Instituto de Ciências Biológicas da UPE, no Recife — Foto: Reprodução/Google Street View
Por G1
Usados como objetos de estudo em projetos de pesquisa e aulas de anatomia, cadáveres humanos estão em falta para os alunos e pesquisadores dos cursos de saúde da Universidade de Pernambuco (UPE). Por esse motivo, a instituição está recrutando pessoas para se declararem doadoras de corpos em vida.
Um dos coordenadores do Programa de Doação de Corpos da universidade, o professor Edivaldo Xavier, disse ao g1 que o número de cadáveres recebidos pela instituição vem diminuindo nos últimos anos.
“Na década de 1990, nós recebíamos, por ano, entre oito e dez corpos. Porém, com o avanço das universidades particulares e os sepultamentos de cadáveres não reclamados custeados pelo governo, houve um decréscimo. Hoje, se nós recebemos um cadáver em um ano, é muito”, informou.
Segundo Xavier, atualmente cerca de 1.500 estudantes estão matriculados nos cursos de saúde oferecidos nos campi da UPE no Recife e em Garanhuns, Arcoverde, Serra Talhada e Petrolina.
“Não há material cadavérico para todos as turmas. Todos os corpos chegam pelo Instituto de Ciências Biológicas (ICB), de onde são distribuídos. Pelo quantitativo de entrada, que é muito pouco, acaba faltando o envio dos cadáveres para esses campi com frequência”, explicou o professor.
Por isso, no lugar dos corpos, são utilizados bonecos de plástico. “Todos os campi têm materiais sintéticos em quantidade suficiente, mas não é a mesma coisa. Os bonecos complementam o ensino, mas nunca poderão substituir os corpos”, disse.
Como ser um doador
Quem tiver interesse em se declarar como doador de corpo em vida pode procurar o Laboratório de Ensino e Pesquisa em Anatomia Humana (Labepah), localizado no prédio do Instituto de Ciências Biológicas da UPE, no bairro de Santo Amaro. Depois disso, é necessário:
- Preencher um formulário de inscrição;
- Assinar os termos de intenção e de consentimento em doar o corpo (os documentos também devem ser assinados por duas testemunhas);
- Levar os papéis a um cartório para fazer o registro da documentação;
- Retornar ao laboratório e entregar as guias dos documentos registrados com a cópia de um documento de identidade.
As pessoas interessadas também podem entrar em contato com a instituição pelo telefone (81) 3184-1242.
Doadores sem sepultamento
Atualmente, a pessoa que se disponibilizar para doar o próprio corpo para a pesquisa científica deve estar ciente de que poderá não passar por enterro ou cremação depois que morrer.
“Hoje os corpos não são sepultados, a não ser que a família diga que deseja fazer o sepultamento quando ele não dá mais para ser usado. Mas isso pode levar 15, 20, 30 anos”, disse o professor Edivaldo Xavier.
Por outro lado, o coordenador do laboratório recordou que o uso dos corpos para fins acadêmicos também é capaz de salvar a vida de outras pessoas.
“Com o corpo, gente pode desenvolver uma técnica cirúrgica e prestar uma aula de melhor qualidade para os alunos da área da saúde. E isso pode se reverter em alguma solução para uma doença que até então não tinha uma cura, um tratamento ou uma técnica cirúrgica adequada ou menos invasiva”, afirmou.