joão-pifeJoão Alfredo Marques dos Santos é o nome de batismo do músico caruaruense “João do Pife”, de 72 anos. Há 57 anos, porém, ele deixou o sobrenome de nascimento de lado e aderiu como identidade ao pequeno instrumento de sopro produzido com bambu. Há 20 anos, o artista ensina um grupo de idosas a tocar pífano em Caruaru, atividade que concilia com a continuidade da “Banda de Pífanos Dois Irmãos”, criada pelo pai do músico, em 1928.

Com o pífano, João viajou por vários países e mostrou a cultura do Nordeste para o mundo. Sem ele, porém, crê que a vida seria diferente: “João do Pife sem o pife não é nada. Sem o pife sou um João qualquer. Com ele sou forte, me sinto completo. É minha arma”.

Segundo o pifeiro, a difusão da cultura popular nordestina ocorre “de inverno a verão”, mesmo sem o pífano garantir cachês altos como os do “pessoal que vem de fora” – uma crítica à música estilizada. “Nossa banda permanece viva desde 1928. Já essas bandas acabam e não saem daqui”, diz.

João professor

Há mais de 20 anos, ele passa os ensinamentos que aprendeu com o pai para um grupo de idosas no Centro Social São José do Monte, localizado no bairro São Fransciso. Aluna desde o início, Margarida de Melo, de 69 anos, afirma que o pífano mudou a vida dela. “É uma alegria profunda que eu sinto. Eu deixo tudo para vir. Quando eu estou doente e não venho, é uma morte. Fico muito feliz, me orgulho do meu pedaço de pau. Já pedi aos meus filhos que coloquem o meu pife no caixão”.

A banda formada pelas idosas surgiu em 1996 e atualmente conta com sete integrantes, mais cinco novatas que estão joão do pife caruaru aulas (Foto: Lafaete Vaz / G1)criando outro grupo musical. “Toco caixa, zabumba, triângulo, o que precisar eu toco. Essas aulas são como terapia. Nos divertimos e saímos para tocar em outra cidade. Se estamos estressados, quando chegamos aqui, esquecemos tudo. É muito divertido. Ninguém sente mais a dor da chikungunya”, brinca Maria das Dores, de 63 anos.

O “João professor” revela a motivação em transmitir às alunas a tradição do pífano. “O que dá meu viver é essa terceira idade, que é segura e gosta do que faz. Se não fossem elas, como eu ia viver? É por causa delas que sou o que sou. Temos tantos anos juntos de aulas e apresentações. O pife é vida nova. Imagina esses idosos dentro de uma casa sem ter ocupação? Ficam mais velhos. Aqui, tocando, dançando, viramos crianças”, conta João do Pife.

G1 Caruaru