Bom dia, boa tarde e muito boa noite aos faroleiros e faroleiras deste primeiro domigo de Junho. Chegamos ao  mês das festas juninas, do forró-pé- de serra, da fartura do milho, da fogueira e das brincadeiras de São João. “Tem tanta fogueira, tem tando balão, tem tanta brincadeira todo mundo no terreiro fazendo adivinhação”. O trecho desta modinha da  década de 70 revela que, no passado, tudo era muito mais aconchegante.

Tenho doces recordações, por exemplo, dos festejos que costumava passar no terreiro da casa da minha avó paterna Joana Anita, uma cabocla de sangue índigena que morava na fazenda Queimadas, zona rural de Carnaubeira da Penha. Fogueirão alto, comidas de milho, traques de massa, rojões e muita alegria ao redor do fogo junino. Fui testemunha das crendices da faca no tronco da bananeira e da brasa na bacia. Em ambos os casos, as solteironas faziam preces em busca do marido ideal. A faca na bananeira poderia revelar o nome do dito cujo.

Em nosso ritual, após a “adoração” à fogueira, íamos dormir numa sala apertada onde se armavam as redes, e sob a luz do candeeiro- ainda nao tinha luz elétrica- minha vovó comecava a debulhar estórias de trancoso. Cada uma mais fantástica que a outra. Adoravámos as estórias de “malasombros”. Enfim, festa de São João era sinônimo de reunião familiar.

Este espírito de família também existia na zona urbana, onde as pessoas costumavam colocar cadeiras nas calçadas e prosear vendo o estalo da fogueira. Eu costumava andar nas ruas só para olhar este cenário. Tenho lembranças das fogueiras montadas no “Alto do Urubu”- hoje o Alto da Conceição e àquele enorme corredor aceso. Mudaram os tempos ou mudamos nós?

No passado a música era do trio Nordestino e Luiz Gonzaga. Hoje, o São João que não tiver a “lapada na rachada” ou o “forró da rapariga” não vale nada. O prefeito que não contratar uma porcaria destas está sujeito a perder o mandato. Sou da geração do sabonete Phebo e do talco Alma de Flores, mas será que estou tão fora de moda assim? Talvez. Mas não me obriguem a cair na vala comum dos chamados “pancadões” do forró.

Por fim, às vésperas dos festejos que terão ínicio em Serra Talhada no próximo dia 20, quero manter intactas as estórias da vó Anita, os abraços calorosos, as ruas “enfogueiradas” e o forró inocente do trio Nordestino. Afinal, felicidade é algo que não se encontra na prateleira de um supermercado. Felizmente. Senão, estavámos ferrados. Bom domingo para todos!