Foto: Reprodução/TV Globo

Do G1 PE

Pacientes em macas no chão, amontoados em corredores e demora no atendimento é a realidade do Hospital Getúlio Vargas, no bairro do Cordeiro, na Zona Norte do Recife. A unidade de saúde, uma das maiores do estado e referência na área de ortopedia, recebe pacientes de todo o estado, inclusive com Covid-19. Imagens enviadas ao WhatsApp da TV Globo, filmadas nesta quinta-feira (27), mostram a emergência lotada e macas com pacientes amontoadas no corredor, inclusive no chão. No hospital, pacientes, acompanhantes e profissionais de saúde ficam aglomerados, sem condições de respeitarem o distanciamento social necessário para evitar contágio pela Covid.

Quem precisa frequentar o local afirma que, além da lotação, outro problema é a mistura de pacientes com e sem sintomas respiratórios. O direção do hospital afirma ter áreas separadas para pessoas com ou sem Covid-19 (veja resposta mais abaixo). A dona de casa Rafaela da Silva levou a mãe, que tem erisipela, para a emergência do hospital e levou um susto quando viu a situação do setor. Ela deu entrada na unidade de saúde na manhã da quarta-feira (26) e, até o fim da manhã desta quinta-feira, a mulher ainda não tinha sido avaliada por um cirurgião vascular.

“Minha mãe demorou para conseguir uma maca. Chegou por volta das 11h e conseguiu uma maca quase à noite. Está tudo misturado, ninguém sabe dizer quem é Covid, quem não é. É um absurdo como esse hospital está. O banheiro podre, muita gente, um em cima do outro, é uma desorganização muito grande. Como a UPAs continuam mandando gente para cá com um hospital tão cheio?”, declarou.

A direção do local diz que, para pacientes com sintomas da doença, existe um setor específico, separado dos demais. No entanto, a superlotação aumenta o risco de contágio. O HGV é um dos hospitais de Pernambuco à beira do colapso, em meio ao pior momento da pandemia de Covid-19. No estado, estão cheias as emergências, as Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e enfermarias. Esses locais precisaram ser adaptados com alas exclusivas para pacientes com Covid. Há três meses, a ocupação dos leitos de Unidade de Terapia Intensiva para pessoas com sintomas de Covid está acima de 90%. Atualmente, são 97% de ocupação, com 360 pacientes esperando por uma vaga de UTI.

A alta demanda de vagas para quem está com Covid impacta diretamente no atendimento das outras doenças. A mãe da dona de casa Vânia Damião sofreu uma queda e quebrou o punho. Ela precisou passar por uma pequena cirurgia e, segundo a filha, enfrentou a lotação da unidade. “A situação está muito precária. É um por cima do outro, é uma situação impressionante, dá desgosto de ver. É um hospital tão grande, mas não tem vaga”, afirmou Vânia Damião. De acordo com um levantamento do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) do Recife, em janeiro e fevereiro, foram enviadas, em média, 450 ambulâncias por mês para atender a ocorrências de síndrome respiratória. Desde março, a média mais que triplicou: foram 1.460 envios, em média, por mês.

“Essa segunda onda tem se caracterizado com a presença do adoecimento de pacientes mais jovens, isso vem aumentando de forma simultânea. Nós estamos participando, também, dos pacientes de menor complexidade para maior complexidade. Isso tem sobrecarregado nosso serviço, tem aumentado o tempo de resposta para as pessoas que precisam do atendimento do 192, tem impactado, também, na chegada dos pacientes às unidades”, afirmou o diretor do Samu Recife, Leonardo. A Secretaria Estadual de Saúde (SES) afirmou, por meio de nota, que a direção do HGV “reconhece a demanda de pacientes na unidade, que tem sido agravada pela retração de serviços municipais, que acabam por encaminhar pacientes de baixo e médio risco para estes serviços”.

A secretaria afirma que o HGV, mesmo sendo uma unidade de alta complexidade, “não recusa atendimento, sempre priorizando sempre os casos mais graves”, e está com equipe multiprofissional “atuante, abastecida de insumos e realizando exames laboratoriais e de imagem, além de atuar na maior celeridade nas cirurgias de urgência, para dar maior rotatividade aos leitos”. “Quando necessário, e o paciente possui condições clínicas, também há transferência para serviços de retaguarda”, afirmou a direção do HGV. O hospital também informou que “cirurgias de urgência estão ocorrendo e que as eletivas, que são aquelas agendadas, continuam suspensas, conforme orientação de portaria estadual até o próximo 6 de junho”.

A nota também diz que o hospital possui um Plano de Contingência para a Covid-19 e que “todo paciente que apresente qualquer sintoma gripal, ou relato de contato com caso positivo para Covid-19, é encaminhado para uma área específica da unidade, ficando, assim, isolado dos pacientes que buscam o serviço com outros quadros”. O acesso à área dedicada às pessoas com sintomas de Covid é feito de forma “exclusiva”, e essa parte do hospital “possui equipes de profissionais diferentes e que atuam apenas no setor. “Por fim, a direção do HGV frisa que todas as pessoas admitidas no Getúlio Vargas, independente da área, ainda recebem as devidas orientações para uso de máscara e outras medidas de prevenção no ambiente hospitalar”, disse a SES.