IMG-20150513-WA0080[1]

Fotos: Róbson Marques

Serra Talhada inala o cheiro da Fulô de Maracujá, que está lançando na cidade o álbum Nóis Canta pra Tu Dançá, esse é o mais novo trabalho da banda. Em visita a Capital do Xaxado, a atriz e cantora Roberta Aureliano concedeu uma entrevista especial à reportagem do FAROL, onde literalmente narrou a história da sua relação com Serra Talhada, falou um pouco da sua carreira no teatro e na música e comentou sobre o lançamento e o processo de construção do CD. Roberta, tornou-se bastante conhecida na cidade após estrelar o espetáculo O Massacre de Angico – A morte de Lampião, interpretando a Maria Bonita.

A alagoana morou parte de sua infância na Capital do Xaxado e é uma das artistas mais relevantes da cultura do estado e do Nordeste da atualidade. A atriz é também a vocalista da banda de forró pé-de-serra Fulô de Maracujá, que também é integrada por Alexandre Rodas (direção musical e guitarra), Mago (bateria), Fabrício Rossi (contrabaixo), Hyran Gusmão (sanfona), Paulo Queita e China (percussão), além de contar com os cuidados da produtora Izabelly Sena. O FAROL esteve com Roberta e Izabelly para saber mais detalhes desse novo disco. Confira na íntegra a entrevista com Roberta Aureliano.

ENTREVISTA COM A ATRIZ E CANTORA ROBERTA AURELIANO

FAROL: Boa noite Roberta, gostaria de agradecer e dizer que é um prazer recebê-la para essa entrevista no FAROL e queria começar com você contando um pouco da história da sua vida e sobre a relação com Serra Talhada.

Roberta Aureliano: É um prazer falar com vocês desse blog que está ai informando tanto as pessoas de Serra Talhada e as pessoas de Pernambuco sobre os que trabalham em prol da cultura não só Pernambucana, mas da cultura do nosso Brasil. Parabéns a vocês por essa iniciativa. Então, eu comecei na arte aos oito anos de idade, mas eu vou voltar um pouquinho no tempo para poder explicar a minha relação com Serra Talhada. Eu nasci em Maceió e meu pai era funcionário da rede ferroviária, por conta disso ele vivia sendo transferido de cidades. De Maceió ele foi transferido para Serra Talhada.

Quando ele foi transferido eu estava para completar de um ano para dois anos de idade. Eu vim para cá muito pequena e fiquei dos dois anos até os sete anos. Então, a minha infância foi toda aqui, respirando esse ar cangaceiro, esse ar que só Serra Talhada tem. Esse calor que não é só verbalmente falando, mas é o calor do povo de Serra Talhada. E vivendo todas as manifestações artísticas, porque meu pai também era artista, e respirando isso, vivenciando as atividades que ele, juntamente com Domá, já produzia na época em que eu era criança, não tinha como eu não estar inserida, hoje, no mundo da arte. Porque eu nasci dentro disso.

Veja também:   Mais um meio de comunicação de Hong Kong fecha e jornalistas temem

Meu pai, Ronaldo Aureliano, ele era artista também. Era ator, era autor, escritor de teatro e escultor. Inclusive, aqui em Serra Talhada ainda há uma pequena demonstração de um parque de esculturas que ele deixou na estação, que hoje é a Estação do Forró. Ele utilizava o material que era considerado lixo da rede ferroviária, para fazer as esculturas dele. Então, a minha vida na arte começou a partir do meu pai, dessa ligação dele com a arte. Aos 8 anos, já morando em Alagoas novamente, ele foi transferido e fomos para Arapiraca, lá foi a minha primeira apresentação, foi o primeiro momento em que eu entrei em um palco.

O palco era o quintal da minha casa, reunimos todas as crianças da vizinhança e dissemos: ‘vamos fazer uma peça? Vamos!’. Meu pai nos reuniu, dirigiu a gente e fazíamos os espetáculos todos os domingos, cobrando na época vinte centavos por pessoa para entrar, no final, quando a gente rachava dava quase um real para cada ator. Ou seja, já dava o lanche. E foi assim que a minha vida começou, desde esse primeiro momento no quinta de casa até hoje.

FAROL: Roberta, quais foram os momentos mais marcantes da sua carreira, primeiramente no teatro, já que você demonstrou em sua fala que começou por ele?

R.A.: Esse momento, que foi o momento inicial, o quintal da minha casa é um dos momentos mais marcantes, por ser o início e pela verdade que a gente, mesmo brincando utilizava. Era uma brincadeira, mas era uma brincadeira séria. Inclusive, a gente já era até remunerado. Já recebíamos dinheiro. Mas, fora esse momento, um dos momentos mais especiais, na minha carreira como atriz, foi onde eu participei de um espetáculo na escola técnica de artes, em 2012, no espetáculo Doroteia, de Nelson Rodrigues. Interpretando uma personagem que para mim foi um dos maiores desafios.

A personagem era a dona Flávia, e quem conhece a obra de Nelson Rodrigues sabe o peso que a personagem possui e que para mim foi uma experiência muito marcante. Paralelo a esse projeto, o espetáculo Doroteia, obviamente, O Massacre de Angico – A morte de Lampião, aqui em Serra Talhada. Eu recebi o convite para atuar nesse papel de uma personagem que é tão especial dentro da história do cangaço, que é a Maria Bonita.

