Da Folha de PE

O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva e seus colaboradores começaram nesta segunda-feira (7) a moldar o futuro do que será seu terceiro mandato, sob os olhos atentos do mercado e da comunidade internacional.

Lula, de 77 anos, volta ao trabalho depois de uma semana de descanso na Bahia ao lado da futura primeira-dama, Rosângela da Silva, conhecida como Janja, após uma intensa campanha eleitoral.

Nesta segunda, Lula se reuniu com sua equipe em São Paulo e deve viajar na terça-feira (8) a Brasília para acompanhar de perto a transição e as negociações com o Congresso, informaram seus aliados à AFP.

Também deve se reunir com o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira.

A equipe de transição de Lula trabalhará nas salas do Centro Cultural Banco do Brasil, na capital.

Sob a coordenação do vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin, começará a receber informações entregues pelo governo de Jair Bolsonaro.

O governo eleito tem um desafio imediato: garantir recursos para cumprir promessas de campanha, como a manutenção do Auxílio Brasil, antigo Bolsa Família, em R$ 600.

“Não podemos entrar em 2023 sem o auxílio emergencial, sem aumento real do salário mínimo, são coisas que foram contratadas com o povo brasileiro”, disse Gleisi Hoffmann, presidente do Partido dos Trabalhadores (PT) de Lula.

Sem recursos suficientes no orçamento, aliados de Lula negociam com o Congresso a aprovação de um projeto de emenda constitucional que permita aumentar os gastos, contornando a regra do “teto de gastos”.

O projeto deve ser aprovado antes de 15 de dezembro.

Somente para o Auxílio Brasil – com um adicional prometido de R$ 150 para famílias com crianças de até 6 anos – seriam necessários R$ 70 bilhões.

Lula se prepara para um embate com o Congresso. O Partido Liberal de Bolsonaro terá em 2023 a maior bancada em ambas as câmaras, uma oposição mais dura do que a protagonizada pelo Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), durante os dois primeiros mandatos de Lula.

Porém, líderes do “Centrão”, partidos que costumam se aliar ao governo, rapidamente mostraram disposição para o diálogo.

O esquerdista, presidente entre 2003 e 2010, derrotou no segundo turno Jair Bolsonaro (PL), em uma campanha focada na promessa de retorno à prosperidade, sem muitos detalhes de como seria o governo.

Agora enfrentará “o desafio de toda esquerda na América Latina nos últimos anos” que chegou recentemente ao poder, disse o cientista político Leandro Consentino.

Ou seja: “Como compatibilizar a responsabilidade fiscal com uma pauta social bastante pré-anunciada, num contexto de pós-pandemia” de inflação e possível recessão mundial, acrescentou o professor do Instituo Insper de São Paulo.

O mercado em suspense

A realidade econômica do Brasil está longe da bonança dos anos 2000, quando Lula conseguiu financiar suas políticas sociais surfando no ‘boom’ das matérias-primas.

Prometeu conciliar responsabilidade fiscal, social e sustentável, mas mantém o mercado em suspense sobre a definição de quem será seu ministro da Fazenda, incerteza que se estende a todas as pastas.

Ao contrário de Bolsonaro, que criou um “superministério” da Economia, Lula prevê desdobrar a pasta em três: Fazenda, Planejamento e Indústria e Comércio.

Fernando Haddad, ex-ministro da Educação, e Aloizio Mercadante, coordenador de programa do governo de Lula, podem ser encarregados na área econômica, especula a imprensa brasileira.

COP27, pré-estreia internacional
O ex-metalúrgico prometeu combater o desmatamento na Amazônia, que disparou no governo de Bolsonaro, e dar maior protagonismo à proteção ambiental, caminho para reconstruir o prestígio do Brasil no exterior, segundo analistas.

Antes de tomar posse, terá sua “pré-estreia” internacional na COP27 no Egito (até 18 de novembro), para onde viajará convidado pelo presidente Abdel Fattah al-Sissi.

“A questão climática agora é uma prioridade estratégica do mais alto nível de governo”, disse em entrevista à Folha de S. Paulo a ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva, que acompanhará Lula no Egito. Marina Silva é apontada como possível responsável pela pasta mais uma vez.

A proteção da Amazônia será fundamental para recuperar a credibilidade do país frente à comunidade internacional e destravar acordos comerciais como o da União Europeia e o Mercosul, afirmou André César, analista da consultora Hold.