Por Adelmo Santos, poeta e escritor, autor do livro ‘Menino Malino’

Toda vez que eu estou na estação ferroviária, eu sinto falta do trem, e fico lembrando das viagens que eu fazia nos meus tempos de menino quando jogava bola no Vasco, um time de Seu Juarez. Seu Juarez era um cabo reformado, que morou nos quatro cantos da cidade.
A maioria dos meninos da época jogou no time dele. Seu Juarez
era casado com Dona Maricota e vendia remédios engarrafados, na Zona Rural da cidade. Sempre que o jogo era fora da cidade, a viagem era de trem.

Eu lembro de algumas  cidades como: Salgueiro, Mirandiba, São Serafim, Flores, Carnaíba e Afogados da Ingazeira. O Vasco era um time de meninos, quase todos da mesma idade, onde jogava: Gula, Pedrinho Duarte, Gaguinho, Vavá, Cueca, Miguel Rolinha, Toinho Quixabinha, Azulão, Caçote, Dorge da Burra, Petrolina, Chupeta, Caipira, Zé Amilto e Galo Cego. Toinho Quixabinha era o chapoletinha de Seu Juarez, não jogava nada e só queria a camisa 10. Quando o time viajava de caminhão ele só ia, se fosse na bulé.

Isso faz com que sempre que estou na estação, eu fique pensando no trem. Para mim o trem continua correndo na linha. Quando eu estou na estação, pra mim o trem já passou, ou está pra chegar. Que tal você também fazer de conta que o trem está na linha, e embarcar nessa viagem e curtir essa emoção, de Recife a Salgueiro, como era antigamente.

Como era bom ver o trem, de carga ou de passageiro. Que saía do Recife com destino a Salgueiro. Na entrada da cidade, escrita com letras grandes, um “ PARE, OLHE E ESCUTE, “ numa placa alertava. Eu lembro a Zona da Mata, usina e canaviais. Com o trem passando no meio, deixando tudo pra trás. Na paisagem do Agreste tinha Ypê e umbu, os passageiros olhavam enquanto o trem parava na Estação Caruaru. Lá descia muita gente, apressado na carreira, com o dinheiro contado pra fazer compras na feira. Tinha a classe de segunda, tinha a classe de primeira, o trem já ia chegando na Estação de Pesqueira.

Mandacaru, xique-xique, algaroba e algodão. Com a paisagem toda a verde mostrava para os passageiros como era lindo o Sertão. Lajedos com olho d’água, a lambu matando a sede, o trem se aproximava da Estação Arcoverde. O Rio Pajeú corria solto, derrubando ribanceira, o trem fazia uma parada na Estação Afogados da Ingazeira. A viagem era longa parecia não ter fim, era quando o trem chegava na Estação São Serafim. Na viagem tinha um momento de uma grande
emoção, quando o trem tava chegando na terra de Lampião.

A plataforma lotada o maquinista avisava: Estação Serra Talhada. Em torno da estação barracas vendiam lanches, pamonha e milho assado. A meninada gostava de comprar doce e confeito, na banca de Pescocinho, ou na banca de Arnaldo. Muita gente ia chegando, era um vai e vem danado, era grande a correria de passageiro apressado. Para não perder o trem, que só chegava atrasado.

Os passageiros embarcavam numa viagem divertida, o bagageiro era cheio, mala em baixo, mala em riba. O trem já ia chegando na Estação Mirandiba. Estava faltando pouco pro destino derradeiro, um vendedor ambulante vendia água de cheiro. Era a última parada, enquanto o trem apitava avisando aos passageiros que acabava de chegar na Estação de Salgueiro. Tinha gente avexada com a bagagem na mão, o trem que estava chegando, era o último do Sertão.