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Por Adelmo Santos, poeta e escritor de Serra Talhada

O nosso querido Nego Bria acaba de completar 70 anos de vida e muitas histórias pra contar. Nos anos 60 foi o melhor jogador de futebol de Serra Talhada. Nego Bria, tinha um estilo próprio, jogando no meio campo. Bria tinha o seu estilo, batia com as duas pernas e driblava muito bem; fazia muitos gols pelos times que jogava, era sempre o artilheiro, era o goleador. Nas ruas de Serra Talhada por onde Bria passava, ele era reconhecido e muito admirado. Era ídolo das crianças que jogavam futebol imitando o seu gingado.

Bria jogava no tempo que o futebol era alegre, tinha criatividade. Quem jogava com a camisa 10 era craque com louvor, tinha os passes perfeitos e as jogadas de efeitos que se transformavam em gol. Tinha muito torcedor que ia pro campo da Várzea só pra ver Bria jogar. Seu Zé Grande, Seu Zé Lero… Meu pai também era um que quando Bria driblava, tinha um brilho em seu olhar. Não tinha televisão, o mundo era bem maior, parecia ser mais largo… Aqui em Serra Talhada, a vida era mais sofrida, ela era em preto e branco e não colorida. O Recife era mais longe; muita gente ia de trem. A maioria das pessoas não conhecia o mar, era só no futebol que encontravam um pouco de alegria.

Era no campo da Várzea que o Comercial jogava, um campo de terra cercado com duas cordas que serviam de alambrados. Quando Zé Lero chegava procurava seu cantinho; perto estava Deija Magro, Abdoral e Jarinho, dono da loja “A Majestosa”  e presidente do Comercial. Logo chegava professor Agamenom, Luís Cecília, Nestor e Gregório Ferraz. No outro lado do campo ficava professor Nogueira, Antônio Barbeiro, Francisquinho da Japonesa, Zé Carlos encanador, João Antunes, Lorena, Mané Totó, João do Bode, Manezinho Carvalho, Otacílio Batista, Valfredo, João de Carocha e Sebastião sapateiro. Quem sempre aparecia pra ver o Comercial jogar era Seu Dito e seus filhos Zé Leão e Carcará. Na torcida feminina pouca gente aparecia, Lia Lucas era a primeira, a torcida costumeira eram as filhas de Nogueira.

A torcida era animada, era uma torcida só, todo mundo ia pro campo pra ver um bom futebol. Zé Flor era o massagista, era enfermeiro do “DNOCS,” o homem das mãos santas que traziam muita sorte. A torcida aplaudia e ficava ouriçada quando via Nego Bria dando as suas arrancadas. A Jovem Guarda imperava no alto falante da praça, tocava a música d’Os Incríveis: “ Era um garoto, que como eu, amava os Beatles e os Rolling Stones…” No rádio Roberto Carlos cantava: “ O leão está solto na rua,” e no campo da Várzea quem estava solto mesmo era Nego Bria, que jogava e dava show com seu futebol de craque, com jogadas de efeitos, dando chapéus, arrodeios, canetas, banhos de cuias, bicicletas, cabeceios e fazendo gol de letra.

O ensino da cidade começava com o primário, depois vinha o admissão e acabava com o científico, não havia faculdade pra ter continuação. No colégio Cônego Torres e na Escola Normal estudavam a elite, os filhinhos de papai. O Ginásio Industrial era o colégio dos pobres; ele era o Robim Wood, dava chance aos desiguais.

Foi na década de 60 por esses campos que eu comecei a entender como a vida era sofrida, e que só o futebol botava o pobre e o rico dentro da mesma alegria. Quando o jogo começava a torcida era uma só, quando o jogo terminava todo mundo ia pra casa esbanjando alegria, comentando as jogadas feitas pelo Nego Bria. Só mesmo o futebol pra fazer esse milagre. Toda vez que o gol saía, botava os ricos e os pobres dentro da mesma alegria.

Parabéns, Nego Bria! Por tudo que você fez pelo futebol de Serra Talhada. Que Deus lhe proteja para que você possa continuar jogando por muito tempo ainda!

FOTOS; ALEJANDRO GARCIA/ FAROL

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