Publicado às 15h56 desta quarta-feira (22)
O período de restrições e protocolos de segurança contra o Covid-19 afetou diversos setores econômicos de Serra Talhada, levando parte da população a perder as condições de trabalho e até mesmo o emprego.
As profissionais do sexo, que atuam na região da Rua 13 de Maio, no centro da cidade, procuraram o Farol de Notícias para relatar o momento de dificuldade que passam e pedir ajuda.
Entrevistamos três mulheres, uma dona de estabelecimento comercial que há quatro meses não consegue trabalhar e pagar as contas de seu comércio; e duas garotas de programa que tiveram seus proventos desestabilizados pela pandemia. Segundo o relato das mulheres, não estão conseguindo ganhar o suficiente para se alimentar direto.
Maria das Dores é uma serra-talhadense de 42 anos que trabalha há 11 anos em Serra Talhada e região fazendo programas. Segundo ela, o pouco que cobra, entre R$ 30 e R$ 50 não chegava a juntar nem um salário mínimo por mês e o auxílio emergencial do governo federal também não tem dado conta de arcar com as despesas básicas.
“O movimento já estava parado, depois que fecharam os bares ficou tudo ruim. eu pago aluguel, moro na Borborema e tem que vir todo dia, porque às vezes aparece e a gente” tem que ir para a pousada. Mas a situação está complicada, teve mês que só conseguimos 3 ou 4 clientes. Só vivo de programa, consegui tirar o auxílio e pelo menos vai dar para pagar algumas contas. Mas eu estou de ou pagar aluguel, ou pagar minhas contas, ou fazer feira. Todo pobre deve, não tem como. Esses tempos todinho meu aluguel atrasado, por isso que falei com vocês atrás de ajuda para pagar meu aluguel e ao menos uma cesta básica”, lamentou.
De acordo com Maria Paula, de 52 anos, moradora do bairro Vila Bela, sempre viu a vida de profissional do sexo como uma das opções de trabalho, mas também buscou outros empregos. Sem sucesso, optou pelos programas, mas tem visto o negócio desmoronar devido a baixa procura dos clientes. Ela ajuda suas amigas da região da 13 de Maio com uma casa de apoio alugada na rua.
“Trabalho com programa a vida toda, mas eu já tentei outros trabalhos, mas não dá certo. Como em casa de família, que ‘o caba’ morre de trabalhar e quando sai é pedindo esmola, pior do que entrou. Foi o meio que eu encontrei de sobreviver. Moro no Vila com o meu menino, que também depende de mim para tudo. Pago R$ 200,00 nessa casinha para ficar mais perto do centro de arrumar algum trocado, pago água e luz também. A nossa maior necessidade agora é alimento e alguma ajuda para pagar as contas, porque só consigo pagar alguma conta quando eu tirar o dinheiro (auxílio), atrasa e fica sempre um mês dentro. Feira mesmo eu nunca mais fiz. Compro um pacote de uma coisa e de outra com o que sobra das contas”, declarou.
Ao ver a reportagem do Farol chegando na rua, a comerciante Cida, de 55 anos, nos acompanhou para relatar seu cotidiano com seu negócio de portas fechadas e as contas se acumulando no bolso. Para ela, uma das principais preocupações são os remédios de sua companheira, que precisa tomar cotidianamente quatro tipos de medicamentos.
“Estou com minhas contas todas atrasadas porque tem quatro meses que a gente não trabalha. Moro no Vila Bela com uma mulher que toma quatro tipos de remédios controlados, não temos condição de comprar. Tenho pedido ajuda a um e a outro, quem tem condição me dá e é assim que eu estou vivendo. Tenho um barzinho, aqui nessa travessa na Concha e essa rua. Estou com aluguel, prestação de carro e eu não sei como eu vou pagar não. Tiro os R$ 600, mas só pago as coisas por baixo. Pago aluguel do ponto e já falei com a dona do prédio que tivesse paciência que está difícil. Se for juntar e calcular direito dá mais de R$ 1 mil”.
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