Veja também:   Boninho defende Juliette sobre bronca por causa de maquiagem

Então, esses três momentos da minha vida, no teatro, são os que para mim marcaram bastante e que até hoje me marcam. Principalmente, O Massacre porque eu ainda estou em atuação nele. É um espetáculo anualmente apresentado, então, eu vou entrar para o quarto ano nesse espetáculo e para mim é satisfatório demais.

IMG-20150513-WA0083[1]

FAROL: E na música, quando foi que a sua vida de artista começou a adentrar pela música?

 R.A.: Dentro do teatro. Dentro do teatro foi onde eu descobri que podia cantar e em algumas apresentações dentro da faculdade, porque eu sou formada em Artes Cênicas pela Universidade Federal de Alagoas, e dentro das aulas práticas de teatro utilizávamos muito do próprio teatro para representar alguns trabalhos, seminários e tal. Nisso, acabava a que a gente utilizava muito da música para justamente dinamizar e poder utilizar várias linguagens dentro das apresentações. A partir daí eu fui desenvolvendo uma intimidade com a música.

Para mim até então era estranho, eu me sentia muito à vontade em um espetáculo com uma plateia grande de 200, 300 pessoas. Mas, morria de vergonha de pegar um microfone se estivessem duas ou três pessoas olhando para mim. E a partir do momento que o microfone não passou a ser mais um vilão na minha história, foi quando eu recebi o convite para interpretar uma música de autoria de Mestre Ozório, que foi um mestre de reisado de Viçosa.

Que foi uma das cidades que eu morei e que como eu passei minha infância em Serra Talhada, a minha adolescência foi em Viçosa. Lá foi onde eu adquiri a minha experiência na música, que lá foi onde eu comecei a cantar. Então, o meu primeiro momento na música foi nessa gravação da música que se chama Eu vou chorando, e na gravação do CD Viçosa do nosso Brasil. Em um gravação, esse foi o meu ponta pé inicial para a música.

FAROL: Como surgiu o projeto Fulô de Maracujá?

 R.A.: Na verdade, eu comecei a fazer algumas apresentações em Viçosa, participei de uma banda de pop rock chamada Uzina a Vapor. Cantei no ministério de uma igreja, é engraçado, eu sei, mas cantei no ministério da igreja. Inclusive, foi muito bom, é uma escola muito boa, porque as igrejas oferecem uma estrutura que, às vezes, você sozinho se você não tem um apoio ou uma situação financeira que lhe seja favorável, a igreja lhe oferece. Como acompanhamento de fonoaudiólogo, aulas de canto, aulas de instrumentos. Então, me ajudou bastante, por mais que seja engraçado, mas me ajudou.

Veja também:   Brasil sobe para 8ª posição em ranking mundial de vacinação

Eu fui passando por esses caminhos do pop rock, da música de igreja, de músicas dentro do teatro, mas o que me chamou a atenção para a música popular foi, justamente, a cultura que Viçosa tem. É uma cidade que é conhecida como a Atenas Alagoana, como a Princesa das Matas e o berço da cultura alagoana. O reisado, bandas de pífano, guerreiro são muito presentes na cultura de Viçosa e essas manifestações artísticas têm muita musicalidade dentro do coco, do próprio reisado e do próprio guerreiro. Essa coisa da zabumba, da sanfona e o triângulo me consumiu, me abduziu essa musicalidade.

Foi quando necessitando trabalhar, na verdade, eu pensei em juntar alguns amigos e a gente criar um repertório voltado para a linha do forró e trabalhar no período do São João, isso há alguns anos atrás. Nessa brincadeira que a gente fez, ganhou dinheiro e deu certo. E a gente disse: ‘precisamos dar um nome ao grupo, porque as pessoas estão chamando e a gente precisa nomear para que as pessoas faça o convite ao grupo’. Quando surgiu a Fulô de Maracujá e eu aderi e não larguei até hoje.

IMG_20150513_230218

FAROL: Queríamos que você comentasse e desse mais detalhes sobre o lançamento desse novo CD.

 R.A.: Esse novo CD, Nóis Canta pra Tu Dançá, ele pode ser considerado o primeiro trabalho, por mais que seja o terceiro, mas ele para mim é o primeiro. Porque ele foi pensado antes de ser feito, ele não foi algo que a gente disse: ‘precisa gravar, precisa fazer’. A gente preferiu escolher, compor, procurar parceiros que componham, porque eu não sou compositora, não tenho talento nenhum para compor. Já tentei, mas realmente não tenho talento nenhum. Mas vamos procurar parceiros e ver quem se interesse em nos presentear, vimos e fizemos uma pesquisa em conjunto. Por mais que eu seja à frente da banda, mas eu sempre procuro trabalhar em conjunto.

Eu tenho um diretor musical, que é o Alexandre Rodas, ele me assessora e me ajuda bastante. E a gente pensou e fez com todo cuidado, gravamos com calma o CD. Não foi naquela agonia que a gente fez os outros. São 14 faixas, quatro autorais e está bem produzido. Está pensado com uma musicalidade diferente, o forró pé-de-serra autêntico, mas com a nossa cara, com a nossa característica. Para quem ouvir, que eu espero que daqui a pouco já esteja todo mundo ouvindo e curtindo vai sentir isso que eu estou dizendo, porque ele foi feito com emoção. Foi feito com vontade que as pessoas escutem, dancem e cantem.

 

CONFIRA UM TRECHO DO SHOW DA FULÔ DE MARACUJÁ