Nelson Pereira de Carvalho é advogado e ex-deputado estadual pelo Partido Comunista do Brasil (PCdoB)

Todos os seres humanos possuem um potencial particular, no entanto é necessário que surjam oportunidades para possibilitar e desenvolver essa potencialidade. É preciso levar em consideração que as escolhas, as decisões tomadas na juventude, acompanham as pessoas ao longo de suas vidas. No tocante ao esporte, a escolha, em muitos casos, pode levar à inserção no meio social. Essa inserção, na relação estado-esporte, se dá através da criação de oportunidades, ainda junto às crianças e jovens, para o autodesenvolvimento, o autoconhecimento e para, conseqüentemente, a promoção e o fortalecimento dos valores sociais.

É evidente que o esporte já se tornou um fenômeno sócio-cultural mundial nos dias de hoje. Pode trilhar um caminho formal, com regras pré-definidas e sistematizadas, ou se dar por mero ensejo, pelo simples prazer de quem o pratica, informalmente. Como bem cultural, historicamente está colocado, na sua pluralidade, em qualquer ambiente social, seja este a rua, as escolas, as academias, os clubes, e em qualquer ambiente urbano ou rural, praticado independente de cor ou gênero, tendo por objeto alcançar uma boa saúde e uma educação integral para a formação humana.

Segundo Hoyos (apud Ana Cláudia Porfírio Couto), a convivência no desporto permite que haja uma valiosa formação e inserção nos contextos sociais, ensinando as pessoas a viver, estabelecendo vínculos e contribuindo em sua formação. Não se deve ser, contudo, utópico a ponto de acreditar que o esporte sozinho é capaz de definir a formação das pessoas. É fundamental a interdisciplinaridade com outras áreas de conhecimento, em parceria, de acordo com as características regionais. A aliança entre a educação e o desporto é um bom caminho para influenciar positivamente na formação da educação integral.

Entretanto, a vontade e o sonho de quem quer aprender, muitas vezes são atropelados pela falta da dignidade humana no ambiente em que se vive e nas condições impostas à sociedade através da fome, da falta de habitabilidade digna, de saneamento… Ferindo todos os valores e afastando a possibilidade de um desenvolvimento humano.

É necessário, portanto, fazer convergirem o discurso e a prática para não haver crianças e jovens que, antes de se dedicarem aos estudos, precisam se dedicar a “sobreviver”; para que possam se dedicar à tarefa de ir à escola e desenvolver alguma prática de modalidade esportiva. O desenvolvimento das potencialidades depende do incentivo para fazer as escolhas que se transformarão no projeto de vida de cada um (Amartya Sem, apud Yara Fonseca de Albuquerque). Pelos laços afetivos formados na convivência diária entre educando e educador pode-se afirmar que irá existir uma simbiose que terá repercussão no ambiente social, proporcionando a apropriação de saberes e conhecimentos, aliando-se a perfeição do aprender ao prazer em ser educado.

De acordo com o PNUD  “As capacidades humanas básicas para o alcance do desenvolvimento humano sustentável são: conduzir vidas longas e saudáveis, ter acesso ao conhecimento, ter acesso aos recursos necessários para manter um padrão de vida decente e poder participar na vida da comunidade”. Segundo a conclusão do documento da ONU, Esporte para o desenvolvimento e a paz, divulgado , o esporte pode ser o caminho para a construção dessas capacidades.

Além dos significativos benefícios à saúde, a prática esportiva não só desenvolve o potencial intelectual, como também aumenta a consciência do respeito para consigo e para com o semelhante, bem como para com o meio ambiente. Está comprovada cientificamente a relação entre a prática esportiva e a melhoria da qualidade de vida das pessoas, condição essencial para o desenvolvimento humano. Estudo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, afirma: “a grande maioria da população brasileira não pratica qualquer tipo de esporte. Faltam ações de sensibilização e conscientização sobre a importância da prática esportiva”.

Foi apresentado, na 32ª sessão do Comitê Permanente de Nutrição da Alimentação e nutrição da ONU, um diagnóstico de saúde, alimentação e nutrição que chama atenção para a tendência, na alimentação humana, de substituição do consumo de alimentos ricos em nutrientes por alimentos energicamente densos e pobres em micronutrientes. Também aponta para a redução dos níveis de atividades físicas. Dados da II Conferência Nacional de Segurança Alimentar (CONSEA 2004) afirmam que a melhoria do estado nutricional e da qualidade de vida de meninas reduz a desnutrição e a mortalidade infantis e a gravidez na adolescência, a mortalidade materna, o baixo peso ao nascer, e a prevalência de doenças crônicas não transmissíveis no adulto. Além disso, a boa nutrição é fundamental para um diagnóstico de saúde.

Em diferentes realidades e diferenças culturais, o esporte tem um impacto na saúde e reduz a probabilidade de muitas doenças. Os programas de esporte servem como uma ferramenta eficaz para a mobilização social, prestando apoio às atividades da saúde, tais como campanha de educação e imunização. É também um ambiente-chave e uma atração natural para a participação de voluntários. Além disso, a prática do esporte apóia a preservação do meio ambiente limpo e saudável.

Segundo dados da ONU, citando os Estados Unidos como exemplo, para cada dólar investido em esporte, são economizados 3,2 dólares em gastos com saúde. O esporte e a atividade física propiciam também uma das formas mais efetivas de medicina preventiva, com potencial para reduzir drasticamente os custos com a saúde.