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Atualizada às 21h

A Marcha das Vadias já estava marcada para este sábado (28), no Recife, quando foi divulgado o caso de um estupro coletivo contra uma jovem no Rio de Janeiro, no último dia 25. A mobilização só aumentou: “A gente vinha com 11 a 15 mil curtidas no Facebook e depois do ocorrido passou para 37 mil”, diz Ju Dolores, uma das organizadoras do ato. A atrocidade no Rio marcou a caminhada do Recife, que foi da Praça do Derby à Praça do Diário, ambas na área central do Recife. Foi a sexta edição do evento na cidade. Mais fotos do ato você pode conferir em nossa página no Facebook.

O ato foi pacífico. Em vários momentos, ativistas emocionavam a todos ao parar e, de mãos dadas, contar de 1 a 33, em referência ao número de acusados do crime. Em seguida, repetiam em coro as palavras da vítima: “quando eu acordei, tinha 30 homens em cima de mim”. A organização afirma que o número de participantes foi maior do que o do ano passado, quando foram estimadas cerca de 1.000 pessoas. O sargento Ernande, da Polícia Militar, afirma que havia 250 ativistas.

Na Praça do Derby, onde a concentração aconteceu, houve oficina de pintura de cartazes e faixas, leitura de poesias. Acompanhado de uma batucada, um grupo cantava, transformando em ativismo letras de funks e outras músicas, a maioria conhecida pelo machismo e misoginia. Em seguida o grupo seguiu caminhada pela avenida Conde da Boa Vista. O trânsito chegou a ser interrompido em alguns momentos durante a caminhada.

Roberta Rego/FolhaPE

Agressão em ônibus aproximou estudante do feminismo

Entre os gritos de guerra, alguns faziam críticas ao governo interino de Michel Temer. Outros criticavam o machismo, a homofobia e a transfobia. “Feminismo é revolução”, dizia um dos gritos de guerra. “Ô seu machista, seu machista uó, isso aqui não é só sexo, a nossa luta é bem maior”, dizia outra canção, em ritmo de ciranda.

“Minha reação é lutar!”, conta uma estudante de 18 anos que não quis revelar o nome.Ela sofreu assédio sexual violento dentro de um ônibus no Recife em pleno horário de pico. “Não é culpa sua, mas você se sente envergonhada, com nojo”, disse. Ela conta que recebeu muita ajuda das pessoas que estavam no coletivo, tanto homens quanto mulheres, que expulsaram o agressor. Mas chegou na aula trêmula e chorando muito, A partir do ocorrido, passou a ler mais sobre o feminismo e relatos de outras mulheres.

Um grupo de mulheres do setor audiovisual de Pernambuco acompanhou o ato para captar imagens e fazer oito curta metragens. Esses vídeos deverão ser divulgados nas redes sociais a partir de terça-feira. “É tudo olhar feminino, da concepção à identidade visual. Decidimos tudo em uma reunião esta semana”, explica a produtora Carol Vergolino, uma das integrantes do grupo. E completa: “Não são filmes só sobre a marcha, mas sobre as mulheres na sociedade”.

Rafael Furtado/Folha de Pernambuco
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Manifesto foi lido por participantes em ato final na Pracinha do Diario

Entenda a situação
A campanha que está tomando conta da internet esses dias sobre a cultura do estupro é o objeto de combate daqueles que lutam pela igualdade de gênero. Somente em Pernambuco, de janeiro a abril, 660 estupros foram registrados. Aponta a Secretaria de Defesa Social (SDS). Esse número representa, em estatística, uma média de 5,4 crimes desse tipo cometidos por dia. Só de mulheres adultas são 254 vítimas.

Se sairmos do Estado e olharmos o Brasil, os números são ainda mais absurdos. Segundo dados recentes do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, foram mais de 47 mil casos em 2014, ou seja: uma ocorrência a cada 11 minutos. No entanto, por mais chocante que seja, a situação ainda pode ser muito pior. Afinal, a maioria desses crimes não são notificados. “São raras as vítimas que denunciam, por vergonha e medo. Mas são crimes cuja representação contra o autor depende inteiramente delas”, diz a titular da 1ª Delegacia da Mulher, Ana Elisa Sobreira.

Da Folha de Pernambuco