obama-castro“Quando eu saí de Cuba/Deixei minha vida, deixei meu amor/Quando eu saí de Cuba/Deixei meu coração enterrado.” O compositor argentino Luis Aguilé (1936-2009) transformou em canção o sentimento da maior parte dos 650 mil exilados cubanos que vivem no sul da Flórida, a cerca de 150km da ilha socialista. Muitos deles tiveram que abandonar a terra natal quando crianças; outros fugiram depois de se tornarem prisioneiros políticos. O Correio entrevistou quatro expoentes do exílio nos Estados Unidos sobre a histórica viagem de Barack Obama a Cuba, iniciada na noite de ontem — a primeira de um presidente norte-americano desde 1928. Eles compartilham da pouca esperança, da indignação e de um certo ceticismo ante a visita de Obama e afirmam esperar que o visitante exija do regime de Raúl Castro o respeito aos direitos humanos.

Pedro Corzo, 73 anos, trocou Havana por Miami em 1992. “Estive na prisão por oito anos. Quando fui detido, em 1964, eu ainda era um estudante. As condições no cárcere eram desumanas. Fomos submetidos a um regime de trabalho forçado que flutuava entre 12 e 14 horas. Além de espancados com frequência, a reclusão na cela solitária era prática comum. Mais de 10 colegas morreram durante greves de fome”, lembra o jornalista, escritor e cineasta, presidente do Instituto de la Memoria Historica Cubana contra el Totalitarismo.

“Eu considero que a visita de Obama não vai repercutir, de modo importante, no desenvolvimento econômico e político de Cuba. Ela responde somente a critérios e a interesses do presidente norte-americano. Eu diria que é como parte de seu legado presidencial”, observa Corzo. Apesar de acreditar que o tema “direitos humanos” constará da agenda dos líderes cubano e norte-americano, o jornalista aposta em cautela do regime de Havana. “Talvez Obama aborde, em privado, a situação política de Cuba. No entanto, eu considero que eles serão muito cautelosos, pois já afirmaram, em mais de uma ocasião, que a aproximação com o governo de Cuba será um processo a longo prazo.”

Distorção

Presidente do Movimiento Democracia, sediado em Miami, Ramón Saúl Sánchez deixou Cuba aos 13 anos e se incorporou à luta pela democracia na ilha dois anos depois. A organização não governamental que dirige propõe a luta cívica não violenta e defende a reunificação da família cubana. “É bom quando dois países se fazem amigos, sob o ponto de vista humano. No entanto, os EUA modificaram o viés político da visita, ao pedirem o fim do embargo comercial a Cuba; isso ajudou a ditadura a se apresentar como vítima do imperialismo ianque”, opina. Para o ativista exilado, além de demandar a suspensão do embargo, Obama deveria solicitar o levantamento do bloqueio às liberdades civis e econômicas. “O regime impede que o povo se empodere economicamente e possa se tornar independente do Estado castrista. É um Estado explorador de homens”, lamenta.

Do Diario de Pernambuco