Eis que chegamos ao  primeiro domingo de março e optei em dividir com vocês, mais uma vez, memórias que estão se transformando em diários coletivos do passado, escritas por todos nós. Não me surpreendeu a quantidade de comentários que o FAROL recebeu nas últimas duas crônicas escritas por mim. Fiquei surpreso com a evidência de como as lembranças ainda fazem bem a todos os faroleiros e faroleiras. Quem vive de passado é museu? Não! Quem fala de um bom passado vive duas vezes.

Com esta lógica, divido com todos que sempre fui fascinado pelo rádio. Sempre achei uma invenção por demais revolucionária e cresci ouvindo o programa “Caixinha de Pedidos”, todos os dias, às 3 da tarde, comandado por Walter Lins. Na minha casa tinha uma radiola ABC- A Voz de Ouro. Possante, com toca-disco e  quatro pernas… e é claro, o rádio. Costumava escutar com a minha mãe, que neste horário, sempre passava algumas peças de roupas. Atém me lembro do jingle de abertura. Mas isto é uma outra história.

Foram os sons do rádio que me fizeram apaixonar pelos sons da praça Sérgio Magalhães. Na torre da Igreja da Penha sempre tinha uma corneta que tocava a Ave Maria e logo em seguida algumas músicas. Eu viajava no tempo. Mas nada superou  A Voz da Liberdade, serviço de alto-falantes do saudoso Nizinho, que também tinha um carro de som. Nizinho era referência junto com A Voz da Liberdade, que funcionava num pequeno quartinho nos fundos da Casa Penha. Era a Voz, o correio mais direto da população. Publicidade, achados e perdidos, recados enamorados, músicas antigas e inéditas e o inconfundível estilo do Nizinho.

Sempre me chamou atenção, por exemplo, o anúncio de nota de falecimento. Nizinho veiculava a propaganda das Casas Pernambucanas. Lembram dela?  E assim começava: “Nota de Falecimento. Faleceu hoje fulano de tal e o féretro se encontra na rua tal” e de repente, Nizinho emendava: “Que beleza, as Casas Pernambucanas tem um enxoval completo pra sua cama, mesa e banho”. Não tinha pausa. Me divirtia muito após ouvir a nota fúnebre.

Quantas vezes desci a praça Sérgio Magalhães, após a missa dominical, para comer na lanchonete de Adalberto e ficar no banco da praça escutando A Voz da Liberdade. Hoje, além de mal iluminada, falta brilho e som a Sérgio Magalhães. Aliás, ruido tem demais… o que impera é a saudade da Voz da Liberdade. Agora é com vocês. Contem a nossa história. Bom domingo para todos!