flamengoPor Adelmo Santos, poeta e escritor serra-talhadense

Foi no campo da Cagepe e na Fazenda Saco onde tudo começou, dando os seus primeiros dribles,  fazendo os primeiros gols. Mas foi no Comercial de Serra Talhada que Demir se profissionalizou jogando como atacante, centroavante e ponta esquerda. Foi assim que Demir começou sua carreira. Com dribles desconcertantes humilhando o marcador ele foi o rei das conchas, dos elásticos e das canetas.

Quando ele entrava na área a torcida se agitava sentindo o cheiro do gol e começava a gritar, era mais um gol de Demir aumentando o placar. Ele tinha um chute forte quando a bola partia parecia um limão, era um terror pros goleiros que não usava dois tempos para fazer a defesa, quando o goleiro pulava a bola já estava dentro.

Demir foi pro Santa Cruz onde fez dupla com Nunes fazendo história por lá. Mas foi no Flamengo do Piauí que a carreira de Demir começou a deslanchar, ele foi gol do Fantástico e foi capa da Revista Placar. Em 1979 foi campeão e artilheiro do campeonato Piauiense jogando pelo Flamengo. No cruzamento da Av. Ipiranga com a Av. São João em São Paulo, aquele da música “Sampa”, que diz “Alguma Coisa Acontece no Meu Coração…” Aconteceu com o meu coração também, na hora que eu olhei para uma banca de revista e vi Demir na capa da Revista Placar. Eu senti tanta emoção que não deu pra segurar, quando eu fui me aproximando foi difícil acreditar, estava escrito em letras grandes: “O artilheiro do Piauí” e o cara era Demir. Eu comprei essa revista e mostrei pra todo mundo, eu guardei essa revista por mais de vinte anos.

Foi no Flamengo do Piauí que Demir passou a melhor fase da sua carreira. Num jogo contra o Fluminense do Rio de Janeiro, pelo campeonato brasileiro de 1980, um jogo que terminou com o empate de 2 X 2, Zagalo era o técnico e Parreira o preparador físico do Fluminense, eles botaram Edinho para marcar Demir e tanto Edinho como Demir acabaram sendo expulsos. Edinho, era aquele zagueiro titular da seleção brasileira, isso mostra o quanto Demir jogava e que não era qualquer um que conseguia lhe marcar.

No Flamengo do Piauí Demir foi o cara, chegando a se consagrar, ele foi gol do Fantástico e foi capa da revista Placar. Quando Demir estava jogando no Noroeste de Bauru-SP, num jogo contra o Palmeiras, era um domingo nublado fazia um frio de lascar, eu fui pro Pacaembu só pra ver Demir jogar. Eu encostei ao alambrado e o chamei pra conversar. Lhe desejei boa sorte apertei a sua mão e comentamos da saudade de nossa Serra Talhada e das coisas do Sertão, do futebol na Cagepe, do forró de João Henrique, das pamonhas e milhos assados nas fogueiras de São João. Nós éramos dois sertanejos lá na terra da garoa longe de Serra Talhada a nossa terra querida, cada um com a sua história, eu trabalhando numa empresa e Demir jogando bola. Nós dois  com um só objetivo de arrumar nossas vidas duas histórias diferentes que se tornou parecidas.

Hoje eu conto com orgulho um pedaço dessa história que começou desse jeito, com Demir jogando bola lá no campo da Cagepe, um campo cheio de pedras com ladeira e buracos, quando a bola estava em cima ela corria pra baixo, quando saia do campo entrava no meio do mato, mas nunca tirou o sonho de Demir ser jogador e conquistar o seu espaço. Foi driblando os preconceitos, derrubando os obstáculos, sem Demir desanimar mostrando que era guerreiro chegou a se profissionalizar foi um grande artilheiro encontrando o seu espaço sendo capa da “Placar”.