saudade1[1]“Boca de forno. Forno. Tirando bolo. Bolo. Quando eu mandar…vou. E se não for, apanha. Maninha, maninha  mandou dizer que fossem em frente da casa de seu Badu dessem um grito e voltassem”. Em seguida, numa corrida desesperada, cerca de 20 crianças pés descalças, sem camisas, e alguns, vestidos apenas com cuecas de copinho, saiam da Rua da Favela- hoje Praça Manoel Pereira Lins- desciam à Rua Bernadino Coelho, se enfileiravam em frente da casa do ‘homenageado’ e acunhava: “Seu Baduuuuu”.

Essa cena era dos bons tempos da minha infância, dos tempos de garrafão, catuca e rouba bandeira. Dos tempos da garrafinha com pão doce, da cocada de cafofa de umbú, da Bodega de Zé Grande e Zé Baião. Tempos das peladas no Pico da Bandeira, em pleno sol de meio dia, chutando mais pedras do que bola. Tempos do Daniel Boone, Viagem ao Fundo do Mar, a Pantera Cor de Rosa que passava em horário nobre na televisão.

E, às vésperas do Dia das Crianças, como esquecer das cadeiras nas calçadas para fugir das noites quentes, das rodas de histórias com meus pais. E, um pouco mais na frente, já na minha pré-adolescência, o meu fascínio pela “A Voz da Liberdade” na Praça Sérgio Magalhães, com o grave bem compassado do seu Nizinho; “Agora, pra todos vocês…Agepê”. E, então, com os bancos da praça lotados, a corneta da Voz da Liberdade, que ficava localizada em cima da Casa Penha, ecoava: “Êi, menina dos cabelos longos…”. Então vinham as palmas e alguns até arriscavam um passo sem o menor constrangimento.

NOVOS TEMPOS

Agora os tempos são outros. Tempos do smartphone, WhatsApp, onde a gente se comunica muito e pouco se fala. O mundo é digital e as brincadeiras de ruas foram transformadas em mensagens de texto. Agora, boa parte dos meninos não desejam ganhar o mais novo brinquedo da Estrela, mas o modelo mais novo do Galaxy não sei das quantas. E, então, formar uma rede onde ninguém existe além do monitor do novo deus.

Aliás, o gênio Charles Chaplin, com o seu espetacular Carlitos, já enxergava isso quando produziu ‘Tempos Modernos”. Aos 52 anos, sinto que envelheci por não dominar toda esta parafernália que posso comprar em até12 prestações para alimentar o consumo nosso de cada dia. Envelheci porque minha primeira memória ainda guarda cenas inesquecíveis de um menino buchudo, correndo pelas ruas de Serra Talhada e muito, muito feliz. Eu não tinha tempo de ficar no sofá. Mas ainda sonho com um mundo melhor com as minhas duas netas: Mariah, de 7 anos, e Luiza Pietra, ainda no ventre, prestes a chegar. Vivaaa! Se ainda sonho…então, a minha alma guarda a sombra de um menino buchudo em pleno século 21. Um bom domingo para todos e feliz Dia das Crianças!