Do Jornal Hoje

A legislação brasileira proíbe a venda, importação e propaganda de cigarros eletrônicos, mas isso não impede que o produto seja encontrado facilmente no comércio de grandes cidades, o que gera uma série de preocupações aos médicos. O Jornal Hoje ouviu especialistas, que falaram como as substâncias presentes no aparelho geram vício e problemas de saúde.

É uma grande armadilha, ele é um grande vilão. Está difícil parar de usar o cigarro eletrônico tanto ou até mais do que o cigarro convencional”, alerta Lygia Sampaio, que é pneumologista e faz parte da Comissão Científica de Tabagismo da Sociedade Brasileira de Pneumologia.

A preocupação da especialista tem um motivos, já que os pesquisadores encontraram mais de duas mil substâncias no cigarro eletrônico, sendo algumas delas cancerígenas. Com isso, o vapor inalado entra no sistema respiratório causando irritações e inflamações, chegando a causar falta de ar, tosses e problemas crônicos.

Outra preocupação dos cientistas é com a presença da nicotina nesses dispositivos. Como eles são vendidos de forma ilegal, não dá para saber ao certo qual a quantidade da substância nos aparelhos, como explica a chefe de Divisão de Avaliação de Tecnologias em Saúde (DATS), do Instituto Nacional de Câncer (Inca), Laura Barufaldi.

“A nicotina do cigarro eletrônico é a mesma nicotina do cigarro convencional. Não tem um controle desse nível de nicotina, ou seja, pode ser que se esteja ingerindo muito mais do que um cigarro convencional”, explica.A especialista ainda esclarece um mito que foi criado em torno do aparelho, que dizia que ele poderia ajudar a pessoas a pararem de fumar o cigarro convencional. “Essa estratégia da indústria, de dizer que o objetivo é para os adultos pararem de fumar, na verdade o que se vê é o uso pelo público jovem, que depois vai passar a ser um usuário do cigarro convencional também“, diz Laura.

Para quem conseguiu parar com o uso do cigarro eletrônico, os benefícios podem aparecer rapidamente.

Eu ficava bem cansada, ofegante. Outra coisa que eu percebi foram as alergias, pois como eu tenho sinusite e rinite, eu vivia com todas elas atacadas e já diminuiu bastante depois que eu parei“, conta a fisioterapeuta Adaljane Barros, há três meses sem usar o cigarro eletrônico.

O que dizem as autoridades

  • A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) afirmou, por meio de nota, que a produção, venda e importação dos cigarros eletrônicos são crimes contra a Saúde Pública e que a fiscalização é de responsabilidade de estados e municípios.
  • A Vigilância Sanitária da cidade de São Paulo, local onde foi gravada a reportagem, disse que entre janeiro de 2020 e dezembro de 2022 foram recebidas 13 denúncias de locais que vendem cigarros eletrônicos. Duas lojas foram autuadas e cinco mil itens foram apreendidos.
  • Polícia Federal disse que realiza ações ostensivas para identificar, apreender cargas e prender os responsáveis pelo contrabando dos cigarros eletrônicos. A PF afirma ainda que, entre 2020 e 2022, apreendeu mais de 186 mil cigarros eletrônicos.