Idosa que morreu de Covid em ST foi sepultada

Foto enviada pelo filho João dos Santos Pereira

Publicado às 5h50 desta segunda (11)

Familiares de dona Maria de Lurdes, 64 anos, estão indignados com a forma que se deu a partida da mãe, assim, de maneira tão repentina tendo sequer dado tempo para que eles pudessem se despedir. A ausência de velório neste caso se explica pelo fato da vítima ter sido sepultada conforme os protocolos de segurança da covid-19.

Ela foi anunciada como a primeira vítima fatal do coronavirus em Serra Talhada. O problema é que, conforme os familiares, na certidão de óbito da matriarca, a doença não consta como causa do falecimento. Isso vem gerando indignação especialmente entre os filhos de dona Maria de Lurdes. O FAROL conseguiu entrevistar um deles, João dos Santos Pereira.

“Ela foi sepultada sem nada, sem nenhuma homenagem, nós não pudemos nem abrir o caixão, só quem teve acesso lá ao cemitério foi o meu irmão. Nós não pudemos ver ela, eu achei isso um  absurdo porque quando se vai um ente querido da gente a gente precisa ver pela última vez, precisa prestar a última homenagem e nem isso foi possível”, lamentou.

CERTIDÃO DE ÓBITO E TESTE RÁPIDO POSITIVO

O filho conta que na certidão de óbito de dona Lurdes existe uma parada cardíaca decorrente de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG). Ele afirma que sua mãe foi submetida a um teste rápido que deu positivo para a covid-19. Mas os familiares aguardam o resultado do exame laboratorial, enviado para o Lacem, em Recife.

“O teste rápido de minha mãe deu positivo para a covid-19, e estamos esperando o resultado do PCR para confirmar se foi covid-19 mesmo, pois na certidão dela fala que foi Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), que é uma das causas da covid”, comentou João dos Santos Pereira.

A família aguarda com certa ansiedade o exame laboratorial, posto que o procedimento pode se contrapor ao resultado do teste rápido, o que já leva João dos Santos Pereira a falar em processo judicial.

O EXAME E UM POSSÍVEL PROCESSO

O filho relata que, segundo informaram a família no Hospam, o exame laboratorial chega em até 15 dias. Dependendo do resultado, eles estudam processar àqueles que atribuíram a morte de sua mãe à covid-19, pois tal suspeita expôs a família a um protocolo de sepultamento constrangedor.

“Isso não pode ficar assim, eu vou atrás disso e vou processar quem tiver de processar, vou atrás desse erro, vou atrás do possível”, disse João dos Santos Pereira.

O anúncio de que dona Maria de Lurdes havia falecido pela covid-19 partiu da Prefeitura de Serra Talhada, em nota pública emitida no início da manhã deste domingo (10) [leia a nota].

EVOLUÇÃO DO QUADRO CLÍNICO

“Eles [o Hospam] tinham dito que ela estava com uma pneumonia aguda forte, uma coisa que eu achei muito estranha é que os médicos durante a semana disseram que ela estava reagindo bem aos medicamentos, que ela estava estável. E ontem [sábado, 9] eu estranhei uma coisa que o médico me falou”.

“Quando eu ia saindo e disse, pronto, já que minha mãe não vai ser transferida [devido um problema na ambulância], eu preciso saber o estado de saúde dela, aí saiu um médico ou um enfermeiro lá de dentro e disse: o estado de dona Maria de Lurdes é estável, ela passou o dia todo bem, mas você sabe que durante a madrugada tem como o quadro piorar. Como assim ter como o quadro piorar na madrugada? Ele é profeta por acaso? É vidente? Ele é Deus, para saber o que ia acontecer? Como? Por quê? E foi justamente o aconteceu, minha mãe faleceu às 3h30 da manhã. A gente precisa saber disso também”.

PROBLEMA NA AMBULÂNCIA

“Ela ia ser transferida [para Araripina] e a ambulância quebrou. Na ambulância, quando minha mãe iria ser transferida para Araripina, primeiramente ia um senhor, que passou muito mal. Tiveram que tirar ele da ambulância e levar para dentro do Hospam de novo às pressas. E  a ambulância quebrou o respirador. Aí o que acontece? Falaram para a gente que para transferir era R$ 4 mil, numa ambulância particular. E a gente não tinha condições. Então ficamos de esperar uma outra ambulância. Foi o quando o médico falou que íamos esperar para o domingo que eles teriam feito o pedido para uma ambulância vir de Salgueiro”.

HOMENAGEM

Impedido de velar dona Maria de Lurdes no Dia das Mães, João dos Santos Pereira aproveita o espaço do Farol de Notícias para homenageá-la com este vídeo. A exibição da imagem é autorizada pelo filho.