Da BBC

Foto:Getty Images

Municípios brasileiros de eleitorado mais conservador tendem a adotar menos políticas públicas de combate à violência contra mulher que as demais cidades do país, aponta ampla pesquisa realizada por dois acadêmicos brasileiros que atuam em universidades europeias — Malu Gatto (professora da University College London) e Victor Araújo (pesquisador da Universidade de Zurich).

Segundo o estudo, eleitores conservadores costumam considerar menos urgentes e prioritárias medidas governamentais para reduzir a agressão contra mulheres, o que acaba tendo o efeito prático de limitar a adoção dessas ações onde esse segmento têm mais peso político.

Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores analisaram a aplicação da Lei Maria da Penha em todos os 5.570 municípios brasileiros, a partir de dados da Pesquisa de Informações Básicas Municipais de 2018 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O drama das brasileiras que sofrem com violência de maridos estrangeiros na Europa
A fuga de uma vítima de violência doméstica em cinco objetos

Essa legislação, aprovada em 2006, prevê uma série de medidas a serem adotadas pelas prefeituras para aumentar a proteção às mulheres e a punição aos agressores, como centros de abrigo para as vítimas, serviços de saúde voltados para casos de agressão doméstica e sexual, delegacias e juizados especializadas em violência de gênero, entre outros. Sua implementação, porém, ainda é bastante desigual no país.

Com objetivo de identificar se há uma relação entre a adoção dessas políticas e o perfil dos eleitores, Gatto e Araújo cruzaram as informações do IBGE sobre aplicação da Lei Maria da Penha com um mapeamento ideológico do eleitorado em cada município brasileiro desenvolvido pelos pesquisadores Timothy J. Power (Universidade de Oxford, no Reino Unido) e Rodrigo Rodrigues-Silveira (Universidade de Salamanca, na Espanha).