Do g1 Mundo

Foto: Adrian DENNIS / POOL / AFP

O primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, afunda sua popularidade em cinco festas, todas realizadas na sede do governo britânico durante o lockdown, enquanto fora dali a população era submetida a rígidas restrições para o convívio social.

Conhecido como “Partygate”, o escândalo enfurece os britânicos a tal ponto que apenas 27% defendem a permanênciado premiê no cargo, de acordo com uma pesquisa feita pela YouGov para a Sky News (veja no vídeo acima).A revelação mais recente soa como escárnio. Principal assessor de Johnson, Martin Reynolds mandou, em maio de 2020, em um dia em que mais de 300 britânicos morreram de Covid-19, um e-mail para 100 funcionários de Downing Street, convidando-os a aproveitar o clima bom em uma reunião no jardim da residência oficial do governo. “Por favor, junte-se a nós a partir das 18h e traga sua própria bebida”, dizia Reynolds em sua mensagem, divulgada pela ITV News.

A revelação mais recente soa como escárnio. Principal assessor de Johnson, Martin Reynolds mandou em maio de 2020 um e-mail para 100 funcionários de Downing Street, convidando-os a aproveitar o clima bom em uma reunião no jardim da residência oficial do governo. “Por favor, junte-se a nós a partir das 18h e traga sua própria bebida”, dizia Reynolds em sua mensagem, divulgada pela ITV News (veja no vídeo abaixo).

Na época, as visitas eram proibidas e a maior aglomeração limitava-se a duas pessoas ao ar livre, ainda que a uma distância de dois metros. Quem violava as regras pagava multas pesadas.
Liderados por Johnson, os funcionários de Downing Street, hoje se sabe, pareciam estar livres disso. Dos 100 convidados, 40 compareceram à reunião, incluindo o premiê e a sua mulher, Carrie Symonds, segundo relatos publicados pela mídia.

Cinco dias antes, o casal participou de outra reunião, com queijos e vinhos, no jardim da residência e na companhia de outros funcionários, conforme mostrou uma foto publicada recentemente pelo jornal “The Guardian”.

Vieram à tona mais eventos de confraternização realizados na sede do governo em dezembro de 2020. Mas os britânicos comuns eram obrigados a celebrar o fim daquele trágico ano, confinados em suas casas.

Por enquanto, só o entorno do premiê foi punido. A porta-voz Allegra Stratton renunciou ao cargo após a divulgação de um vídeo de funcionários do governo debochando sobre como deveriam explicar ao público sobre uma reunião de Natal.

De festa em festa, o governo violou as orientações impostas à população em diferentes momentos de bloqueios na pandemia. “Pode haver um exemplo mais vergonhoso de ‘uma regra para eles e outra regra para o resto de nós’?”, questionou a ativista Hannah Brady, do grupo Covid-19 Bereaved Families for Justice, que perdeu o pai quatro dias antes dos comes e bebes de maio entre os funcionários do governo.

Resposta do governo

A reação popular levou Johnson a pedir um inquérito, comandado por Sue Gray, alta funcionária do governo, que não é levado a sério. “Não há necessidade de uma investigação porque trata-se de uma simples questão: o primeiro-ministro participou do evento no jardim de Downing Street no dia 20 de maio de 2020?”, indagou a vice-líder trabalhista, Angela Rayner.

Pressionado na audiência desta quarta-feira (12) no Parlamento, só restou a Johnson pedir desculpas e alegar que pensou que a festa, regada a bebidas, era uma reunião de trabalho. Não havia mais como negar que participou do happy hour. Ideólogo do Brexit e demitido em novembro de 2020, o ex-conselheiro Dominic Cummings se vingou do ex-chefe, atestando categoricamente a sua presença na festa.

Os índices de aprovação do governo caíram para 23%, a menor taxa desde o início da pandemia, conforme a pesquisa publicada na segunda-feira pelo YouGov. E o Partido Conservador, de Johnson, está quatro pontos atrás do Partido Trabalhista, da oposição.

Os escândalos fazem o primeiro-ministro perder apoio entre seus correligionários. “Acho que, se ele conscientemente participou do que sabia ser uma festa, então não pode sobreviver a isso”, resumiu o deputado conservador Nigel Mills. Johnson agora prova o gosto amargo do isolamento e da impopularidade vivenciados pela antecessora Theresa May, defenestrada do cargo sobretudo por seus aliados.