Do G1

A cidade americana de Kenosha, no estado de Wisconsin, viveu mais uma madrugada, a terceira consecutiva, de protestos depois de uma violenta abordagem policial que deixou um afro-americano gravemente ferido.

A polícia afirmou que durante o protesto desta quarta-feira (26) duas pessoas morreram baleadas e uma ficou ferida.

Os novos confrontos começaram quase duas horas após o início do toque de recolher em Kenosha, às 20h de terça-feira (25), horário local.

Reportagens da televisão local relataram que policiais tentaram com um megafone dispersar um grupo de manifestantes que se reuniu em frente ao Tribunal do Condado de Kenosha. Sem sucesso, a polícia acabou jogando gás lacrimogêneo contra o grupo. Os manifestantes lançaram garrafas d’água e fogos de artifício em direção aos agentes.

Cinquenta policiais permanecem em torno do prédio oficial, que já foi atacado na noite anterior, segundo a “CNN”.

Tiros

Após a dispersão policiais, uma parte dos manifestantes caminharam por ruas próximas e começaram a se concentrar um posto de gasolina que ficava a alguns quarteirões de distância. Um grupo de homens armados fazia dizia fazer a segurança do posto e discutia com os manifestantes.

Depois da meia-noite, tiros foram disparados do lado de fora do posto. Duas pessoas morreram baleadas e uma ficou ferida. O Departamento de Polícia de Kenosha afirmou que a terceira vítima foi levada ao hospital com “ferimentos graves, mas não fatais”.

Mais cedo, o xerife David Beth afirmou a polícia estava em busca de um homem armado que teria feito os disparos, de acordo com o “New York Times”.

Truculência policial

A onda de protestos começou no domingo (23) depois que um homem negro de 29 anos foi atingido várias vezes por um policial diante dos três filhos durante uma abordagem.

Um vídeo mostra Jacob Blake sendo levado até um carro enquanto é seguido por dois policiais armados. Após o homem abrir a porta do veículo, os agentes de segurança começam a atirar. Blake foi levado para o hospital em estado grave.

De acordo com o seu pai, Jacob Blake está com o corpo paralisado da cintura para baixo, mas ainda não sabe se as sequelas serão permanentes. Ele permanece internado em estado grave no Hospital Froedtert, em Milwaukee.

A família de Blake pediu calma, ante o aumento da revolta nos Estados Unidos frente ao novo caso de violência policial contra a comunidade negra, que reacendeu os protestos contra o racismo.

“De verdade, precisamos apenas de orações”, disse Julia Jackson sobre o ataque a seu filho Jacob Blake.
“Enquanto caminhava por esta cidade, observei muitos estragos. Isto não reflete o meu filho, nem a minha família. Se Jacob soubesse o que está acontecendo, a violência e destruição, teria muito desgosto”, afirmou Julia em entrevista coletiva.

Vídeos contra a impunidade

Como ocorreu com George Floyd, afro-americano de 46 anos que morreu asfixiado em 25 de maio quando um policial branco ajoelhou por vários minutos em seu pescoço, a tentativa de detenção de Blake foi filmada por uma testemunha e o vídeo viralizou nas redes sociais.

“O que justifica esses tiros? O que justifica fazer isso na frente dos meus netos?”, protestou o pai de Blake, também chamado Jacob, em entrevista ao jornal “Chicago Sun Times”.

Os dois policiais envolvidos na ação foram suspensos e uma foi aberta uma investigação. A polícia de Kenosha rechaçou as críticas e pediu que se aguarde os resultados da investigação feita pelo Departamento de Justiça de Wisconsin.

Jacob Blake (à direita), em foto de 2019 tirada com uma prima. Ele levou ao menos 7 tiros em uma ação policial no Wisconsin, nos EUA — Foto: Courtesy Adria-Joi Watkins via AP

O presidente americano, Donald Trump, não comentou o caso. Já o candidato democrata à Casa Branca, Joe Biden, considerou que o racismo representa “uma crise de saúde pública” e exigiu uma investigação a fundo do ocorrido.

Os democratas pediram à Legislatura do estado, controlada pelos republicanos, que discuta o pacote de projetos apresentado no começo do ano visando a uma reforma da polícia.