Farofa e Fachada: uma análise de BolsonaroPublicado às 05h34 desta quarta-feira (2)

Por José Ferreira Júnior, poeta, professor e cientista social*

*Pós-Doutorando em Ciências Sociais (UFCG); Doutor e Mestre em Ciências Sociais (UFCG); Mestre em Ensino de História (URCA)

O campo das Ciências Sociais é rico em teoria referente às interações que ocorrem em sociedade. Um dos teóricos que gosto de ler é o canadense Erving Goffman. Sociólogo e antropólogo, Goffman é autor de várias obras, das quais destaco “A representação do Eu na vida cotidiana”. Neste texto há um robusto discurso acerca do que é feito no palco chamado sociedade, por nós, atores humanos.

De acordo com Goffman, TEATRALIZAR é o verbo conjugado na vivência social e, nessa prática, afirma ser indispensável a construção e a manutenção da FACHADA. O que aponta, em palavras mais absorvíveis, para o que no senso comum se chama hipocrisia. Valho-me desse introito para sair do senso comum e, cientista social que sou, trazer explicação teórica para a última aparição pública do “presidente do Brasil”, comendo frango com farofa em uma barraca, em Brasília…

Na cena tosca, o tosco “homem público” desempenha o papel que ele julga ser a essencialidade do homem comum, do pobre, do que não tem condições de comer picanha, cujo preço do quilo é inadjetivável. A ver o vídeo, Goffman me veio à mente imediatamente! Ali estava um péssimo ator, empenhado em demonstrar o que de fato não é. Tratava-se da expressão de uma fachada: “O homem do povo que se identifica com o povo…”

Que cena patética, “presidente”! Nem saber mentir imageticamente sabe!

“Presidente”, vossa estupidez acha que alguém que consiga respirar e andar ao mesmo tempo vai acreditar naquele pastelão? Pensas que o homem comum, porque não transita no antro da política brasileira, é desprovido de educação básica que lhe faculte saber sentar e comer decentemente, sem parecer estar em um chiqueiro de porcos?

“Presidente” sua teatralização é pífia. Sua fachada, asquerosa. Sua pessoa, hedionda!

Essa aparição patética, porém, não se constitui a única. Buscando fazer seus apoiadores engoli-lo como seu igual, o “presidente” já protagonizou outras teatralizações dignas de vaias e de lançamento de ovos podres em sua direção: Em Davos, na Suíça, comeu batata frita e bebeu refrigerante; em Nova York , comeu pizza em pé, numa calçada… Rejeitado, por mais uma de suas pífias fachadas, a de antivacina…

Lembrei agora de outro escritor que gosto, o francês Roger-Gérard Schwartzenberg, quando escreve “O Estado Espetáculo”. Ali, é tratado da construção de imagem para homens e mulheres públicos… É dito por Schwartzenberg, que na construção de imagem não há preocupação com a veracidade do que se mostra publicamente. O interesse de quem constrói e de quem encarna a imagem é um somente: convencer, ou seja, fazer ver e crer. O que Weber chama de ação social racional visando a um fim.

Há, ainda, quem creia em suas estúpidas teatralizações, “presidente”… Não se preocupe, há, ainda quem creia!

Indicar-lhe Erving Goffman seria um sacrilégio, quiçá um desrespeito ao teórico, porquanto seria ver sua obra em mãos de quem NUNCA leu algo substancioso. Termino, transportando para cá as palavras de um filósofo e professor, meu amigo, Romero Venâncio, que diante da tentativa do “presidente” em se mostrar um “homem comum”, comendo frango com farofa, fora do Palácio, com precisão cirúrgica, expressou-se:

“Pretendendo passar uma ‘imagem popular’, o distinto presidente se deixou filmar comendo frango com farofa, em que se emporcalhava e sujava o ambiente igual uma criança quando tá aprendendo a comer ou brincar com a merda própria”.