Jornal do Brasil

Em 31 de maio é celebrado o Dia Mundial de Combate ao Fumo, data para alertar a população sobre o consumo de tabaco e doenças relacionadas.

O tabagismo é a principal causa de morte evitável em todo o mundo e está relacionado a 90% dos casos diagnosticados de câncer de pulmão. Em 2018, são estimados 31.270 novos casos da doença no Brasil, segundo o INCA. Apesar dos números alarmantes, há otimismo quando se fala no tratamento deste tipo de tumor.

Estudos recentes apontam a imunoterapia como um tratamento cada vez mais relevante para o câncer de pulmão, com ganhos em sobrevida e taxa de resposta. Na próxima sexta, 1º de junho, terá início o encontro anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO), principal evento de oncologia no mundo, onde serão apresentados novos estudos sobre esse tratamento.

O Dr. Ivan Moreira Junior, oncologista e gerente médico do Grupo CON – Oncologia, Hematologia e Centro de Infusão, esclarece dúvidas sobre câncer de pulmão e imunoterapia.

Quais são os sinais para identificar o câncer de pulmão?

Os sintomas no câncer de pulmão acontecem na maioria das vezes tardiamente, quando a doença já se encontra em estágio avançado. Estes sintomas são, comumente: tosse persistente, tosse com sangue, falta de ar, dor torácica, entre outros.

Quais são os maiores desafios relacionados a esse tipo de câncer?

Um dos maiores desafios é o diagnóstico precoce para que possamos aumentar a chance de cura dessa doença, que só é possível quando descoberta em estágios iniciais. Outro grande desafio é a conscientização, principalmente da população jovem, a abandonar ou não iniciar o hábito do tabagismo, o que seria o fator de maior impacto na redução da incidência desta doença tão letal.

Além do consumo de tabaco, quais são os outros fatores de risco?

O tabagismo é disparado o principal fator de risco para o desenvolvimento de câncer de pulmão, porém, não é o único. Outros fatores implicados são: exposição a substâncias químicas como asbestos, radônio etc.; pacientes portadores de doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC); pessoas submetidas a tratamento prévio de radioterapia onde está tenha atingido os pulmões.

Quais são as formas de prevenção?

Cerca de 80-90% dos casos de câncer de pulmão estão relacionados ao tabagismo. Então, sem dúvidas, a principal prevenção é cessar o hábito de fumar. Também é sabido que pessoas que convivem com fumantes têm uma chance aumentada desta doença (tabagismo passivo), sendo importante a diminuição da exposição destas pessoas também.

Quais são os benefícios da imunoterapia no tratamento do câncer de pulmão?

Imunoterapia é uma das modalidades para tratamento de câncer. Esta é realizada através de medicamentos que estimulam o sistema imune do próprio paciente a agir contra o tumor. Uma das doenças que mais se beneficiou do desenvolvimento deste tratamento foi, sem dúvidas, o câncer de pulmão.

Quais são os pontos negativos da imunoterapia?

É importante mencionar alguns pontos. O primeiro é o alto custo destes medicamentos. Outra questão é que não são todos os pacientes que se beneficiam desta modalidade de tratamento. Um outro ponto de atenção é que, apesar de ser um tratamento na maioria das vezes bem tolerado, o mesmo não é isento de efeitos colaterais. Ainda assim, são efeitos normalmente menos frequentes e mais brandos que os que ocorrem num tratamento de quimioterapia, por exemplo.

Considerando prós e contras, há um otimismo em relação a esse tratamento, principalmente para o câncer de pulmão. Por que esse tema vem recebendo tanta atenção na oncologia?

Essa modalidade tem trazido grande otimismo não só por estar mudando os padrões de tratamento do câncer de pulmão, como melhorando a eficácia de alguns tratamentos que há muito não tinham evolução, como a quimioterapia.

Como os estudos apresentados em congressos como AACR e ASCO repercutem na prática?

Estes estudos têm mudado os padrões de tratamento em câncer de pulmão. Vemos como a imunoterapia é eficaz, e como sua associação com a quimioterapia, por exemplo, pode promover melhores resultados desta. Atualmente é uma terapia disponível apenas para subgrupos com doença avançada, mas alguns estudos mostram que provavelmente a terapia terá benefício também em pacientes com doença mais precoce.

Há previsão de novos dados e estudos sobre câncer de pulmão a serem apresentados no ASCO 2018?

Existe grande expectativa, principalmente relacionada a três estudos especifico: a atualização dos estudos Checkmate 227 e IMpower 150; e a apresentação Keynote 042. O que estes estudos têm em comum é a imunoterapia, e provavelmente trarão mudanças no tratamento padrão do câncer de pulmão. Acredito que os principais trabalhos esse ano serão relacionados a esse tipo de câncer.

Que outros tratamentos são indicados para o câncer de pulmão?

É importante falar que apesar da grande atenção em imunoterapia, tivemos avanço em outras modalidades em câncer de pulmão. Um exemplo é a terapia alvo molecular, onde usamos medicamento individualizados dependendo da mutação que tenha especificamente do câncer de pulmão. Essa terapia é muito interessante, uma vez que, entendendo qual foi o principal defeito causador daquele câncer, podemos utilizar um medicamento que tenha maior possibilidade de êxito, com menores efeitos adversos. Também é uma terapia que evolui a cada dia com novos alvos descobertos e novas drogas desenvolvidas. Com esse panorama, acredito que tenhamos cada vez mais notícias animadoras no tratamento do câncer de pulmão.