Bom dia, boa tarde e muito boa noite aos amigos e amigas deste FAROL. Eis que a roda começa a girar e estamos no primeiro domingo de 2014. Vamos começar tudo de novo. Ou não seria continuar o que já está em curso? Noves fora nada, penso que a cada ano o Pai Criador de todas as coisas, ser perfeito e por demais bondoso, nos dá mais uma chance de sermos filhos à sua imagem e semelhança.

E tal como o calendário, começo o ano relembrando dos nossos dias de feira… da nossa feira livre e da nossa segunda-feira. Pra mim tudo era mágico. Dezenas de bancas espalhadas pela rua Enock Ignácio de Oliveira, panelas, sandálias, vestidos, calções, espingardas soca-soca, enfim; uma variedades de produtos para todos os gostos. Todos reclamavam. Mas na minha infância, fazia questão de passear por entre as barracas e ouvir o burburinho das pessoas. A força do feirante que usava a corneta como instrumento de propaganda: “Quem vai querer, quem vai querer. Moça bonita não paga mas também não leva”.

A barraca do seu Miguel do Óleo e sua variedade de especiarias. A pequena dona Isaura, moradora do Bom Jesus, que tinha uma barraquinha de perfumes onde os mai vendidos eram o Seiva de Alfazema e um tal de Reverdor (não me lembro da grafia correta). Oxente, e como esquecer da Brilhantina Zezé e do Óleo de Ovo?

Além dos produtos a feira trazia toda a graça dos seus personagens. João do Bode em frente à sua loja batendo palmas, dando risadas e convidando a clientela. No mesmo beco, de Cazé Romão, os gritos de  João do Bode se misturavam com os pedidos de esmolas de um cego que segurava uma bacia e fazia uma moeda tilintar: “Uma esmola pelo amor de Deus, uma esmola pelo amor de Deus”. Sem esquecer de Bento, o èbrio, que no mesmo beco fazia coro aos dois personagens cantando em alto e bom som: “Tornei-me um ébrio e na bebida busco esquecer…”

No mesmo entorno tinha a Farmácia Lorena, onde fui balconista por muitos anos, e homens e mulheres vinham da zona rural para serem consultados pelo senhor Lorena. Ele mesmo. Luiz Conrado de Lorena e Sá, o saudoso chefe político, também praticava a medicina às segundas-feiras. Um dos remédios mais indicados era um tal de “Carobiol”. Servia pra quase tudo… eu disse, quase.

E uma segunda-feira de verdade não existia sem a presença da difusora “A Voz da Liberdade” do saudoso Nizinho, das brincadeiras de Adauto Carvalho, da meiguice e atenção do seu Olímpio Menezes. Da balança da farmácia do seu Pedro Aragão, do movimento nas loja de Valme Andrada, o ‘mão aberta da cidade”. Enfim, o encontro de todas as vozes e todos os sonhos em um só dia. A Feira não existe como era. E não era para manter um modelo superado. Mas sinto falta do encontro das pessoas e das histórias dos seus personagens. Quantas saudades!