Do Diario de Pernambuco
Ele viu muitos pacientes morrerem, ajudou a salvar outros, contraiu o coronavírus, foi paciente grave e doou plasma. Antes de receber a vacina, o médico colombiano Norberto Medina atravessou o tortuoso caminho da pandemia e ficou à beira da morte.
Ainda afetado por uma alteração hormonal associada ao vírus, este médico de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) de 41 anos voltou a aliviar as dores dos pacientes em uma UTI de Bogotá, o maior foco de infecção do país.
A AFP acompanhou Medina por alguns períodos do ano em que ele precisou se separar da família e conhecer a solidão dos moribundos, como diria o sociólogo Norbert Elias.
Fadiga 
Medina faz parte de uma equipe de aproximadamente 60 pessoas que se alternam em três turnos diários para atender os mais afetados pela pandemia.
A Colômbia viveu duas ondas de Covid-19. Hoje é o segundo país com mais casos da América Latina (2,3 milhões) e o terceiro com maior número de mortes (61.243).
Nos períodos mais graves, os poucos médicos que não se infectaram com o vírus dobraram seus turnos, enquanto a “frustração” reinava.
Foi nesse momento que Medina assumiu “o primeiro golpe” para proteger sua família. Junto com sua esposa, médica de emergências, decidiu se separar de seus filhos de um, oito e dez anos. Os avós se encarregaram das crianças enquanto eles enfrentavam a pandemia na linha de frente.
Ela teve sintomas leves, mas Medina começou a piorar no 11º dia. Dificuldade para respirar, febre, “angústia”. Seu antecedente de asma os preocupava.
“Numa manhã eu acordei e disse à minha esposa ‘não aguento mais'”, conta Medina. Ele pegou o carro e dirigiu sozinho até o hospital mais próximo. Diagnóstico: pneumonia associada ao SARS-CoV-2, internação imediata na UTI.
“Quando recebi essa notícia, saí do papel de médico e entrei no papel de paciente”, afirma. Os médicos decidiram intubá-lo, mas ele se negou e optou por tratamentos alternativos. Para sua mulher, foram momentos de “ansiedade”.
A doença diminuiu pouco a pouco. Ele recebeu alta depois de 15 dias internado, embora continuasse indisposto. Em casa, os sintomas foram desaparecendo, mas as sequelas permaneceram.
Em agosto, ainda convalescente com uma dispneia que o impedia de respirar, Medina doou plasma sanguíneo, um tratamento com anticorpos de quem sofreu quadros graves da doença para ajudar pacientes infectados.
A essa altura, ele já havia retornado ao hospital para trabalhar. Em fevereiro deste ano, finalmente foi vacinado e agora diz que trabalha “mais relaxado”. Medina quis ser médico desde os dez anos, conta ele. Estudou mais de uma década e planeja continuar se especializando em infectologia. A pandemia tirou dele vários colegas, mas não sua “vocação”.