Do Diario de Pernambuco 

Sem estrelas, sem tapete vermelho, sem transmissão de televisão: os vencedores do Globo de Ouro deste ano serão anunciados em uma cerimônia muito reduzida no domingo (9). Com essa mudança de planos, fica a dúvida: a premiação ainda é relevante?

Os estúdios de Hollywood tendem a usar o prestígio do Globo de Ouro para promover seus filmes e programas de televisão. Este ano, porém, estão boicotando a tradicional gala.

“No momento, a maioria em Hollywood não está prestando atenção ao Globo de Ouro”, diz Marc Malkin, editor de cultura e eventos da revista Variety.

“Se Hollywood não está reconhecendo a premição de forma alguma, qual é o seu significado? Acho que nenhum”, acrescentou em entrevista à AFP.

O boicote é resultado de anos de práticas questionáveis da Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood (HFPA), responsável pela votação dos prêmios.

Os círculos internos de Hollywood acusaram o grupo, de cerca de uma centena de escritores especializados em entretenimento e vinculados a publicações estrangeiras, de diversos crimes como corrupção e racismo.

Mas o peso dessa cerimônia – superada em prestígio apenas pelo Oscar – manteve as críticas em segundo plano, até que o Los Angeles Times revelou que a HFPA não tinha membros negros, desencadeando uma reação em cadeia.

A emissora NBC, que detinha os direitos de transmissão, retirou o programa de sua grade este ano.

Assim, a 79ª edição do Globo de Ouro não terá público, cobertura da mídia ou estrelas.

A nova onda da pandemia é, no entanto, o que os organizadores argumentaram para justificar essa mudança drástica.

Mas Malkin afirma que “a HFPA tentou trazer celebridades para anunciar os vencedores. Mas nenhuma celebridade, nenhuma, concordou”.

“Barômetro”
É uma realidade muito distante do papel desempenhado até então pela premiação, considerada a “festa preferida de Hollywood”, e o primeiro grande acontecimento da temporada de prêmios.

Os filmes premiados com o Globo de Ouro geralmente tinham aumentos nas bilheterias. Por isso, nos anos anteriores, os estúdios investiram em enormes outdoors em Los Angeles para ostentar os títulos.

Os favoritos deste ano são “Belfast”, de Kenneth Branagh, e “Ataque dos Cães”, de Jane Campion, com sete indicações cada.

Mas não há outdoors, nem destaques nas redes sociais, ao contrário do que acontece com o Film Critics Awards, festivais de cinema e outras indicações locais.

“Se você ganhar um Globo de Ouro, mas não comemorar, isso importa?”, pondera Malkin.

Hollywood adora uma boa história de ressurreição e poucos se arriscariam a rejeitar publicamente a possibilidade do Globo de Ouro ser resgatado.

“Uma estatueta dourada é uma estatueta dourada. Por décadas, este tem sido o barômetro do sucesso”, afirma Richard Licata, estrategista de comunicação e CEO da Licata & Co.

“O Globo de Ouro sempre foi importante para quem está em campanha para o Oscar ou o Emmy”, acrescenta.

Depois que o escândalo estourou, a HFPA se apressou em fazer mudanças. Em 2021, a associação admitiu mais associados, em número e diversidade, do que em anos anteriores.

Proibiu seus membros de aceitar presentes e estadias luxuosas em hotéis, cortesia de estúdios que buscam votos.

“Com o passar do tempo e a reorganização da HFPA, que recuperou o controle, acho que algumas pessoas interpretaram que o boicote foi mais uma vingança pessoal”, diz Licata.

Embora em público os estúdios mantenham distância da HFPA, fontes do show business informaram à AFP que os membros da associação receberam discretamente links para ver os filmes e foram convidados para as estreias, muitas vezes a pedido de seus protagonistas.

Então, o Globo de Ouro ainda é importante?

“Esta é uma indústria que tem uma longa história de perdão. Quebram alguma coisa e depois de um certo tempo, tudo está perdoado”, aponta Licata.

E resume sem hesitar: “Sim, acredito que o Globo de Ouro vai ressurgir”.