivos, obviamente sempre dentro dos princípios da ética e do jogo democrático.

FAROL– Mudando de assunto. Dom Fernando Saburido, da Arquidiocese de Olinda e Recife, emitiu uma nota contra a aprovação da PEC 37- que restringe a ação do Ministério Público. Qual a sua opinião sobre o tema?

DOM EGÍDIO – A declaração do nosso Arcebispo Dom Antonio Fernando Saburido, retoma uma nota da Presidência da CNBB. No dia 07 de fevereiro deste ano, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, através de sua Presidência, emitiu uma nota sobre a PEC 37. Parece a nós bispos que reservar a “exclusividade” da investigação às Polícias Federais e Civis dos Estados e Distrito Federal, resulta na restrição do poder investigativo de outros entes, em especial o Ministério Público.

A nota da CNBB reafirma a “importância do Ministério Público em diversas investigações essenciais ao interesse da coletividade […] fundamental para o combate eficaz da impunidade que grassa no País”. Achamos que não se deva, portanto, privar a sociedade brasileira de nenhum instrumento ou órgão cuja missão precípua seja a de garantir transparência no trato com a coisa pública e a segurança do povo e que, então, a PEC 37 seja danosa ao interesse da nação.

FAROL – A Diocese de Afogados da Ingazeira vai participar da Jornada da Juventude no Rio de Janeiro? De que forma?

Nossa diocese já está vivendo em clima de JMJ desde o início do ano passado quando recebemos a “visita” dos símbolos da JMJ, a cruz peregrina e o ícone do Nossa Senhora. De lá para cá, aumentou o esforço para incentivar a participação dos jovens à JMJ e preparar a Semana Missionária que  será realizada em nossa diocese de 14 a 19 de julho.

Durante a Semana Missionária todos as pessoas,grupos e comunidades, em especial os jovens, serão convocados para participar de uma série de atividades culturais e de cunho social, além das celebrações. Para a Semana Missionária nossa Diocese acolherá  um grupo significativo de jovens da Diocese irmã de Vicenza-Itália, que irão participar com nossos jovens das atividades programadas.

Mais de uma centena de jovens do Pajeú, 8 padres e o bispo irão representar nossa Diocese na JMJ no Rio de Janeiro de 23 a 28 de julho próximo.