17 - Serra Talhada

Por Adelmo da Favela, escritor de Serra Talhada

Era a década de 60, Serra Talhada era pequena e aparentemente calma, só a classe rica tinha fogão a gás, geladeira e ferro elétrico. A maioria das famílias usava pote, fogão a lenha ou a carvão, panela de barro e ferro a carvão. O Grande Hotel era o único hotel que havia na cidade, onde ficavam hospedadas todas as pessoas que chegavam.

O trem corria na linha, o motor velho iluminava. Quando eram dez horas da noite o motor velho era desligado acabava a energia e o motor velho parava. A cidade escurecia e a iluminação das casas os candeeiros e os lampiões a gás assumiam. Na igreja Nossa Senhora da Penha o relógio funcionava de qualquer ponto da cidade. As pessoas escutavam as chamadas dos cinemas Art e Plaza, as badaladas do sino, e a hora que o trem passava.

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Não existiam drogas, não havia trombadinhas, o ladrão que aparecia era para roubar galinhas. Serra Talhada engatinhava a caminho do progresso, não tinha água encanada, as carroças de burros passavam pelas ruas da cidade com galões vendendo água, as ruas eram descalças, só tinha calçamento no centro, a poeira levantava quando batia o vento.

A água encanada era coisa do futuro, a cidade era abastecida através das carroças de burros  que passavam pelas as ruas com um tambor cheio d’água, vendia nas construções, vendia de casa em casa. As pessoas enchiam os potes poucos tinham geladeira, pois esse bem de consumo era sinal de nobreza.

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Do Alto do Bom Jesus pro Alto do Urubu as carroças vendiam água trazida do Rio Pajeú. O rio tinha a água limpa quando a seca chegava à água era retirada das suas cacimbas. O beco do rio parava com as carroças de burros, todas as vezes que elas passavam, umas chegavam outras saiam para encherem os tambores com água e venderem nas suas freguesias.

O calçamento não existia, o motor velho roncava para gerar a energia. Quando davam dez horas da noite ficava tudo às escuras e era preciso usar lanternas pras pessoas andarem nas ruas.