Metade dos transtornos mentais começa antes dos 14 anos

Foto: Banco Mundial/Dominic Chavez

Por Agência Brasil

Ricardo Oliveira tinha 19 anos quando foi vítima de duas tentativas de suicídio. Hoje, ele é psicólogo e voluntário na Abrata – Associação Brasileira de familiares, amigos e portadores de transtornos afetivos.

Ricardo conta que se existisse alguém pra conversar sobre o assunto com ele, na juventude, as coisas poderiam ter sido diferentes.

“Com certeza a relação com o tratamento seria diferente né,  até a visão, porque eu tinha uma visão até mesmo com o preconceito, que eu não era doido,  não iria ao médico. Eu acho que alguém explicando e conversando da maneira que hoje eu tenho entendimento, com certeza as ações seriam ser diferentes”.

O psiquiatra Rodrigo Bressan, presidente do Instituto Ame sua Mente, explica que metade dos transtornos mentais começam antes dos 14 anos.

“Existe esse dado de que 75% dos transtornos mentais do adulto começam antes dos 24 anos e 50% deles antes dos 14 anos— quer dizer na metade começa antes dos 14 . Isso são pesquisas mundiais multicêntricas, e recentemente teve uma replicação. E os dados são muito parecidos, e também tem um artigo do Brasil mostrando uma coisa parecida”. 

E por que será que a gente não enxerga que alguém precisa de ajuda?

“Você tem uma gama de eventos que faz com que a gente não enxergue. E um dos principais é o preconceito. E um dos componentes do preconceito é falta de conhecimento. Quando você não conhece alguma coisa, você tende afastar. Ah, porque é feio, porque é mais ameaçador, é louco, é preguiçoso”. 

A preocupação com a saúde mental dos jovens levou o governo federal a investir em algumas ações, como conta o psiquiatra Marcelo Kimati, assessor técnico do Ministério da Saúde.

“Essa expansão da rede se dá desobstruindo uma fila que estava obstruída ao longo do último ano, no qual nós não tivemos a habilitação de novos serviços para criança e adolescente. Então esse processo foi retomado no sentido de estimular na abertura desse serviço e ampliação ainda maior da rede de atenção em Saúde Mental. O movimento foi de aumentar os recursos que são feitos pelo governo federal”.

E na próxima reportagem, a gente vai falar sobre os jovens e a autolesão, e ouve quem entende do assunto — como o psicólogo Antônio Augusto, da Universidade Federal Fluminense.

“O que chama a atenção são casos de pré-adolescentes com 10 anos que vem lançando mão desse tipo de conduta, ou seja, o sofrimento psíquico nos parece que está se manifestando cada vez mais cedo“. 

Precisa de ajuda? Quer ajudar alguém? Anote ai: o Centro de Valorização da Vida no telefone 188 ou no site cvv.org.br. Procure os CAPS, Centros de Atenção Psicossocial, ou as Unidades Básicas de Saúde. Ou ainda, o site mapasaudemental.com.br que mostra o centro de apoio mais perto de você.