Publicado às 04h03 deste sábado (12)

Por João Novaes, Engenheiro Civil e poeta serra-talhadense

Nos últimos dias, estamos assistindo e testemunhando um embate, totalmente desnecessário, entre irmãos brasileiros, logo no Brasil um país tão peculiar, isso vem acontecer!

No clássico livro: Os Sertões, o escritor Euclides da Cunha, afirma que o sertanejo é, antes de tudo, um forte; e é mesmo, pois somente a necessidade de criar a família numa região castigada por longas estiagens, o que significa dizer: onde predomina a escassez do mais precioso líquido indisponível à vida, a água, é que provoca o êxodo de cidadãos em sua própria pátria.

No entanto, neste texto, quero destacar que nessa região de homens marcados pelo sofrimento, também nascem poetas e tem mais, poetas que sabem agradecer o carinho, a afetividade do povo do sul e sudeste brasileiro. Gilberto Gil, na canção “Aquele abraço”, diz:

“O Rio de Janeiro continua lindo/O Rio de Janeiro, Fevereiro e Março/Alô, alô Realengo/Aquele abraço/Alô, torcida do Flamengo/Aquele abraço”.

Tom Zé, quando participou do festival de MPB da TV Record em 68, lançou a composição:

“São Paulo, mon amour”, referindo-se à forte influência dos asiáticos e europeus em São Paulo: “São oito milhões de habitantes/De todo canto e nação/Que se agridem cortesmente/Correndo a todo vapor/E amando com todo ódio/Se odeiam com todo amor/São oito milhões de habitantes/Aglomerada solidão/Por mil chaminés e carros/Gaseados à restação/Porém com todo defeito/Te carrego no meu peito/São, São Paulo, meu amor/ São, São Paulo, mon amour”.

Enquanto Caetano Veloso fazia a mais pura e singela homenagem, também a São Paulo, na música “Sampa”: “Alguma coisa acontece no meu coração/Que só quando cruzo a Ipiranga com a Av. São João/(…) É que Narciso acha feio o que não é espelho…” e em outra parte, canta: “Porque és o avesso do avesso do avesso do avesso/Do povo  oprimido nas filas, nas vilas, favelas/Da força da grana que ergue e destrói coisas belas/Da feia fumaça que sobe, apagando as estrelas…”.

Já Luiz Gonzaga, também, fez o seu agradecimento e cantou: “ … E o Rio abrindo os braços/me estendeu a sua mão/Êh! Rio de Janeiro/Do meu São Sebastião/Pare o samba três minutos pra escutar o meu baião”.

De modo, que só faltava mesmo, era John Lennon ser nordestino, pois o mestre John ao contrário, provou o seu engrandecimento como ser humano quando na música “Imagine”, cantou: “Imagine que ninguém possui nada/Imagine que não exista fronteiras entre países/Imagine que existe fraternidade entre os homens”.

Pois bem, fico agora a imaginar: e se não houvesse fronteiras de forma alguma, principalmente fronteiras raciais.