Publicado às 05h45 desta quinta-feira 928)

Coluna Sapiência com Paulo Bezerra*

*Mestre em Biodiversidade e Conservação pela UFRPE-UAST/ Bacharel em Ciências Biológicas pela UFRPE-UAST / Coordenador do Grupo de Estudos em Ecologia e Conservação da Herpetofauna-GEECOH

Aoô, Sapiens!

Estou de volta à coluna Sapiência e para dar continuidade a nossa prosa vou falar de uma doença emergente e infecciosa até então desconhecida da maioria da população mundial e que despertou a atenção das autoridades sanitárias. Então, reserve uma parcela do seu tempo e venha se inteirar desse tema tão importante para a saúde e bem-estar da população.

Como se já não bastasse toda a crise sanitária, as perdas econômicas, sociais e de tantas vidas ocasionadas pela pandemia da Covid-19, outra doença infecciosa emergente veio à tona nos últimos meses: A varíola dos macacos! Mas de antemão não há motivo para alarde ou medo. O chefe do secretariado de varíola do programa de emergências da OMS, Rosamund Lewis, tratou de acalmar a população mundial afirmando que a varíola dos macacos é uma doença emergente, que tem surgido nos últimos 20 a 30 anos, portanto, não é completamente desconhecida, pelo contrário é muito bem descrita pela comunidade científica. Lewis ainda comentou que o risco biológico da doença para a população em geral, parece ser baixo e os principais modos de transmissão foram os descritos e mapeados no passado.

A varíola dos macacos (Monkeypox) é uma doença endêmica (de ocorrência pontual, isolada, referente a uma única região) das florestas tropicais da África Ocidental e Central. É uma zoonose (doenças infecciosas transmitidas entre animais e humanos), causada pelo vírus Monkeypox, do gênero Orthopoxvirus, pertencente à família Poxviridae. A essa família, também pertencem os vírus da varíola e o vírus Vaccínia, do qual a vacina contra varíola foi desenvolvida. Recentemente, a varíola dos macacos têm si alastrado para outras regiões do globo de maneira relativamente rápida sendo detectada inclusive em grandes centros urbanos. Segundo, o boletim atual da Organização Mundial da Saúde – OMS, já foram registrados mais de 9 mil casos de pessoas infectadas em 63 países. Segundo o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, o iminente surto global da doença ainda não poderia ser considerado uma emergência de saúde pública global, mas o chefe da organização convocou uma reunião geral do comitê para a semana do dia 18 de julho.

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A doença recebeu este nome em 1958, durante dois surtos de uma virose semelhante à varíola comum que ocorreram em populações de macacos confinados em um laboratório para fins científicos e de pesquisa. Entretanto, o principal reservatório da doença (organismo que abriga o vírus da varíola dos macacos) ainda é desconhecido. Há suspeitas de que algumas espécies de roedores africanos atuem na transmissão. O primeiro registro de um caso conhecido de varíola dos macacos foi notificado em 1970 na República Democrática do Congo, durante um período de campanhas intensificadas para erradicar a varíola. A partir desse primeiro infectado, a grande maioria dos casos têm se concentrado em torno de 11 países africanos. No entanto, Estados Unidos e Europa já sofreram com surtos relacionados a viagens ou importação de países onde essa zoonose é considerada uma endemia.

No ano de 2003 um surto ocorreu em seis estados dos EUA (Illinois, Indiana, Kansas, Missouri, Ohio e Wisconsin), onde 47 pessoas foram infectadas depois te manter contato com um roedor de estimação conhecido como cão das pradarias. Os roedores de estimação foram infectados depois de serem alojados em recintos próximos aos de pequenos mamíferos importados de Gana na África. Esse surto caracteriza-se como a primeira vez em que a varíola dos macacos foi relatada fora da África”.
Vamos entender como a Monkeypox se dissemina, infecta os indivíduos, qual o modo de transmissão, quais são os sintomas, se há tratamento ou vacina, os riscos para a saúde humana e os protocolos de isolamento para os doentes. Para inicio de prosa vou logo dizendo que o agente causador da doença é um vírus, a doença não tem origem nos primatas e apenas foi identificada nesse grupo animal. O contágio entre humanos pode ocorrer através do contato direto com fluidos corporais, como secreções respiratórias, por meio do contato com lesões na pele de um individuo infectado e também pelo contato com superfícies ou objetos recentemente contaminados.

