Documentos obtidos pela revista Semana, da Colômbia, reforçam a suspeita que já era alertada pela oposição e pela ONU (Organização das Nações Unidas) de que a ditadura de Nicolás Maduro tem dado proteção e apoio a guerrilheiros e dissidentes de guerrilhas colombianas em território venezuelano.
Tal movimentação de grupos ilegais na fronteira existe desde os anos 1970 e vem se acentuando, devido ao acirramento das tensões na Colômbia. O atual presidente Iván Duque tem dificultado a implantação do acordo de paz com a ex-guerrilha das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), desmobilizada em 2016.
Duque também suspendeu as negociações com a ainda ativa guerrilha ELN (Exército de Libertação Nacional). Os serviços de inteligência colombianos indicam que esses grupos têm se mobilizado nos estados Bolívar e Apure, entre outros, na Venezuela, onde montaram acampamentos de refúgio e de treinamento.
Os documentos revelados pela revista apontam que a ditadura venezuelana tem fornecido recursos para manter os acampamentos e dado armas a estes grupos.
Um dos papéis, assinado pelo almirante venezuelano Remigio Ceballos, diz que as tropas venezuelanas na região devem “satisfazer as necessidades básicas de higiene e alimentos, prover o que necessitem e deixar que exerçam suas atividades sem interferência.”
A inteligência colombiana estima que há 1.000 homens do ELN e 600 dissidentes das Farc na Venezuela, mas que este número pode ter aumentado para 2.000 guerrilheiros nos últimos tempos devido ao recrutamento realizado nas regiões de fronteira.
Os documentos obtidos pela revista informam, ainda, que os insurgentes colombianos têm revelado segredos das Forças Armadas colombianas a Maduro, principalmente no que diz respeito a movimentações e a localização das tropas na fronteira. Segundo o material, a entrega dessas informações é a condição para que a Venezuela permita que busquem refúgio ali.
Maduro já disse, em mais de um discurso, que está preparado para um ataque por parte do Exército colombiano. Duque negou que tenha planos de atacar a Venezuela, mas pede ajuda a Juan Guaidó, líder da oposição na Venezuela, para conter a formação desse exército de guerrilheiros na fronteira.
Há temor de que estas forças poderiam desestabilizar a segurança em toda a América do Sul, caso a situação se torne um conflito armado. Os documentos obtidos pela publicação colombiana vieram do Sebin (Serviço de Inteligência Bolivariano), que se encontra rachado.
Em abril, o líder do Sebin permitiu a fuga do preso político Leopoldo López, hoje asilado na embaixada da Espanha. O então comandante da instituição acabou se refugiando nos EUA. Também haveria, entre os documentos, informes da Força Armada Nacional Bolivariana (Fanb).
Há pouco mais de uma semana, duas ex-lideranças das Farc, Iván Márquez e Jesus Santrich, divulgaram um vídeo no qual anunciam que decidiram retomar armas e “refundar as Farc”. Houve rejeição à ideia dentro da Colômbia, onde mais de 7.000 combatentes deixaram as armas.
O líder máximo da Farc, agora um partido político (Força Alternativa Revolucionária do Comum), Rodrigo “Timochenko” Londoño, condenou a ação dos ex-colegas, que haviam estado com ele em Cuba durante as negociações do acordo de paz, aprovado em 2016. Timotchenko os proibiu de usar o nome das Farc.
Duque alertou que esses ex-membros das Farc perdem seu status de desmobilizados ao pegar em armas e, se forem capturados, irão enfrentar a Justiça comum e não o tribunal especial para crimes da guerrilha.