Vencedor do Mister Tattoo Week relembra diagnóstico de HIV após 1ª tatuagem e batalha contra o câncer — Foto: Arquivo Pessoal.

 

Do G1

As palavras “Sopro de Deus”, tatuadas na costela esquerda, escondem e, ao mesmo tempo, enaltecem a marca de uma das batalhas mais importantes da vida de Lucas Almeida, vencedor do Mister Tattoo Week, a maior convenção de tatuagem do mundo.

O modelo de 42 anos decidiu marcar na pele, bem em cima da cicatriz causada pela bolsa de colostomia usada durante o tratamento contra um câncer, um lembrete para nunca desistir. Nascido em Porto Feliz (SP), Lucas conseguiu se curar da doença em 2011, mas ainda convive com o HIV, que, segundo ele, contraiu depois de fazer a sua primeira tatuagem.

“Com 18 anos fui morar em uma república em São Paulo com os modelos da agência que trabalhava. Foi então que tive minha primeira experiência com tatuagem. Contratamos um tatuador para ir até a república nos tatuar, mas o que não imaginávamos era que ele ia usar a mesma agulha em todos que tatuou”, conta.

Na época, Lucas estava no auge da sua carreira de modelo. Era o rosto de algumas das maiores marcas jovens como Ópera Rock e a extinta Pakalolo. No entanto, foi neste período que ele começou a notar pioras na saúde e decidiu procurar ajuda.

“Meu corpo estava diferente, cada vez mais doente. Tive uma hemorragia, precisei ser internado e fui diagnosticado com um linfoma na bexiga. Dias depois, ainda no hospital, descobri que o causador desse câncer era o HIV”, lembra.

Lucas Almeida descobriu doença quando estava no auge da carreira de modelo — Foto: Arquivo Pessoal

Lucas Almeida descobriu doença quando estava no auge da carreira de modelo — Foto: Arquivo Pessoal.

 

Foi então que Lucas começou uma série de tratamentos, tanto para o linfoma quanto para o HIV. Foram dois meses de internação e um ano da luta contra o câncer, com sessões de quimioterapia.

“Meu mundo caiu, só pensava na morte e minha mãe chorava junto. Tinha muitas dores, noites sem sono. Quando veio a notícia da causa de tudo isso, que era o HIV, eu percebi que teria duas doenças para combater. Tive momentos que pensei em desistir, mas aí pensava que eu não estava ali por acaso, estava ali para lutar contra tudo e todos e renascer feito uma fênix”, afirma.

 

Vencedor do Mister Tattoo Week tem 209 tatuagens — Foto: Arquivo Pessoal

Vencedor do Mister Tattoo Week tem 209 tatuagens — Foto: Arquivo Pessoal.

 

Trajetória marcada na pele

 

Mesmo sabendo que a sua primeira tatuagem causou consequências terríveis, Lucas decidiu não deixar que isso determinasse suas vontades e sua história como artista.

O rapaz contou ao g1 que, desde criança, sempre gostou muito de artes e de tatuagem. “Lembro de pedir a minha mãe para comprar tatuagens autocolantes para eu usar. Por isso, depois de passar por todas as dificuldades, decidi expor a arte da tatuagem em meu corpo, todas com significados e acontecimentos em minha vida. Hoje, tenho 209 tatuagens e pude voltar a modelar por causa delas.”

Tatuagens representam conquistas de Lucas Almeida — Foto: Arquivo Pessoal

Tatuagens representam conquistas de Lucas Almeida — Foto: Arquivo Pessoal.

 

Além das palavras tatuadas na costela, o “26” tatuado na coxa de Lucas marca o dia da última sessão de quimioterapia; os halteres simbolizam a musculação, esporte que o ajudou ter um corpo mais forte e mais saudável e; na mão, a tattoo representa a paixão do modelo por maquiagem e beleza, que atualmente é sua profissão.

“Só Deus sabe o que passei. Minha vida caiu, tive que gastar tudo com o meu tratamento e, depois, recomeçar do zero. Mesmo durante a quimio, continuei a atender algumas clientes como maquiador quando conseguia”, conta.

 

Mister Tattoo Week

 

Vencedor do Mister Tattoo Week é de Porto Feliz — Foto: Arquivo Pessoal

Vencedor do Mister Tattoo Week é de Porto Feliz — Foto: Arquivo Pessoal.

 

Em outubro de 2022, Lucas decidiu participar do Miss e Mister Tattoo Week. O concurso faz parte da Tattoo Week, realizada em São Paulo, que é a maior convenção de tatuagem do mundo.

“Passei pela fase classificatória, competindo com os mais belos tatuados do Brasil. E, para minha sorte, realizei meu sonho. Deus me presenteou com essa conquista quase como um presente de aniversário”, conta.

 

Agora, Lucas deseja contribuir com a disseminação da tatuagem pelo mundo, além de inspirar outras pessoas com a sua história.

“Meu objetivo e vida é o autoconhecimento e poder perceber com perfeição nossa natureza, ter forças para acordar todos os dias e fazer a diferença no mundo. Hoje estou aqui para provar e mostrar que uma pessoa soropositiva tem e deve ser tratada como qualquer outra”, finaliza.