A transmissão pode ocorrer das seguintes formas:

• Por contato com o vírus: Por meio da interação com animais selvagens, injúrias provocadas por mordidas e arranhões de animais infectados. Superfícies e materiais contaminados, incluindo o uso de produtos feitos de animais portadores do vírus;

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• De pessoa para pessoa: a contaminação ocorre pelo contato com fluidos corporais como sangue, secreções respiratórias ou feridas de uma pessoa infectada. Durante o contato íntimo – no ato sexual, ao beijar, abraçar ou tocar partes do corpo com feridas causadas pela doença. Ainda não se sabe se a doença pode se disseminar através do sêmen ou fluidos vaginais;

• Por materiais contaminados: contato com equipamentos perfuro-cortantes que tocaram fluidos corporais ou feridas, materiais como roupas ou lençóis;

• Da mãe para o feto: por via placentária;

• Da mãe para o bebê durante ou após o parto: através do contato pele a pele;

• Pela saliva: através do contato com ulceras, lesões ou feridas na boca que também podem ser infecciosas;

O vírus da varíola dos macacos passa por um período de incubação de sete a 14 dias. Os sintomas iniciais são tipicamente semelhantes aos da gripe, são: febre, dores de cabeça, musculares e nas costas, calafrios, sensação de cansaço e exaustão. A principal caraterística que distingue a varíola dos macacos da varíola comum é a ocorrência dos linfonodos inchados (gânglios linfáticos), que são estruturas que abrigam células do sistema imunológico e ajudam a combater infecções.

Posteriormente, o quadro clínico evolui para a segunda fase da doença, caracterizada pelo surgimento de erupções cutâneas com aspecto de bolhas generalizadas no rosto e no corpo. Podem aparecer também no interior da boca, palmas das mãos e solas dos pés. Essas lesões causam dor e aparecem como protuberâncias na pele dos infectados, possuem aspecto perolado e são repletas de líquido, muitas vezes cercadas por círculos avermelhados. Essa fase dura em média de duas a três semanas e ao fim desse período as lesões cicatrizam e desaparecem.

Até o momento não existe um medicamento específico para combater a varíola dos macacos. Logo, o tratamento existente é considerado de “suporte” pelos especialistas em saúde publica. Mas uma vacina desenvolvida nos Estados Unidos que previne a doença está disponível para ser administrada. A vacina chamada Jynneos foi aprovada pela autoridade sanitária dos EUA, a FDA (U.S. Food and Drug Administration) e pode ser utilizada também para a varíola comum. O imunizante foi armazenado por algumas décadas, pelo governo dos EUA, por segurança, para prevenção de um possível surto ou ressurgimento da doença, até então erradicada. A vice-diretora da Divisão de Patógenos de Alta Consequência e Patologia do Centro Nacional de Doenças Infecciosas Emergentes e Zoonóticas do CDC comentou que no momento existem cerca de mais de 1.000 doses disponíveis e que a tendência é que esse quantitativo aumente consideravelmente ao longo do mês de julho.

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O protocolo de isolamento a ser seguido pelos pacientes infectados consiste em permanecer em locais com boa ventilação e que as janelas das áreas de uso comum como cozinha e banheiros sejam mantidas abertas. É indicado o uso de máscaras de proteção facial cobrindo nariz e boca. É importante que os pacientes realizem a higienização das mãos com água e sabonete líquido várias vezes ao dia, utilizando papel descartável para secá-las. É aconselhável que as pessoas que estiverem com suspeita não compartilhem alimentos, objetos de uso pessoal, talheres, pratos e copos, No entanto, os itens não precisam ser descartados e podem ser reutilizados após a higienização.

No Brasil, segundo o boletim mais recente divulgado pelo Ministério da Saúde, já foram registrados 266 casos de varíola do macaco distribuídos por nove estados do país. Foram confirmados, 196 oriundos do estado de São Paulo, 37 do Rio de Janeiro, 18 de Minas Gerais, três do Paraná, três do Rio Grande do Sul, três do Ceará, três do Rio Grande do Norte, dois Goiás e um do Distrito Federal. Foram detectados casos em Pernambuco e na Bahia, mas que ainda não foram contabilizados oficialmente.

Saudações Darwinianas

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Referências

CNN. O que é a varíola dos macacos, quais são os sintomas e os riscos para a saúde. https://www.cnnbrasil.com.br/saude/o-que-e-a-variola-dos-macacos-quais-sao-os-sintomas-e-os-riscos-para-a-saude/Acessado em 12 de julho de 2022.

OPAS-OMS. Varíola dos macacos. https://www.paho.org/pt/variola-dos-macacos/ Acessado em 12 de julho de 2022.

OLADOYE, M. J. Monkeypox: A neglected viral zoonotic disease. Electronic Journal of Medical and Educational Technologies, v. 14, n. 2, p. em2108, 2021.