Por Adelmo Santos, escritor e poeta serra-talhadense

saudade1[1]Todos lembram a sua terra, eu também lembro a minha, da Estação Ferroviária do trem correndo na linha, eu lembro o motor velho gerador de energia, Cine Art e Cine Plaza tinha filme todo dia. Lembro a Rua da Favela, o forró de Antonia Badú, os mergulhos no curtume nas águas do Pajeú, lembro de Padre Jesus na igreja celebrando com Seu Augusto Duarte vestido de franciscano.

Lembro o açude Borborema com um boteco interessante, que ficava bem no meio, o barzinho “O Flutuante”. Eu lembro Dr. Armando, era dentista e mecânico, consertava um caminhão ainda com o motor quente, entrava no consultório e atendia os pacientes. Lembro de Antonio Olavo querendo ser militar, tinha uma farda de soldado chegava até a usar.

Avisto Maria Cordeiro se apegando a seu rosário, reescrevendo a sua história, corrigindo o seu passado. E dona Rosa Pau Ferro a mulher de gestos nobres, que conseguiu ser um tesouro dentro da Casa dos Pobres, lembro do campo da várzea, das peladas costumeiras, das resenhas no “Bar do Abrigo,” dias de segundas-feiras.

Tenho lembranças da Igrejinha, da praça e a “Concha,” Seu Nogueira e Genival tocando na Filarmônica, lembro a banda do Cônego Torres com Maninho e Erasmo, Paulo Gomes e Luís Fogo dando show com seus dobrados.

Que saudades do chafariz, do Açude do Ginásio, com as mulheres lavando roupas fofocando uma novela transmitida pelo rádio. Saudades do beco do rio com Seu Tota de Oscar, cantando na serenata tomando uma cachaça, nesse dia o tira-gosto era a cobra jararaca. E Gêra de Mané Lourenço um poeta gozador, tomava as suas cachaças e curtia o seu amor, também lembro de Seu Dito junto com João Honorato, são dois mestres abençoados, com a Igreja da Penha sendo erguida nos seus braços.

Eu lembro de tanta coisa, lembro gente tipo assim: Pedro Cego e Neco Véio, até Luiz Bacurim. A cidade era pequena, tinha desculpas e bom dia, as pessoas se cumprimentavam, o povo se conhecia.