Por Paulo César Gomes, jornalista, escritor, pesquisador e professor com formação em História e Direito. É Mestre em História pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG)

Publicado às 05h36 desta sexta-feira 14()

As mensagens divulgadas pelo site The Intercept Brasil, mostram como o Procurador Federal, Dental Dallagnol e o ex-juiz federal e agora Ministro bolsonarista, Sérgio Moro, trocavam informações sobre a condução, os resultados e os objetivos da “Operação Lava-jato”. Para muitos o conteúdo surge como uma grande surpresa, no entanto, tudo já estava bastante claro há muito tempo.

Porém, inicialmente é preciso que se registre que “as 10 medidas de combate a corrupção”, defendidas por Dallagnol e Moro, prevê, entre outras coisas, o uso de provas obtidas de maneira ilegal – como a escuta de telefones ou a invasão eletrônica de mensagens de celular, a dupla podem ter sido agora alvos. É aquela velha história: o risco que corre o pau, corre o machado. Ou seja, os condutores da Lava- Jato estão sendo vítimas dos seus próprios remédios. E diga-se de passagem, que nenhum dialogo foi desmentido até o momento.

O que se pode dizer até o momento, é que muitas outras novidades podem surgir, e que a ‘República de Curitiba’, assim como a ‘República do Galeão’ (1954), agiram com objetivos bem definidos, e o pior, com viés extremamente político. Veja bem. Conceitualmente, a justiça é defendida com ‘cega’, ou seja, visa dirimir conflitos de forma imparcial e independente. Só que no caso da Lava-Jato, apesar de toda a boa intenção, o viés político fica evidente, e consequentemente, a imparcialidade fica comprometida.

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De forma indireta. Os condutores da maior operação de combate a corrupção instalada no país formaram uma espécie de grupo político, ou quem sabe, ‘um partido político’, com plataforma, regras, métodos e objetivos próprios. Um discurso político que contava com o apoio de setores da imprensa, do judiciário e de Ministros do STF. O resultado disso, é que Sérgio Moro se tornou Ministro da Justiça (um cargo político) representando esse ‘partido político’.

Agindo de forma organizada, Moro buscou intervir na política nacional em diversos momentos, e sempre deixando claro qual era o seu lado. Às vésperas da eleição do segundo turno de 2014, entre Dilma e Aécio, Moro vazou para a revista Veja um depoimento de Alberto Youssef, que dizia que Lula e Dilma sabiam de tudo. Naquele momento a ação quase dar resultado. No entanto, a divulgação dos diálogos – divulgados de forma ilegal – entre Lula e Dilma- e de trechos da delação de Antônio Palocci, às vésperas da eleição do primeiro turno de 2018, foram decisivos para consolidar um conjuntura favorável a extrema-direita no Brasil.

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Sem contar as decisões do Ministro Luiz Fux, que impediu a entrevista de Lula ao jornal Folha de São Paulo, e suspendeu as investigações sobre o “caso Queiroz”, que têm como personagem central o filho de Jair Bolsonaro.

Vale registrar que o Ministro Edison Fachin, relator da Lava-Jato no STF, tinha em mãos um pedido de prisão e afastamento do cargo de Eduardo Cunha, então deputado Federal e presidente da Câmara dos Deputados, feito na época pelo Procurado Geral da República, Rodrigo Janot, em 16 de dezembro de 2015. Fachin só afastou Cunha do cargo em 10 de maio de 2016, logo após ele conduzir o processo de impeachment de Dilma.

De tudo isso restam alguma dúvidas e certezas. As dúvidas: seria o hacker o bolsonarista desiludido com o governo? Qual será o impacto das divulgação dos diálogos nas condições do ex-juiz? O que o diálogos ainda não revelados poderão trazer de desgaste para o governo Bolsonaro e para Sérgio Moro?

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As certezas: Moro era o principal coordenador da Lava-Jato assumindo o papel que era do Ministério Público Federal; Sérgio Moro agiu de forma a atacar politicamente alvos pré-determinados, atuando assim de forma imparcial.

Moro têm que renunciar e Dallagnol se afastar do cargo, para que possam ser investigados por seus crimes, entre eles, o de articular para criar testemunhas inexistentes; parte da imprensa foi omissa durante o auge da operação, já que se utilizou de informações propositadamente vazadas e não praticou o jornalismo investigativo, buscando assim, produzir as suas próprias fontes e possibilidade o surgimento de outras visões sobre diferentes fatos.

Fica claro que os americanos orientaram à força tarefa nas ações da operações Lava-Jato; o combate a corrupção deve ocorrer tanto na política, como no judiciário; e por último, é a certeza de que o brasileiro adora fabricar diferentes estilos de Macunaíma, que são aquele sujeitos sem caráter que acabam caindo nas graças do povo. A bem da verdade, os Macunaímas brasileiros estão de todos os lados!