O assassinato do ex-vereador Isivaldo Conrado (PSB), ocorrido ontem (9), em Serra Talhada, chocou a cidade mas poderia ser evitado. Agora, o crime vem acompanhado de forte repercussão política. Em particular, devido ao posicionamento omisso do Governo do Estado frente às súplicas por proteção pessoal requeridas pelo ex-parlamentar.

Em 2009, Isivaldo havia sofrido uma segunda emboscada, na estrada vicinal que liga Serra Talhada ao distrito de Bernardo Vieira. No mesmo dia do atentado, bastante apreensivo, ele utilizou o plenário da Câmara de Vereadores do município para solicitar proteção. Na ocasião, estava o Tenente-coronel José Lopes de Souza, que ouviu tudo de perto. “Acabei de sofrer um segundo atentado, e graças a Deus escapei. Aproveito a presença das autoridades e do comandante da Polícia Militar de Pernambuco (PMPE) no sentido de pedir garantia de proteção para minha vida”, suplicou o ex-vereador na ocasião, de forma ofegante.

No dia seguinte, a própria Câmara de Vereadores protocolou um requerimento e enviou ao governador Eduardo Campos, em forma de apoio a Isivaldo Conrado. Desesperado, o ex-vereador foi mais além. Com apoio de lideranças do PSB de Serra Talhada, ele chegou a comunicar o fato ao próprio governador. O tempo passou sem trazer consigo nenhuma iniciativa concreta do governo. E Isivaldo, frente ao perigo de assassinato, viu-se sozinho, sem nenhuma segurança.

REPERCUSSÃO

O assassinato do ex-vereador foi o principal assunto da sessão ordinária realizada ontem (9), no Plenário Manoel Andrelino Nogueira. A Casa aprovou uma moção de pesar à morte de Isivaldo Conrado. Nesta terça-feira (10) realiza uma sessão solene em sua memória. Durante a sessão de ontem, o petista Zé Pereira relembrou a saga do ex-parlamentar alertando as autoridades sobre as ameaças que vinha sofrendo. “Ele (Isivaldo) esteve neste plenário, nas presenças do comandante da  Polícia Militar e do vice-governador, e pediu garantias de vida. Disseram apenas que iriam averiguar o caso e o carro atingido pelas balas. Mas nada foi feito”, lamentou Pereira.

O parlamentar aproveitou ainda para cobrar responsabilidades do governador Eduardo Campos. “O ex-vereador era do mesmo partido do governador.  Ele (Eduardo) não teve condições de garantir a vida de um companheiro de partido. Se eu fosse filiado ao PSB, estaria envergonhado e pediria a minha desfiliação”, criticou o petista. Já o vereador republicano, Paulo Melo, traçou uma  retrospectiva da vida política de Serra Talhada e lamentou o episódio. “Tivemos de assistir a um ex-parlamentar pedir pela sua vida e nada ter sido feito. Nunca havíamos visto isso na política da nossa terra”, analisou Melo.

PAI DOS POBRES

Isivaldo Conrado de Lorena e Sá era do signo de câncer e iria fazer 53 anos em julho. Tinha a política nas veias. Filho do ex-vereador Custódio Conrado e “afilhado” político do ex-prefeito Luiz Lorena, chegou a exercer o cargo de Presidente da Câmara de Serra Talhada. Também foi Secretário de Agricultura no primeiro governo de Carlos Evandro (PR) e lutava recentemente para retornar à Câmara, via aprovação da famosa PEC dos Suplentes.

Enquanto vereador, Isivaldo utilizava a tribuna da Casa de forma comedida. Conseguia cultivar o respeito dos colegas parlamentares honrando compromissos assumidos.  “Um homem tem que ter palavra. Sou do tempo do fio de bigode”, costumava repetir, sempre buscando acordos positivos com os pares. De prática assistencialista, costumava ser um pouco de tudo no distrito de Bernardo Vieira, sua principal base eleitoral. Carregava doentes, dava remédios, cestas básicas e outros favores. Segundo o ex-vereador Pessival Gomes (PR), relembrando um jargão histórico do tempo de Getúlio Vargas, “ele era considerado o pai dos pobres em Bernardo Vieira. O distrito perdeu seu pai”.