MEMÓRIA: Bons tempos em que a Festa de Setembro não servia como trampolim político

Por Ivanildo Salvador de Melo, de Serra Talhada

Chegou o mês de setembro e com ele tem início em nossa cidade as comemorações da nossa padroeira, Nossa Senhora da Penha, cuja parte das comemorações profanas tornou-se popularmente conhecida por Festa de Setembro. Muita gente aguarda esse período apenas esperando curtir a Festa de Setembro, outros por ser um período de um relativo descanso em suas atividades, já que o dia principal da festa, dia 07,  vem seguido do dia o qual realmente é o dia da Padroeira e esses 02 dias são feriados na cidade. Por falar em padroeira, alguém sabe quem foi Nossa Senhora da Penha? Já parou para pensar nesse assunto?

Aposto que muita gente nem sequer lembra que é por causa dela todas essas comemorações que culminam com a grande procissão do dia 08 de setembro! Porém, aqui as coisas se invertem: o dia mais importante das festividades é o dia 07 e não o dia dela. Pois bem, não vou me colocar ao lado das pessoas que, realmente, aguardam o período para comemorar o lado religioso das festividades. Sou igualmente a tantos outros que esperam essa época do ano para festejar o lado profano da festa, ou seja, a Festa de Setembro, mesmo!  Mas, há muito tempo a Festa de Setembro de Serra Talhada perdeu a sua magia! Veio o progresso trazendo com ele novos tempos e deixando pra trás tempos que não voltam mais. É um espaço não recuperado, desprendido do presente! Tempos em que aguardávamos ver a Praça Sérgio Magalhães com o seu vai-e-vem de pessoas, cada  um querendo e estreando a sua roupa nova, seu novo tênis. Lembro-me  de Dona Darci, a eterna costureira da minha família, cheia de encomendas nessa época do ano, mas que sempre encontrava algum tempo para fazer as nossas roupas, tudo na medida certa! Gente da melhor qualidade.  

Pois bem, aquela praça era o local mais disputado da cidade! Lembro que de um lado ficavam as barracas com seus nomes de novelas da época ( minha época: Livre Para Voar, Um Sonho a Mais, A Gata Comeu, Vereda Tropical…). Do outro, os parques. Naquele tempo, tudo era tão simples: brinquedos quase que artesanais ( as canoas, os cavalinhos, os jeepinhos…), espingardas de “seta”, bola de “assopro”, a temida roda-gigante, o polvo…era tudo tão simples, mas tão fascinante! Quem nunca quis ver a mulher virando macaco? Era tudo tão simples e tão real! Tudo tão mal feito, mas com efeito devastador na memória de quem assistia.

Depois, a cidade cresceu. A praça não comportava mais tanta coisa. Vamos modificar. Que tal os parques serem transferidos para a rua dos Correios? Afinal, ela é uma rua paralela à Praça, separada apenas por um beco! Mas, não. Há coisas que de tão simples não devemos alterar. Há coisa que nasceu pra ser rudimentar. Porém, é um outro tempo que chegou e temos que nos adeqüar a ele. Sei que a praça ficou pequena para as proporções da festa, mas depois que esta abandonou a praça, nunca mais foi a mesma. Não há progresso que traga a magia do passado.

Vejo hoje, disputarem um local onde possa ser realizada a Festa de Setembro. Cada ano uma incerteza. Talvez , sei lá, seja uma penitência que estamos pagando por termos tirado a festa dos olhares e dos cuidados de Nossa Senhora da Penha, a grande homenageada. Hoje tudo mudou, vejo a Festa de Setembro sendo usada politicamente, sei que sempre foi dessa maneira, mas nada era tão evidente. Hoje, infelizmente, vivemos um tempo perdido tentando se encontrar. Atualmente, as pessoas aguardam a chegada da festa só para saberem da programação. Para ver quanto se gastou com as atrações e, assim, terem do que reclamar.

Eu também aguardo ansioso a programação, afinal estou incluído no grupo daquelas pessoas que só comemoram a parte festiva, não a religiosa, infelizmente. Mas, não sou de ficar atirando pedras no que foi conseguido. Sei que já tivemos programações bem superiores a desse ano. Sei que o atual prefeito enfrenta uma crise em sua gestão. Que a cidade meio que estagnou nesse seu mandato. Não sou político, não faço campanha pra ninguém, mas como cidadão, vejo que essa cidade precisa de mais cuidado, mais dedicação, em todos os setores!

Não fico feliz em dizer isso, mas acho que o próprio prefeito não sabe o que fazer. Está perdido, isolado dele mesmo. Sem noção de qual será o seu próximo passo. Que chegou ao poder sem está preparado para assumir ao cargo que hoje ocupa e nem se preparou para isso. Talvez lhe falte experiência, apesar de ter  passado tanto tempo como vice, mas vice é vice. Ou talvez lhe falte coragem, determinação ou humildade de reconhecer todas as dificuldades pelas quais está passando  e montar uma equipe de assessores que lhe ajude, que saiba o que é governar uma cidade do porte da nossa e um secretariado competente que pense e trabalhe para que essa cidade alcance ao posto que merece: de ser a segunda cidade mais desenvolvida do sertão de Pernambuco. 

Não sou politizado, não faço campanha para candidato algum, por isso; não vou utilizar esse espaço para falar da administração do atual prefeito. O povo o julgará nas próximas eleições. 

Meu foco aqui é a Festa de Setembro, os bons tempos que nos foram usurpados, a Festa da Padroeira da nossa cidade, Nossa Senhora da Penha, que deixou de ser uma festa popular para se tornar uma festa política. Que a nossa padroeira perdoe a todos que se julgam donos da cidade.